Homenagem aos profissionais de saúde - António Gaspar (no FB)
A
Organização Mundial de Saúde (OMS) há algum tempo que alertou que
a palavra de ordem era fazer testes, testes e mais testes, mas só há
dois ou três dias que o Governo entendeu mobilizar meios para a
produção por parte do país, empresas privadas e o próprio Estado,
de kits de testes para identificação do coronavirus, parecendo
ter-se esquecido que neste momento é praticamente impossível
adquirir tais testes no mercado internacional, para além da falha já
expectável de solidariedade que os países mais ricos da União
Europeia, Alemanha e França, deveriam ter com os países mais pobres
e periféricos como Portugal.
Ainda
há pouco tempo, para o Governo e DGS (Direcção Geral de Saúde),
fazer testes era questão de somenos importância, fazendo orelhas
moucas à OMS, mas depois da pressão da opinião pública, de
médicos e de autarcas, lá então resolveram considerar como
prioritário fazer testes aos grupos de riscos, pelo menos para já.
Mas se os idosos, institucionalizados em lares, são considerados
grupos de risco, parece que os profissionais de saúde, bem como os
de prestação de socorro, são grupos pouco ou nada prioritários ou
importantes. Os 853 profissionais de saúde, 13% do total dos
infectados no país, onde se incluem 177 enfermeiros, parece que é
conta pouca para o Governo e para a ministra da Saúde, porque para
estes profissionais não há direito à realização de teste, mesmo
que tenham tido contacto com doentes infectados, desde que não
apresentem sintomas. Assim, para as nossas autoridades não há
portadores assintomáticos, tal é medo que têm dos serviços
poderem vir a ficar sem pessoal e terem de contratar mais gente –
coisa que nunca esteve nas contas do ministro Centeno, o “Ronaldo”
das Finanças, nem na intenção do Governo.
Tem
havido enfermeiros que, por razão de terem estado em contacto com
doentes infectados, solicitaram a despistagem de possível contágio
e obtiveram como resposta dos chefes que não havia autorização da
administração, no caso o CHUC, e que teriam de esperar pelo
aparecimento de sintomas. Perante a situação, telefonaram para a
Saúde24 horas e receberam como aconselhamento, através de uma
gravação, a ida ao Centro de Saúde respectivo, o que alguns
enfermeiros fizeram tendo recebido como solução a mesma resposta:
esperar pelo aparecimento de sintomas e avaliação da temperatura
duas vezes por dia. Como se vê, esta é a estratégia adoptada pelo
Governo e pelos seus comissários políticos instalados nos conselhos
de administração em relação aos trabalhadores do SNS, levá-los
ao limite, primeiro, psicológico, e depois, físico, até à
exaustão e ficarem doentes sintomáticos: carne para canhão.
Há
muito que se deveria realizar testes ao coronavírus a todos os
profissionais de saúde, tarefa inadiável e que será facilitada
dentro em breve na medida em que vai funcionar em Coimbra um centro
de produção de testes no antigo edifício da Faculdade de Medicina,
no Polo 1 da UC, com capacidade até 30 mil testes, estando já o
Centro de Neurociências capacitado para fazer o mínimo de 500
testes por dia. O próprio director da Faculdade de Medicina alertou
de forma incisiva, em entrevista ao Diário de Notícias, que: "Neste
momento só há duas coisas a fazer:
isolamento e testar em maior volume" (DN,
28março), assumindo que a epidemia está apenas no início em
Portugal, ou seja, o pior está para vir. E continua: “Deveria
ser obrigatório uma capacidade de testagem muito mais alargada do
que a que temos agora, para se ter a ideia de quantos infectados temos, de facto”.
E questionado pela jornalista não hesitou em dizer:
“Há
profissionais de saúde que podem estar positivos sem o saber.
Podem estar assintomáticos ou ter muito pouca sintomatologia e
continuarem a trabalhar. Ora, se fossem testados, seriam obviamente
afastados do risco de propagação a terceiros e a pessoas
fragilizadas, como os doentes. Só assim conseguiríamos quebrar a
exponenciação, que vai ainda continuar, do número de casos”.
Mas
parece que são altos crânios do Governo e, em particular, do
Ministério da Saúde que possuem a exclusividade do saber. E o
resultado está à vista com o caso relatado pelo Diário de Coimbra.
É
notícia recente (Diário de Coimbra, 30março) uma mulher de 84 anos
ter tido alta do Serviço de Ortopedia do CHUC, num dia, e ter sido
internada no Hospital dos Covões, no outro, desta vez por apresentar
uma pneumonia, com febre, tosse e dificuldades respiratórias, que
mais tarde se veio a saber que era infecção por coronavirus, mas já
depois de estar em casa, e onde terá contactado com familiares e
pessoas amigas. Deveras surpreendida pelo estado da doente, a
família, e ainda antes do segundo internamento, logo contactou os
responsáveis do serviço do CHUC e mais surpreendida ficou com a
resposta: que contactassem a linha Saúde24 porque a doente estava
bem quando saiu do hospital. Após o contacto com a Linha Saúde24, o
encaminhamento foi o habitualmente aconselhado e desta vez a coisa
não terá corrido mal porque terá sido a médica de família que
diagnosticou a pneumonia por coronavirus. A família prometeu
proceder a queixa formal à Entidade Reguladora da Saúde, à
Administração Regional de Saúde do Centro e ao CHUC. Facilmente se
conclui, sendo verdade os factos relatados pelo “DC”, que há de
certeza mais pessoas infectadas no Serviço de Ortopedia do CHUC,
funcionários e/ou doentes, já que as visitas estão proibidas.
Parece que é o CHUC que envia o covid-19 directamente para casa das
pessoas. E se não se fazem testes aos funcionários do CHUC é
porque a administração tem mais amor ao dinheiro e às directivas
do Partido do que consideração pelos trabalhadores e pelos doentes
– é conclusão que se infere dos factos.
Os
sindicatos dos enfermeiros devem pôr os olhos no Sindicato da
Indústria Hoteleira do
Centro
e tomar o exemplo, exigindo que todos os enfermeiros, mesmo que não
tenham tido contacto directo com doentes infectados, sejam
submetidos a teste de despistagem da covid-19. O mesmo é válido
para todos os trabalhadores dos CHUC.