segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Ceifando o sangue dos pobres dos EUA


A mais recente etapa do capitalismo
Alan Macleod
É sabido que o capitalismo mercantiliza tudo, e extrai lucro de tudo. Quando se trata de algo tão vital como o sangue humano, poderia haver alguma reserva, mas o que sucede é o contrário. Nos EUA, o sangue das camadas mais vulneráveis e empobrecidas da população (que se contam por muitos milhões) é o centro de uma florescente e lucrativa indústria. Será difícil encontrar-se imagem mais flagrante do caráter anti-humano do capitalismo na sua fase atual.
Para boa parte do mundo, doar sangue é puramente um ato de solidariedade, um dever cívico que os saudáveis cumprem para ajudar os necessitados. A ideia de ser pago por tal ação seria considerada bizarra. Mas nos Estados Unidos é um grande negócio. De fato, na desgraçada economia de hoje, em que cerca de 130 milhões de norte-americanos admitem a incapacidade de pagar por necessidades básicas como alimentação, habitação ou assistência médica, comprar e vender sangue é uma das poucas indústrias em expansão que restam nos EUA.
O número de centros de coleta nos Estados Unidos mais do que duplicou desde 2005, e o sangue representa agora em valor mais de 2% do total das exportações dos EUA. Para colocar isso em perspectiva, o sangue dos norte-americanos vale agora mais do que todos os produtos de milho ou soja exportados que cobrem vastas áreas do coração do país. Os EUA fornecem na totalidade 70% do plasma do mundo, sobretudo porque a maioria dos outros países proibiu essa prática por razões éticas e médicas. As exportações aumentaram mais de 13%, para US $ 28,6 milhares de milhões, entre 2016 e 2017, e o mercado de plasma deverá “crescer radiosamente”, segundo um relatório sobre a indústria. A maioria vai para países europeus ricos; a Alemanha, por exemplo, compra 15% de todas as exportações de sangue dos EUA. China e Japão também são também clientes-chave.
É principalmente o plasma – um líquido dourado que transporta proteínas e glóbulos vermelhos e brancos por todo o corpo – que o torna tão procurado. O sangue doado é crucial no tratamento de problemas médicos como anemia e cancro, e é em geral necessário para a realização de cirurgias. As mulheres grávidas precisam frequentemente também de transfusões para tratar perdas de sangue durante o parto. Como todas as indústrias em maturação, algumas enormes e sedentas de sangue empresas, como Grifols e CSL, passaram a dominar o mercado norte-americano.
Mas para gerar lucros tão enormes essas empresas vampíricas apontam conscientemente aos norte-americanos mais pobres e desesperados. Um estudo constatou que a maioria dos doadores em Cleveland gera mais de um terço do seu rendimento por “doar” sangue. O dinheiro que recebem, observa a professora Kathryn Edin, da Universidade de Princeton, é literalmente “a força vital dos pobres com US $ 2 por dia”. O Professor H. Luke Schaefer, da Universidade de Michigan, coautor com Edin de $2 a Day: Living on Almost Nothing in America, disse ao MintPress News:
O aumento maciço das vendas de plasma sanguíneo é o resultado de uma rede de segurança monetária inadequada e em muitos lugares inexistente, combinada com um mercado de trabalho instável. A nossa experiência é que as pessoas precisam do dinheiro, é essa a principal razão pela qual as pessoas aparecem nos centros de plasma”.
Quase metade dos EUA está falida e 58% do país vive de salário em salário, com poupanças de menos de US $ 1000. 37 milhões de norte-americanos vão para a cama com fome, incluindo um sexto dos nova-iorquinos e quase metade dos residentes no South Bronx. E mais de meio milhão de pessoas dormem em qualquer noite nas ruas, com muitos milhões mais em veículos ou recorrendo a amigos ou familiares. É nesse contexto que milhões de pessoas no limite se voltam, para sobreviver, para a venda de sangue. Num sentido muito real, então, essas empresas estão ceifando o sangue dos pobres, literalmente sugando-lhes a vida.
Vejo que passamos à etapa de “ceifar o sangue dos pobres” do capitalismo tardio.
(...)
O novo e florescente mercado do sangue é a personificação perfeita da distopia capitalista tardia em que os EUA modernos se tornaram. O desumanizador processo de ceifa do sangue dos pobres para financiar os quixotescos sonhos de imortalidade dos super-ricos transforma os primeiros em zumbis vivos andantes e os segundos em vampiros, banqueteando-se com o sangue dos jovens; uma verdadeira história de terror americana digna de Stephen King ou H.P. Lovecraft. Como disse Rachel de Wisconsin:
É realmente é uma indústria em que “espremer sangue de pedras” é o mais literal que se pode encontrar. ”
Artigo completo em aqui e aqui

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