quarta-feira, 29 de abril de 2020

Afinal, houve mesmo excesso de mortalidade por outras patologias durante a pandemia de Covid-19!


A mentira tem sempre perna curta.. e um rosto
Na postagem do dia 14 de Abril, Em Portugal 2020, só morre gente com a Covid-19, tínhamos alertado para o mais que certo aumento de mortalidade por outras patologias devido ao facto do medo que o Governo e os órgãos de informação tinham incutido nos portugueses, fazendo com que estes, assustados, não ousassem sequer recorrer aos serviços do SNS. Medo de ir às urgências, mas igualmente abandono de consultas e exames, e adiamento de consultas e cirurgias, já agendados, por parte das administrações hospitalares a mando do governo com o pretexto do combate à Covid-19. O número de mortes a mais por outras patologias, entre 1 de Março e 22 de Abril, foi 3 a 5 vezes superior ao provocado pela pandemia, segundo estudo levado a cabo pelo Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, e agora tornado público.
Mas os números não ficarão por aqui até ao fim do ano. E esta é prova mais que irrefutável de que:
1. o Governo andou durante este tempo todo, e continua, a mentir aos portugueses e que o medo (vírus ainda mais perigoso que o SARS-Cov-02) e o anti-democrático estado de emergência imposto foram dois instrumentos com um só objectivo: impedir o colapso imediato do SNS e decretar medidas de austeridade anti-populares que em outras circunstâncias seriam de imediato rejeitadas com eventual violência;
2. o Governo pouco ou nada se preocupa com a Saúde (Pública) dos portugueses.
Estudo com assinatura do Professor António Vaz Carneiro em destaque na imprensa:
Excesso de mortalidade ocorrido entre 1 de março e 22 de abril foi 3 a 5 vezes superior ao explicado pelas mortes por COVID-19 reportadas oficialmente”
«Foi divulgado esta terça-feira, 28 de Abril, na “Acta Médica Portuguesa” um estudo que contou com a colaboração do Professor da FMUL e Presidente do Conselho Científico do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, António Vaz Carneiro, que falou ao Expresso e à Rádio Observador sobre a investigação.
Com a designação de “Estimativa do Excesso de Mortalidade Durante a Pandemia COVID-19: Dados Preliminares Portugueses”, a investigação dá conta de um aumento anormal de mortes que a pandemia de Covid-19 não explica. A conclusão é a de que o “excesso de mortalidade ocorrido entre 1 de março e 22 de abril foi 3 a 5 vezes superior ao explicado pelas mortes por COVID-19 reportadas oficialmente”, pode ler-se no relatório.
Este número, que é cinco vezes superior ao da mortalidade atribuída à covid-19 e ultrapassa largamente o dos anos anteriores, pode demonstrar até que ponto, enquanto o SNS se preparava para combater a pandemia, outras patologias ficaram arredadas”, cita o jornal Expresso na publicação da entrevista ao Professor António Vaz Carneiro, e também especialista em Medicina Interna, sobre as conclusões do estudo do qual é coautor. “A causa que achamos mais plausível é ter sido uma baixa importante de acesso aos cuidados de saúde: doentes com quadros agudos e crónicos agudizados. Suportando estas hipóteses estão as circunstâncias de os doentes mais novos, com menos de 55 anos, não terem tido aumento da sua mortalidade, e de se ter verificado uma baixa efetiva de exames auxiliares de diagnóstico e de consultas”, adiantou o Professor, explicando que para o estudo em causa foram consultadas as bases de dados públicas disponíveis para análise de mortalidades Covid e não-Covid. “Alertamos que há alguma incerteza nos dados que utilizámos, como sempre acontece quando queremos analisar um fenómeno tão dinâmico como esta pandemia. Mas há dados que confirmam a nossa análise”, realçou o Professor na entrevista ao Expresso.
O estudo, que teve como objetivo analisar e considerar outros critérios para estimar o excesso de mortalidade durante a pandemia de Covid-19, foi também notícia no Observador.
Em entrevista à Rádio Observador, António Vaz Carneiro adiantou também explicações para o aumento significativo da mortalidade em doentes não Covid-19, realçando a situação de “doenças crónicas que se agudizaram” e aumentaram a taxa de mortalidade. Destacou ainda que, entre março e abril deste ano, foram registadas menos 122 mil idas diárias às urgências, “o que significa que muitas doenças de risco não estão a ser tratadas devidamente”, refere a publicação.
António Vaz Carneiro considera que os dados agora tornados públicos devem ser tidos em conta para melhorias na gestão do Serviço Nacional de Saúde em período de pandemia, e deixa ainda o alerta de que é preciso “convencer” os portugueses a “perderem o medo de ir aos hospitais”, em declarações à Rádio Observador.
Pode, ainda, consultar o estudo publicado pela revista científica da Ordem dos Médicos aqui

terça-feira, 28 de abril de 2020

A Luta Contra a Covid-19 e a Situação do SNS e dos seus Profissionais


in facebook de António Gaspar
A SITUAÇÃO DO SNS E DOS SEUS PROFISSIONAIS, A LUTA CONTRA O “COVID 19”, A NECESSIDADE RESOLVER OS GRAVES PROBLEMAS QUE TEM CAUSADO A DESTRUIÇÃO DO SNS
Eugénio Rosa
«Numa altura em que se pede tanto ao SNS e aos seus profissionais é certamente o momento adequado para analisar, mais uma vez, a forma como estes trabalhadores e também o SNS têm sido tratados ao longo dos últimos anos pelos sucessivos governos, como os seus principais problemas têm sido ignorados ou mesmo desprezados. E isto até para que se olhe, num momento em que todos os portugueses lhe devem tanto, para a importância que têm para o país, e que se resolvam os principais problemas na área da saúde que têm sido continuamente adiados ao longo dos anos o que tem causado a degradação do SNS e a insatisfação profunda dos seus profissionais, e contribuído para a explosão do negócio privado da saúde em Portugal. Seria certamente a melhor e maior homenagem e reconhecimento que se poderia prestar aos profissionais de saúde pelo seu sacrifício, dedicação e competência resolver os seus legítimos problemas continuamente ignorados e adiados pois corre-se o risco, como muitas vezes sucede, que os heróis de hoje são amanhã esquecidos ou mesmo ignorados. 
(...)
OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE FORAM DOS MAIS SACRIFICADOS PELA DITADURA DO DÉFICE E PARA TER SALDO POSITIVO. É URGENTE ACABAR COM O SUBFINANCIAMENTO DO SNS COMO PROVOU A CRISE
Os profissionais de saúde foram um dos grupos mais sacrificados pela ditadura do défice e pelo desejo Costa e Centeno de brilharem em Bruxelas como revelam os dados do quadro 2 A despesa bruta (ilíquida) com pessoal do SNS em 2018 foi de 4.065 milhões € a preços correntes, portanto antes de deduzir o enorme aumento de IRS e dos descontos para a ADSE, e também antes de deduzir o efeito corrosivo do aumento de preços, sendo pouco superior à despesa de 2010 (3.938,8 milhões €), ou seja, em 8 anos a despesa nominal com profissionais do SNS aumentou apenas em 126,3 milhões € (3,2%). No entanto, este valor não tem em conta nem o aumento de trabalhadores registado entre 2010 e 2018 , nem aquilo que o Estado “poupou “ à custa dos profissionais de saúde com o aumento enorme da taxa de IRS que se verificou entre 2010 e 2018, nem com o facto do Orçamento Estado deixar de financiar a ADSE, passando esta a ser financiada pelos trabalhadores da Função Pública. (...)
Entre 2010 e 2019, a despesa nominal com os profissionais de saúde do SNS aumentou em 11%, mas se retiramos aquilo que o Estado recupera através do IRS, o aumento é apenas de 7,1%. E se, para além disso, dividirmos pelo aumento de trabalhadores que entraram neste período (+12.157) a subida da despesa do Estado com cada profissional de saúde do SNS foi apenas de 1,3%. Se retiramos o IRS que reverte para o Estado então o custo mensal de uma trabalhador para o Estado até diminuiu, entre 2010 e 2019, em -2,2% a preços correntes, isto é , sem deduzir o efeito corrosivo do aumento de preços. Um contributo para a redução do défice à custa dos profissionais da saúde. Se deduzirmos o efeito do aumento de preços (10,33%) a quebra real na despesa por profissional de saúde é de -11,3%. Mas despesa por trabalhador não é igual à remuneração por trabalhador.
Consideração a remuneração média ilíquida que o Estado paga por profissional de saúde, sobre a qual é depois deduzida a taxa de desconto para ADSE e para o IRS, e se deduzirmos o efeito corrosivo do aumento de preços conclui-se que, entre 2010 e 2019, a remuneração liquida média a preços de 2010 por profissional de saúde, ou seja, aquela que se obtém depois de deduzir o IRS, o desconto para a ADSE e o efeito do aumento de preços, passou, entre 2010 e 2019, de 1.519€ para 1.300€, ou seja, sofreu uma redução de 11,3%. Cada profissional de saúde custa cada vez menos ao Estado (1.876€ em 2010 e apenas 1.665€ em 2019) , e a sua remuneração liquida em termos reais (em poder de compra) em 2019 é inferior em 14,4% à de 2010 (1.519€ em 2010 e apenas 1300€ em 2019), o que determina a degradação das suas condições de vida, o que tem servido para promover o negócio privado saúde, já que os grandes grupos de saúde tem aproveitado essa situação para atrair os profissionais de saúde e para explorar a maioria deles.
Os sucessivos governos com a sua política de sacrificar os profissionais de saúde tem ajudado fortemente os grandes grupos privados da saúde e contribuído para explosão do negócio privado da saúde em Portugal. É preciso que se tenha a coragem de afirmar com clareza isso para que isto mude. Se juntarmos a tudo isto, a destruição das carreiras dos profissionais de saúde e a negociação individual de remunerações, o que transformou o SNS numa autêntica selva em que os direitos dos profissionais de saúde não são respeitados nem valorizados, e em que se criou uma insegurança generalizada, ficase bem com o retrato verdadeiro da situação atual do SNS. É altura, até porque as ameaças da continuação desta crise de saúde publica assim como o aparecimento de outras no futuro são reais, de repensar e valorizar a atividade destes profissionais e do SNS. Não basta dizer que eles são heróis a enfrentar esta grave crise de saúde pública, arriscando a sua própria vida, e felicitá-los por isso, batendo muitas palmas e fazendo bonitos discursos e, logo no dia seguinte, esquecer tudo o que fizeram. O que é fundamental é reconhecer em atos o seu esforço, dedicação e competência, e resolver os graves problemas que o SNS e eles enfrentam, e cuja solução tem sido continuamente adiada.
PORTUGAL É UM DOS PAÍSES QUE MENOS INVESTE POR HABITANTE NA SAÚDE SEGUNDO A OCDE
Os dois gráficos (ver artigo original) que a seguir se apresentam foram retirados do “Health at a Glance 2019” da OCDE, e mostram o baixo investimento em saúde em Portugal e o muito que o SNS tem ainda a fazer Em 2018, o gasto publico e privado, portanto a soma dos dois, em saúde por habitante em Portugal foi apenas 2.861 dólares PPD por ano (PPD significa que se anulou o efeito da diferença de preços entre países), quando a média nos países da OCDE era de 3.994 dólares PPD/ano, ou seja, mais 1.133 dólares (+39,6%) por ano. E a percentagem da despesa total com saúde que é pública investida na saúde dos portugueses era muito inferior à de outros países...
Em Portugal, a despesa pública (do Estado) representa apenas 66% da despesa total com saúde (34% da despesa é suportada diretamente pelas famílias no nosso país, para além dos impostos que pagam para o SNS) quando a média nos países da OCDE é 71% (só 29% é das famílias). Fazendo os cálculos necessários, utilizando para isso os dados do gráfico 2 e 3, conclui-se que a despesa pública por habitante em Portugal era apenas de 1.888 dólares PPD por ano, quando a média nos países da OCDE era de 2.836 dólares PPP por ano, ou seja, mais 50,2% do que no nosso país (na Alemanha era 4.669 dólares PPD por habitante por ano). É urgente que o Estado invista muito mais em saúde em Portugal para se poder ter um SNS que corresponda às necessidades do país e que satisfaça as legitimas reivindicações dos profissionais de saúde (remunerações, carreiras e condições de trabalho dignas, acabando com a promiscuidade público-privado que está a destruir o SNS e a alimentar os grupos privados de saúde).
Ainda ligado a tudo isto, interessa recordar que Portugal é um dos países com uma das maiores percentagens de habitantes a considerar que a sua saúde é má ou muito má como mostra o gráfico 4 da publicação da OCDE “HEALTH AT A GLANCE 2019” o que prova que o SNS ainda tem muito a fazer Em 2017, segundo a OCDE, 15,3% dos portugueses consideravam que a sua saúde era má ou muito má, quando a média dos países da OCDE era apenas 8,7%. Isto devia fazer pensar os responsáveis políticos e obrigá-los a encarar de frente os problemas graves da saúde em Portugal, e resolverem os grandes problemas do SNS (subfinanciamento crónico, enorme endividamento, má gestão, ineficiências e ausência de responsabilização na aplicação dos recursos disponibilizados pelo Estado) e dos profissionais (ausência de remunerações, de carreiras e de condições de trabalho dignas). Basta de palavras, de grandes e belas declarações sobre a defesa do SNS e dos seus profissionais, o que é necessário agora e o que se espera são atos e medidas que resolvam verdadeiramente os graves problemas que enfrenta o SNS e os seus profissionais, e cuja resolução é continuamente adiada.
É preciso preparar o SNS para enfrentar não só a crise de saúde publica causada pelo “coronavírus” mas também muitas outras que surgirão com certeza no futuro assim como para disponibilizar melhores de serviços de saúde a todos portugueses que se degradaram muito nos últimos anos, de que é prova milhares e milhares de consultas, de cirurgias, etc. com atrasos enormes, centenas de camas nos corredores dos hospitais por falta de quartos, fecho de especialidades em hospitais por faltar profissionais, condições de trabalho horríveis, causado pela ditadura do défice.
É preciso que, passada a crise, não se esqueça novamente o SNS e a dedicação, sacrifício e competência dos seus profissionais, como muitas vezes acontece.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Silêncios cúmplices em tempo de pandemia


por A. Garcia Pereira

«Há várias questões com que, enquanto cidadãos activos e conscientes, nos deveríamos preocupar e que deveriam estar a ser debatidas amplamente, como se espera que suceda numa sociedade que se diz democrática. A verdade, porém, é que, e por formas bem mais sofisticadas e subtis do que os métodos do velho “lápis azul” da censura, não o estão a ser. E, todavia, elas estão lá, não desaparecem e antes influenciam, perturbam e até ameaçam as nossas vidas muito mais do que poderíamos pensar.
Vejamos:
Uma governante como a Ministra da Saúde, que até hoje foi incapaz de dirigir uma só palavra de afecto e de amparo aos profissionais do sector da Saúde, em particular aos infectados na linha da frente do combate à COVID-19, e que é a responsável máxima por um alegado erro informático que impede o pagamento este mês do (miserável) aumento dos salários desses mesmos profissionais enquanto todos os outros recebem, não deveria ser imediatamente demitida? Na verdade, se um profissional de Saúde, nesta ou em qualquer outra situação, por negligência ou incompetência, for autor de uma acção ou de uma omissão de que resultem para outrem, designadamente para um paciente, danos materiais e/ou morais, não está sujeito a responsabilidade disciplinar, cível e até criminal? Então, por que é que a Drª Marta Temido pode escapar incólume após mais esta sua ignomínia?
É ou não verdade que, ao longo do mês de Fevereiro, a OMS fez vários apelos (pelo menos quatro) para que os Estados tratassem de assegurar equipamentos de protecção suficientes, sobretudo para os profissionais da saúde, e de testar, testar o mais possível, e que o governo português só efectuou a primeira grande encomenda de material já bem em meados do mês de Março? Quantas vidas poderiam ter sido salvas – e bastava uma só! – se se tivessem logo efectuado, e com carácter de generalidade, testes da COVID-19 aos idosos que estão em lares (e são 100.000) e aos funcionários que aí trabalham (65.000)?
É ou não absolutamente inaceitável que, na terceira semana de Abril, perante a inércia das autoridades de Saúde, uma câmara municipal (a de Gaia, aliás, dirigida por um autarca socialista) em cujo concelho existe um lar com utentes e funcionários infectados com a COVID-19, se tenha visto obrigada, após cerca de duas semanas de falta de resposta, a mandar realizar, por iniciativa e a expensas suas, os testes a tais pessoas? Não teria sido mais correcto e mais verdadeiro a Directora-Geral da Saúde e a Ministra da Saúde terem logo no início reconhecido não haver máscaras e testes em número suficiente, em vez de terem procurado, durante semanas a fio, inventar justificações pseudo-científicas para desaconselhar o seu uso, para depois terem de se desmentir a si próprias?
Por outro lado, quais as medidas que até hoje foram decididas e adoptadas ao abrigo do estado de emergência que não poderiam ter sido adoptadas ao abrigo do estado de calamidade nacional decretado de acordo com a Lei de Bases da Protecção Civil? O que fez então correr o Presidente da República e o Governo para essa solução? Não é verdade que a suspensão do direito à greve e do direito constitucional de resistência são as únicas dessas medidas que, na verdade, não poderiam ser decretadas ao abrigo do estado de calamidade? E exactamente para que é que elas eram então necessárias? Por que razão praticamente desapareceram dos grandes órgãos de comunicação de massas, com as televisões à cabeça, os pontos de vista seriamente críticos do estado de emergência? É aceitável que, embora afirmando formalmente a liberdade de expressão, em nome do combate à pandemia e sob a capa da “responsabilidade” e do “não criar divisões”, ou, pior ainda, do estafado argumento da “necessidade de estabilidade política”, o unanimismo oficial imponha a supressão prática dessa mesma liberdade?
Por que é que o governo do Sr. Costa, tão lesto a decretar a requisição civil na greve dos estivadores do porto de Lisboa – não obstante as sucessivas e bárbaras ilegalidades praticadas pelos patrões da estiva – não decretou essa mesma medida da requisição civil relativamente aos serviços dos SAMS cujo encerramento já dura há cerca de um mês, deixando mais de 90 mil beneficiários sem acompanhamento médico? Será por o Presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, titular dos SAMS, e Presidente da Comissão Executiva destes, ser um conhecido deputado do PS?

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Eles não aprendem


Carlos Branco

«A reabilitação tardia do Hospital Militar de Belém transporta-nos para o comportamento displicente das autoridades relativamente ao emprego das Forças Armadas na crise que vivemos.
No dia 7 de abril teve lugar uma audição do Ministro da Defesa Nacional (MDN) na Comissão Parlamentar de Defesa, cujo tema geral se prendeu com a participação das Forças Armadas no combate à Covid-19, na qual se insere a reabilitação do defunto Hospital Militar de Belém (HMB), especializado em doenças infectocontagiosas, desativado em 2012. Escolhemos esse tema para esta reflexão.
Devido à pandemia causada pela Covid-19, foi decidido reativar o HMB (parcialmente) e transformá-lo num Centro de Apoio Militar Covid-19. Para tal foram mobilizados 130 trabalhadores que operaram num regime de 24/24. O MDN anunciou que o hospital entraria em funcionamento no dia 13, sem indicar o mês. Provavelmente referia-se ao mês de maio, esperando ajuda divina.
O MDN afirmou que “as obras que foram feitas não serão desperdiçadas, porque essa infraestrutura [HMB] têm de ter uma utilidade. Estava já previsto que essa estrutura fosse utilizada por uma parceria entre a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a Santa Casa da Misericórdia (SCM), como um centro de cuidados continuados em que antigos combatentes tivessem acesso privilegiado… Um ou dois andares serão dedicados aos antigos combatentes”. O MDN estaria seguramente a referir-se aos deficientes das Forças Armadas, quando disse “antigos combatentes”. A concretização de tal parceria entre a CML e a SCM anunciada pelo MDN levanta várias questões.
Qual a apetência da CML para gerir hospitais? Tornou-se à última hora uma Direção-Geral do Ministério da Saúde? O dinheiro público serve para reabilitar um hospital que vai ser cedido a privados? Iniciativa privada à custa de dinheiro dos contribuintes é seguramente uma atividade muito aliciante. Seria interessante o MDN divulgar os valores da reabilitação.
Interrogamo-nos sobre a vantagem de alienar um hospital público especializado numa valência deficitária (doenças infectocontagiosas), como ficou demonstrado na recente crise originada pela Covid-19, para o transformar numa infraestrutura hospitalar privada especializada em cuidados continuados, um campo em que a oferta pública também é manifestamente insuficiente.
Fará seguramente mais sentido aumentar a capacidade hospitalar do SNS para combater doenças infectocontagiosas, antes da crise reduzida apenas a Serviços num reduzido número de hospitais. Por algum motivo se teve de mandar reabrir o HMB e criar à pressa uma nova unidade de cuidados intensivos no hospital Pedro Hispano, entre outras medidas tomadas. Não abona nada insistir em políticas que provaram ser erradas.
Não parece avisado alienar bens públicos necessários ao país. É o que está em causa na proposta do MDN. Significa que, no futuro, terá de se recorrer ao privado para colmatar a ausência de capacidade pública entretanto alienada. Não foi o que se verificou desta vez, mas será o que acontecerá se o MDN concretizar o plano anunciado.
É de interesse nacional dar vida ao HMB. Reforçaria o SNS e dotaria o país de capacidades numa área médica que se tornou crítica, cuja importância tem tendência a aumentar. Nada desaconselha que fique na órbita das Forças Armadas, como esteve no passado. A decisão de o fechar foi errada, erro que por falta de visão estratégica as autoridades se preparam para repetir. Fazer obras no HMB para o reabrir por uns dias, e entregá-lo a privados, é um ato que fere o interesse nacional. Não vale a pena passar a vida a gemer contra os populismos e o crescimento do autoritarismo. Decisões desta natureza, que não passam despercebidas à população, são a centelha que alimenta essa fogueira.
A posição do MDN sobre o HMB traz-nos à memória desenvolvimentos desagradáveis relacionados com a sanha alienadora de imóveis do Estado utilizados por militares. Depois de alienados, os novos donos votaram-nos ao abandono, sem cumprirem os objetivos com que se tinham comprometido. O leque de casos é imenso. Recordamos as instalações da antiga Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, cujas instalações não ocupadas pela Câmara estão ao abandono. Situação semelhante ocorre com as instalações do antigo Instituto de Odivelas, que se encontram vandalizadas, e os seus azulejos de valor histórico incalculável roubados.
Relativamente ao HMB reina a indecisão. O projeto anunciado pelo ministro é o mais sombrio das hipóteses possíveis. Recorda-nos o projeto que visa transferir o Ministério da Defesa Nacional das atuais instalações na Avenida Ilha da Madeira para as antigas instalações do Regimento de Lanceiros.
A reabilitação tardia do HMB (na verdade não se sabe quando estará funcional) transporta-nos para o comportamento displicente das autoridades relativamente ao emprego das Forças Armadas na crise que vivemos. Não tiveram pejo de as utilizar contra trabalhadores, como fura-greves, para conduzir viaturas de empresas privadas, durante a greve dos motoristas de matérias perigosas, sem declaração do estado de emergência, apenas com base na requisição civil. Numa situação de catástrofe nacional, com o estado de emergência declarado, como aquela que vive o país, optaram por minimizar a sua intervenção.
Também se estranha os hospitais privados não terem sido objeto de requisição civil. Será que a crise em que nos encontramos não o justifica? Em vez de termos pacientes instalados em tendas, em situações precárias, teria sido melhor acomodá-los em hospitais que estiveram sempre vazios.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Os heróis de hoje eram as bestas de ontem



«A pandemia que estamos a viver em todo o mundo veio com um novo olhar sobre os profissionais que, de uma forma ou de outra, tentam salvar a sociedade de todos os males que ela trouxe consigo.
Os profissionais ligados à saúde são hoje presenteados com o título de “heróis de primeira linha”. Aqueles que, contra a natureza humana, não fogem do campo de batalha, mesmo que estejam a perder a batalha. Permanecem, voltam um dia atrás do outro, arriscando as próprias vidas e com isso arriscando, muitas vezes, as vidas dos seus em casa. Trabalham sem meios adequados, inventam e reinventam soluções, testam formas de combate à doença, dão o seu melhor para que a sociedade não perca a guerra.
A sociedade vê neles um exemplo de perseverança e esperança no futuro. Os hospitais são presenteados com material de apoio, por anónimos e conhecidos. Os profissionais de saúde vêem-se apoiados por toda a comunidade que os rodeia com os maiores e mais pequenos gestos de agradecimento, às vezes um simples e sincero “obrigado” tem todo o valor do mundo, dando-lhes o alento que necessitam para continuar em frente.
Mas não foi há muito tempo: os que hoje os chamam de “heróis”, apelidavam-nos de “bestas” por reivindicarem melhores condições de vida como o reconhecimento das suas especializações ao nível de ordenados, a exigência de um estatuto de carreira de desgaste rápido, um estatuto de carreira no caso dos enfermeiros e o descongelamento de carreiras. Os auxiliares de acção médica, esses, arriscam as suas vidas todos os dias por um ordenado mínimo, mas não desmobilizam, continuam a ajudar a salvar vidas contra todas as probabilidades, mesmo contra tudo o que a razoabilidade humana lhes exija. Trabalham sem subsídios de risco, trabalham com o medo nos corações, mas pelos olhos emanam esperança.
Os professores, num mês, inventaram e reinventaram a escola. Com espírito de missão, arregaçaram as mangas e traçaram novos caminhos na educação. O ensino à distância é hoje uma realidade em progressão. Sem orientações dignas dessa palavra, deram resposta aos seus alunos num primeiro momento. Com orientações vagas delinearam estratégias, organizaram-se, foram à procura de soluções e encontraram-nas, construíram-nas e chegam aos seus alunos.
O ministro da Educação chama-os de “heróis”. “Cada professor é um verdadeiro herói”, disse. O primeiro-ministro promete um novo choque tecnológico na educação no próximo ano lectivo.
Os professores não querem ser “heróis”, querem ser reconhecidos como profissionais que são. Os professores fizeram a revolução tecnológica na sociedade escolar a partir de suas casas e sem apoio governamental. Se os professores são “heróis” hoje, é porque sempre o foram, mas nem sempre foram tratados como tal. A sociedade nem sempre os tratou como hoje os trata.
Pouco antes de a pandemia começar, os professores eram agredidos, física e psicologicamente, quase diariamente, por alunos e familiares. Viram-lhes negado a contabilização, sem retroactividade, da contagem de todo o tempo perdido durante o congelamento, para efeitos de carreira, como aconteceu com as carreiras gerais da função pública. Viram situações de injusta ultrapassagem na carreira acontecer entre colegas, sem qualquer salvaguarda por parte da tutela. Viram construir, na sociedade, uma imagem de “bestas” que apenas queriam aumentos e mais dinheiro.
São estes profissionais que hoje dão o seu melhor, na primeira ou na segunda linha, para que nada falte aos nossos doentes e às nossas crianças, os mais frágeis da nossa sociedade. Ontem passaram, ou fizeram-nos passar por “bestas”, hoje chamam-nos de “heróis”. Todos são apenas dos melhores profissionais do mundo, tal como todos os outros que todos os dias se levantam de manhã para ir cumprir a missão que escolheram nas suas vidas.
Rui Gualdino Cardoso, Professor, colaborador do Blog DeAr Lindo

O Presidente da República, o enfermeiro Luís e o maior bolo-rei do mundo



«Nunca pensei escrever estas palavras, mas a verdade é que os acontecimentos dos últimos dias me forçaram a ceder à evidência. Presumo que, tal como milhares de portugueses, neguei até onde me foi possível. Ao longo dos últimos meses fui disfarçando o incómodo, fui fingindo que não via, fui ignorando a verborreia… Só não assobiei para o lado porque nunca aprendi a fazê-lo. Acontece que agora, depois do telefonema do Presidente da República ao meu colega Luís, não posso continuar a fugir à mais clara das verdades: a principal figura do Estado português sofre da síndrome do maior bolo-rei do mundo.

Numa escala numérica de provincianismo, telefonar ao enfermeiro português que cuidou de Boris Johnson é, pelo menos, um sólido e brilhante nove. A sério, qual é a diferença entre este telefonema do Presidente e o português que infla o peito para dizer que “eles até podem ter um ordenado mínimo três vezes superior ao nosso, mas nós é que organizámos a feijoada na ponte”? Pois… Muita vergonha alheia, não é?

E sabem o que é ainda mais ridículo nisto tudo? É que aposto a minha mão direita em como o meu colega dispensava bem este telefonema. Porque o que o Presidente da República parece não compreender é que o Luís se limitou a fazer o mesmo que milhares de enfermeiros, médicos, assistentes operacionais e técnicos de diagnóstico e terapêutica fazem todos os dias: cuidar, com profissionalismo e competência, de todos aqueles que necessitam. O Luís cuidou de Boris Johnson como teria cuidado de um idoso abandonado num lar, de uma prostituta encontrada na rua ou de um indigente. Porque para o Luís, e para todos os Luíses que se dedicam a cuidar dos outros, todas as vidas valem o mesmo. Não há doentes de primeira ou doentes de segunda.

O Luís passou o turno à cabeceira de Boris Johnson não porque era o primeiro-ministro inglês deitado numa cama, mas porque o Luís é, tal como eu e milhares de outros colegas, enfermeiro numa unidade de cuidados intensivos. E isso é o que nós fazemos. Estamos ao lado dos doentes, numa monitorização apertada, 24 horas por dia. Desde sempre. Desde muito antes da pandemia. E à cabeceira dos doentes continuaremos quando tudo isto acabar. Era importante que algum dos assessores de Belém informasse o nosso Presidente deste facto. Se calhar, assim, evitavam-se estas demonstrações de provincianismo bacoco.

E, telefonemas à parte, o Luís continua longe de casa, emigrado. É mais um dos 18 mil enfermeiros que deixaram Portugal nos últimos anos. É mais um dos que decidiu virar as costas às propostas milionárias dos 6,42 euros por hora que, no final do mês, depois de 140 horas de trabalho, rendem um brilhante salário de 899 euros. Talvez fosse com isto que o nosso Presidente da República se devesse mostrar preocupado, talvez esta fosse a melhor forma de elogiar o trabalho do Luís. Aposto que ele ficava bem mais agradecido do que com o telefonema que só mostra que, às vezes, somos mesmo um povo pequenino. Mesmo que tenhamos conseguido fazer o maior bolo-rei do mundo. Têm dúvidas? É consultar o Guinness.»

Carmen Garcia

terça-feira, 14 de abril de 2020

Em Portugal 2020, só morre gente com a Covid-19


goin viral - Zach
Depois de instalado o pânico entre os portugueses pelo continuo metralhar dos números de pessoas infectadas, mortas, internadas em cuidados intensivos e recuperadas pelas televisões e jornais, deixou de haver em Portugal mortes por outras doenças. Já ninguém morre pela gripe sazonal (influenza), nem por pneumonia, nem por AVC ou enfarte do miocárdio, parece que os doentes cardíacos deixaram de existir, assim como os doentes em geral desapareceram, ou mortes por outras razões que não seja pela acção do SARS-Cov-02. É a manipulação dos números e da opinião pública em escala total.
Contudo, em Portugal, época de Inverno 2018/19, morreram mais de 3 mil pessoas devido à gripe sazonal, e mais de 17 mil por doenças das vias respiratórias, das quais 6 mil são pneumonias, maioritariamente bacterianas e potencialmente tratáveis (na Europa morrem por mês, em média, mais de 11 mil pessoas). As doenças respiratórias são a terceira causa de morte dos portugueses, a seguir às doenças cardiovasculares (29%) e aos tumores malignos (25%), num universos de 113 051 óbitos registados em 2018; a faixa etária com mais mortes foi a dos 80-89 anos (43 120), o que representa quase o dobro de mortes se comparado com a faixa etária seguinte.
É mais a pandemia do medo que se faz sentir, porque o número de mortes pela Covid-19 (567) está muito longe de ultrapassar o número de mortes pela influenza (3000), assim como a maior incidência das mortes na faixa etária mais elevada segue a tendência geral.
Do mesmo modo que as mortes por outras causas desapareceram, os doentes com outra patologia estão a ser desprezados no SNS, o que tem dado azo a que os privados se tenham oferecido para o tratamento, quer consultas, quer cirurgias, e ousado querer apresentar a conta de doentes tratados com a Covid-19 que ocorreram pela sua iniciativa àqueles serviços cujo objectivo principal é o negócio. Agora, perante o descalabro e a tentativa de assalto aos dinheiros públicos, a ministra das mentiras sentiu a necessidade de vir dizer que a resposta aos doentes não-covid-19 “tem de começar nos próximos dias”, e que as contas que os privados estavam a fazer não seriam bem assim, embora a prática nos diga que tem sido sempre como os privados desejam.
Se os os outros doentes têm sido desprezados pelo SNS, como se depreende das palavras da ministra e da realidade mediatizada pelas televisões, que mais não são que reflexos do abandono de muitas consultas, cirurgias e outras terapias, por parte de doentes com outras patologias. Doentes que até têm medo de acorrer aos hospitais e centros de saúde (74%, segundo inquérito da Universidade Católica) ou deixaram mesmo de procurar cuidados médicos (26%), tal é o pânico disseminado pelas constantes intervenções televisivas por parte do governo e da DGS com intuitos mais alarmistas do que informativos, sempre acompanhados pelas reportagens mais que nauseabundas de repisar sempre no mesmo, durante as 24 horas do dia e nos 7 dias da semana. Com certeza que, em 2020, haverá mais mortes em Portugal: de idosos, devido à Covid-19 e a outras patologias... e de doentes mais novos, que irão morrer mais pelo abandono a que foram remetidos.
Não será preciso ser perito na matéria para se saber que os grupos etários mais vulneráveis, em particular os idosos, serão os mais atingidos por uma doença respiratória, ainda por cima, sem cura directa e imediata, sendo o tratamento apenas de suporte e paliativo. Até parece que esta pandemia veio de propósito para satisfazer os anseios daqueles que, ainda não há muito tempo, punham os mais jovens contra a “peste grisalha”, por improdutiva e peso morto para a sociedade, ou que se deveria recusar o tratamento aos doentes muito idosos, cujo prolongamento de vida por mais alguns (poucos) anos não valeria a despesa. Mas se, para uns, os idosos são um prejuízo, para outros, poderão ser uma excelente fonte de rendimento.
Agora, há gente que vê na morte prematura dos idosos um prejuízo, assim como o encargo depois de infectados pelo SARS-Cov-02. Chega a ser patético ouvir, todos os dias e a toda a hora, os responsáveis das Misericórdias reclamar que o Estado deve cuidar dos idosos infectados, em vez de os devolver às instituições da Misericórdia, onde estavam institucionalizados, por falta de meios e de condições. Esta gente, apesar de religiosa e invocar Deus quando lhe interessa, só vê cifrões e receia perder os clientes, é que lares com idosos infectados terão dificuldade em receber novos utentes, para além da despesa acrescida com os infectados. A Igreja Católica já faz lembrar os bancos na crise de 2008, os accionistas ficaram com os dividendos enquanto houve lucros, quando passou a haver prejuízos exigiram ao Governo para se chegar à frente e entrar com o dinheiro de todos nós. É que esta crise será bem maior que a anterior e a austeridade virá em dose proporcional para os do costume, os trabalhadores.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Os nossos heróis ganham 650 euros


"A Batalha" - Moro
«É a frase final numa reportagem televisiva. Um murro impetuoso no estômago. A jornalista questiona: "Não me leva a mal se lhe perguntar quanto é que ganha?". Patrícia Brilhante Dias, assistente operacional nos Cuidados Intensivos do Hospital Curry Cabral, em Lisboa, esboça um sorriso constrangido: "Tiro à volta de 640 euros, 650, anda à volta disso".
Um salário que anda à volta disto é tudo menos honroso para uma classe profissional que, em plena pandemia, foi justamente alcandorada pelos portugueses ao patamar da heroicidade. Um herói nacional não pode ganhar 650 euros. É indigno em qualquer contexto, é vergonhoso no atual.
Nem sempre os cidadãos entendem as reivindicações de médicos e de enfermeiros - não falo dos assistentes operacionais nem dos técnicos de diagnóstico e terapêutica, porque esses, sendo vitais, não têm ascendente mediático. E essa circunstância faz com que os debates sobre saúde nasçam e morram muitas vezes no regaço desse maniqueísmo. Mas a crueza dos números é inabalável: o nosso sistema de saúde é globalmente eficiente na resposta, mas terrivelmente mal pago.
O salário médio anual dos profissionais de saúde em Portugal ronda os 29 mil euros, o que nos atira para a cauda da Europa. Os gregos recebem 32 mil euros, os espanhóis 54 mil euros, os franceses 95 mil euros. Os norte-americanos quase multiplicam por dez as remunerações médias: 250 mil euros. O desequilíbrio na balança (esforço versus recompensa) pode, consequentemente, vir a revelar-se desastroso a médio e a longo prazo, em particular junto dos elementos mais frágeis da cadeia de responsabilidade.
Por isso, de pouco valem os vídeos-tributo nas redes sociais ou as palmas à varanda depois do jantar. Só homenageamos verdadeiramente os profissionais de saúde em Portugal pagando-lhes melhor. Decentemente. Aprendendo alguma coisa com o que eles valem hoje e com o que poderão valer no futuro. Melhorando as condições em que servem o país.
Vendo no seu exemplo de abnegação, a que não devemos dissociar a tremenda exposição ao risco num contexto de falta de material de proteção, um sinal categórico de que exorbitaram em larga medida o alcance das suas funções. Urge, por isso, converter o critério do nosso reconhecimento. A dívida de gratidão não chega. As palmas diluem-se no esquecimento. Depois disto, não podemos continuar a viver abaixo das nossas possibilidades.»
(por Pedro Ivo Carvalho Aqui)

terça-feira, 7 de abril de 2020

7 de Abril: Dia Mundial da Saúde - Em Defesa do SNS!


Protesta en tu ventana o balcón: los recortes y la sanidad matan! En defensa de la Sanidad Pública!


La Confederación Intersindical en defensa de la Sanidad Pública
¡DEFENDAMOS LA SANIDAD PÚBLICA!
LOS APLAUSOS QUE CADA DÍA DEDICAMOS AL PERSONAL SANITARIO DEBEN CONVERTIRSE EN POLÍTICAS PÚBLICAS QUE RECONOZCAN REALMENTE EL TRABAJO CON CONDICIONES LABORALES DIGNAS.
La crisis del Coronavirus está sirviendo para mostrar las debilidades y las fortalezas del sistema en el que vivimos. Del mismo modo se presentan los riesgos que conllevan determinadas políticas públicas que atacan los cimientos sobre los que se sostienen los Servicios Públicos.
La Confederación Intersindical quiere recordar que es la sanidad pública la que a día de hoy está haciendo frente con todos sus recursos, humanos y materiales, a la crisis sanitaria que recorre el estado español. Mientras, la sanidad privada está mostrando de manera clara sus propias limitaciones, y el conflicto permanente en el que se mueve al ser el beneficio económico su objetivo principal, lo mismo ocurre con todos los servicios públicos privatizados, concertados o externalizados.
Las y los profesionales del sector sanitario y todos aquellas personas que asisten su labor, como transporte sanitario, auxiliares y personal de limpieza no son héroes o heroínas, ni soldados, son profesionales que intentan hacer su trabajo lo mejor que pueden con muy pocos medios. El lenguaje bélico debe ser desterrado porque no es apropiado a una situación de crisis sanitaria, en la cual inciden los recortes del gasto sanitario que se aplicaron como receta para la crisis anterior, junto con los recortes en el resto de servicios públicos y el empeoramiento de las condiciones de trabajo tras las reformas laborales.
Nuestro Sistema Nacional de Salud nos está recordando hoy más que nunca que, en caso de crisis sanitaria, se sostiene sobre los principios de la solidaridad y el acceso universal y gratuito que garantiza un acceso igualitario a la atención sanitaria, independientemente del nivel socioeconómico.
A lo largo de estas semanas de confinamiento estamos viendo y siendo partícipes de las muestras de agradecimiento que todos los días a las 20:00h recibe el personal sanitario y se hace extensible a otras trabajadoras y trabajadores que demuestran la importancia de la labor que desempeñan.
La Confederación Intersindical reclama que estos aplausos se conviertan en un reconocimiento real del trabajo que desempeñan, con políticas públicas que realmente sirvan para promover unas condiciones laborales dignas y unos servicios públicos de calidad con los recursos suficientes para llevarlos a cabo. La mejor forma de reconocer y apoyar la labor que realizan las y los profesionales sanitarios que hoy están al frente de la batalla contra el Covid-19 es defender la sanidad pública siendo usuarias y usuarios del Sistema Público de Salud.


Crisis capitalista: guerra social en el cuerpo de la clase obrera
Por Angeles Maestro
Una de las expresiones más concluyentes de la validez del concepto de división de la sociedad en clases y de lucha de clases para explicar la esencia del funcionamiento social es su reflejo en la mortalidad de las poblaciones.
Una vez más la ideología judeocristiana yerra: ni a la hora de morir somos todos iguales. Si la desigualdad social es el rasgo definitorio de la vida en el capitalismo, lo es mucho más la muerte prematura en la clase obrera. Otra cosa es la asunción en la opinión pública, y sobre todo en la conciencia de clase, de la forma en que el capital – trabajo muerto –destruye la vitalidad de los trabajadores y trabajadoras en la reproducción de las relaciones sociales de explotación y opresión.



Daqui

domingo, 5 de abril de 2020

Covid-19: Uma Ministra e um Governo mentirosos



No último balanço, a Direção-Geral da Saúde (DGS) diz que há 11278 casos confirmados de infeção por coronavírus (e 295 mortos) dos quais 1332 são profissionais de saúde: 231 médicos infetados, 339 são enfermeiros e 762 são outros profissionais, na maioria, assistentes operacionais. No entanto, estes números só foram avançados depois da Ordem dos Enfermeiros (OE) ter colocado em causa os números anunciados pela Ministra da Saúde em conferência de imprensa. Segundo a OE, e há três dias, já haveria mais de 300 enfermeiros infetados e 1.750 em vigilância, com a seguinte distribuição: Porto com 104, seguido de Lisboa, com 62, Coimbra com 46 e Braga 26. Mas, na realidade, já haveria mais na altura, quanto mais agora!, na medida em que estes números foram o resultado de inquérito realizado a 18.306 enfermeiros, ou seja, a 40% do total dos enfermeiros que trabalham no SNS.
Foi também notícia a contratação pelo governo de cerca de 500 enfermeiros para “reforçar o combate da pandemia no Serviço Nacional de Saúde”, esclarece a Ministra, para assim, diz a imprensa, “responder às exigências do Sindicato de Todos os Enfermeiros Unidos (SITEU)”. Foi preciso surgir mais um sindicato (onde pára o SEP, para não dizer o Wally!?) a exigir a contratação de enfermeiros cuja falta já era mais do que gritante ainda muito antes do aparecimento da pandemia. Mas, atenção! A contratação é feita por um período de 4 meses, que poderá ser renovada ou não caso a pandemia se mantenha ou se desvaneça, e a um preço de 6,42 euros por hora, valor que já inclui o subsídio de refeição, razão pela qual não tem havido grande adesão por parte dos enfermeiros desempregados. O Governo, aproveita a ocasião de desgraça pública, para ter trabalho escravo, como vulgar patrão privado e explorador, e descartável na primeira oportunidade.
O Governo do senhor Costa e da Ministra incompetente e mentirosa têm feito tudo para não gastar dinheiro ou gastar o menos possível com o combate à doença Covid-19, tal como têm feito com o SNS até agora, seja com pessoal, seja com toda a espécie de material, desde máscaras, EPIs, a ventiladores. Em relação ao uso de máscara, quer pelo pessoal de saúde, quer por outros profissionais de prestação de socorro ou de segurança, foi sempre adiar até à última; e em relação às pessoas em geral, o Governo e a DGS, através dos seus responsáveis máximos, sempre foram peremptórios em desaconselhar o uso da máscara, nomeadamente em espaços públicos, porque nada prevenia e até seria contraproducente por dar uma falsa sensação de segurança.
Agora, e após alguma relutância, lá vão fornecendo o equipamento de protecção às pessoas que lidam com o combate à epidemia, e, lentamente e às pinguinhas, já admitem, embora engolindo alguns engulhos, a necessidade do uso da máscara por todos os cidadãos que andam na rua, mas ainda não a sua obrigatoriedade. E por pressão do Conselho de Escolas Médicas, que defende uso generalizado de máscaras por se reconhecer que é eficaz levando "à diminuição da propagação da doença, não só neste momento de surto da pandemia, como futuramente na prevenção de futuros surtos", incluindo as máscaras de fabrico caseiro, cuja eficácia pode chegar aos 85%. Se não tem havido material suficiente, foi porque o Governo não tomou as devidas medidas a seu tempo, teve mais de dois meses há espera do que toda a gente já sabia que iria inevitavelmente chegar, uma outra consequência perniciosa do processo de globalização neo-liberal.
O Governo e a Ministra ignorante nunca quiseram ver que o número de infectados assintomáticos pode chegar ao triplo dos doentes sintomáticos e que aqueles também são agentes transmissores activos. Mais uma vez se pode inferir que, para além do desprezo que esta gente nutre pela saúde dos portugueses em geral, a sua preocupação é não gastar dinheiro; deverão estar a guardar para os bancos e já pensando na austeridade em dose reforçada que virá mal se debele a pandemia. Porque o dinheiro que vier de Bruxelas, via Banco Central Europeu (BCE), ou dos bancos portugueses, será dinheiro emprestado, e não a fundo perdido, o que fará disparar de novo a dívida pública, agora para números estratosféricos.
Os próprios números de cidadãos infectados, falecidos, sob observação ou até recuperados, à semelhança do número de enfermeiros infectados, são números que a DGS vai deixando sair, de forma controlada e capciosa, para mostrar que a pandemia está a ser combatida correctamente pelo Governo, e se este não faz mais é porque não pode. É uma manipulação rasteira e despudorada, que vem desde o início da crise, ainda estamos bem lembrados dos números apresentados referentes aos concelhos de Porto, Braga ou Guimarães, e que eram constantemente contrariados pelos números bem superiores apresentados pelos presidentes das Câmaras. Em relação ao Porto, foi patética a ideia da Directora Geral da Saúde, que já deveria ter colocado o lugar à disposição, em relação à hipóteses de cerca sanitária na cidade do Porto devido ao elevado número de infectados. Mas mais confrangedor foi ver a alteração dos números apresentados, com a argumentação da maneira como a contagem é feita, devido à reacção violenta do Presidente da Câmara que lhe enviou uma roda de incompetência e simultaneamente um desafio de arrogância ao Governo, de “quem manda aqui sou eu!”, tendo aquele feito fez marcha atrás, mostrando bem a cobardia de quem nos (des)governa... e a falsidade dos números.
O Governo e a Ministra têm medo que os hospitais públicos colapsem dentro em breve, daí o impedirem custe o custar o internamento dos doentes infectados com o Covid-19, o que será inevitável não exactamente apenas pelo aumento dos internamentos, actualmente 1084 pessoas internadas (191 em 26 de Março, 273 em 27, 726 em 01 de Abril), das quais 267 nos cuidados intensivos, mas pela falta de camas e de enfermeiros e médicos treinados em cuidados intensivos; e não é em poucos dias que se treina pessoal nesta área de cuidados, de pouco valendo que haja a curto prazo um aumento mesmo significativo do número de ventiladores. O primeiro-ministro e sua muchacha não deverão sentir a consciência pesada pelo encerramento de milhares de camas e dezenas de serviços no SNS, pelos menos nos últimos 15 anos, desde o governo PS/Sócrates, já não nos referimos sequer desde a década de 80 do século passado quando se deu o pontapé de saída para a liquidação do Serviço Nacional de Saúde, porque consciência é coisa que nunca tiveram.
O Governo só se tem mexido por força da pressão da opinião pública e das organizações dos trabalhadores da Saúde, das Ordens Profissionais e dos Sindicatos. E destes nem todos têm ousado fazer ouvir a sua vez, com destaque para o SEP e para o STFPS (Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais) que há muito deveriam ser peremptórios e firmes na exigência de mais EPIs e de testes, e mais testes, a todos os trabalhadores do SNS (no CHUC a maioria dos assistentes operacionais ainda não dispõe de equipamento de protecção individual completo, por exemplo, e são obrigados andar com a mesma máscara durante todo o turno). A preocupação do Governo e do presidente da República, que até vai às compras, quem diria!?, e anda na rua com máscara e luvas, foi, e é, ter declarado o estado de emergência a fim de facilitar que muitos patrões, principalmente às grandes empresas, possam agora, com o pretexto da pandemia, despedir à vontade ou reduzir os custos do trabalho endossando-os ao Estado, ou de preferência receberem mais uns milhões (a CIP calcula entre 30 mil a 35 mil milhões de euros) a fundo perdido. Para a saúde... o povo e os trabalhadores do SNS que se desenrasquem!