Ano
novo, velhas lutas!
Os
enfermeiros do Norte e do Médio Tejo estão em luta: pelo
descongelamento da carreira e efectivação da avaliação a fim
permitir a progressão.
Hoje,
houve greve dos enfermeiros do Médio Tejo. Greve que tem por
objectivo exigir a concretização das progressões, pendentes por
irregularidades quanto às avaliações (alguns enfermeiros têm dez
anos sem avaliações contabilizadas). Ontem, greve dos enfermeiros
do Norte, à espera há dois anos (desde 2018) da concretização das
suas progressões por penalização na contagens dos pontos, é a
mesma razão, há períodos não avaliados.
A
adesão tem sido grande, cerca de 80%, espelho do grande
descontentamento, pelo não descongelamento da carreira mas sobretudo
pela situação de estagnação salarial: dois terços dos
enfermeiros do Médio Tejo auferem o ordenado base da carreira. Assim
se compreende, também, a continuação de grande número de
enfermeiros a emigrar.
O SEP
convocou e dirige esta greve, a situação problemática dos
enfermeiros é de inteira responsabilidade do governo, e em
particular da ministra que apresenta desenvoltura apenas nas
aparições televisivas para declarar boas intenções, mas fica só
por aqui.
Em
Janeiro de 2020, no primeiro mês do ano, seria bom fazer um pequeno
balanço do que foi 2019, ano em que por esta altura os sindicatos,
onde se inclui o SEP, prometiam mundos e fundos quanto a lutas e
subsequente resolução dos problemas da classe, nomeadamente
carreira (nova), descongelamento/progressões e avaliações:
1. em
Janeiro, são prometidas muitas greves, mais precisamente 45 dias de
greves, exigindo, entre outras coisas, salário base de 1600 euros e
categoria de especialista com 2700 euros (na carreira ainda em vigor
mas nunca colocada em prática seriam 2900 euros), entre essas
greves haveria uma greve “cirúrgica 2”;
2.
em Fevereiro, com a greve cirúrgica em pleno e com o apoio massivo
dos enfermeiros através do fundo de greve, inteiramente legal como
mais tarde se comprovou, o governo PS decreta a requisição civil
(o6 de Fevereiro), requisição abertamente ilegítima e ilegal, que
fez inveja a qualquer governo aberta e formalmente de direita,
enquanto vai lançando um ataque de desinformação e de calúnia
sobre os enfermeiros;
3.
a 23 de Fevereiro é iniciada uma vigília de enfermeiros em sete
cidades do país, convocada pelo Movimento Nacional de Enfermeiros:
“pelo SNS”, gravemente suborçamentado, “pela segurança dos
doentes”, directamente afectada, pelo “descongelamento real das
carreiras independentemente do vínculo contratual e sem apagão de
anos de serviço”, reafirma-se “ 1600 euros no primeiro
escalão”; apoio a Carlos Ramalho, dirigente do Sindepor
(Sindicato
Democrático dos Enfermeiros de Portugal),
que inicia uma Greve de Fome com o objectivo de reatar as
negociações com o governo;
4.
após a requisição civil, a ASPE (Associação Sindical Portuguesa
dos Enfermeiros) pede para que a greve em blocos operatórios seja
suspensa de imediato, face às ameaças de marcação de faltas
injustificadas, enquanto o Sindepor diz que não abdica do direito à
greve e se os enfermeiros forem notificados para prescindir desse
direito, trabalharão sob protesto e vão apresentar uma queixa
crime contra o governo;
5.
8 de Março, manifestação nacional de enfermeiros em Lisboa,
promovida pelo Movimento Nacional de Enfermeiros e contando com o
apoio dos sindicatos, a ASPE convoca greve geral para o dia a fim de
facilitar a participação dos enfermeiros; a Ordem dos Enfermeiros
apoia a manifestação disponibilizando também suporte logístico;
foi a “Marcha Branca”, marcha em homenagem à enfermagem;
6.
em Abril, entra em discussão na Assembleia da República os
projectos de nova Lei de Bases da Saúde, nenhum dos projectos, tal
como o resultado final que veio a ser aprovado, incluía medidas que
dessem solução aos problemas crónicos do SNS, como
subfinanciamento crónico, promiscuidade público/privado,
inexistência de carreiras e/ou salários dignos para os
profissionais;
7.
o governo, pelo Decreto-Lei n.º 71/2019, de 27 de Maio, “altera o
regime da carreira especial de enfermagem, bem como o regime da
carreira de enfermagem nas entidades públicas empresariais e nas
parcerias em saúde”, ou seja, impõe mais uma carreira de merda, low-cost e sob controlo dos chefes, que são os únicos a beneficiar e cuja categoria tinha sido até retirada da carreira anterior;
8.
02
a 05 de Julho, greve convocada pelo Sindepor, que coincide
parcialmente com a greve dos médicos, os enfermeiros exigem
“igualdade
no descongelamento da progressão das carreiras”,
como explica o presidente do sindicato, Carlos Ramalho, que, “para
além da insatisfação com a nova carreira”, “apresenta
preocupação com a transição para a mesma”; o SEP opina que
“a carreira, agora publicada, constitui um pesado revés nas
legítimas e justas expectativas e aspirações dos enfermeiros em
possuírem uma carreira que valorize e dignifique o seu
desenvolvimento profissional e salarial”... nomeadamente, “a
imposição de uma quota de 25% (propusemos que fosse de 50%) de
postos de trabalho para a categoria de Enfermeiro Especialista... ”
9.
o primeiro-ministro António Costa, em entrevista dada ao jornal
“Expresso”, não deixa dúvidas: “o país não pode estar
refém das carreiras especiais da função pública”, e, algum
tempo atrás, o PS já tinha dado
a conhecer o seu programa eleitoral para as eleições legislativas
de 6 de Outubro:
“(as carreiras da função pública) custam todos os anos 200
milhões de euros e, deste valor, quase dois terços é gasto em
carreiras especiais em que o tempo conta no processo de progressão”
e “uma realidade que cobre cerca de um terço dos trabalhadores do
Estado”, então há que desfazer o “desequilíbrio” e “limitar
a política salarial na próxima década”, estabelecendo “uma
política de incentivos na administração pública que premeie a
excelência e o cumprimento de objetivos pré-definidos” (por
“excelência” entenda-se “subserviência”, “bufaria” ou
“cartão do partido”);
10.
Janeiro de 2020, SEP convoca duas greves e convida à participação
dos enfermeiros na manifestação nacional dos trabalhadores da
função pública a realizar amanhã, dia 31, pelas 14h30m, em
Lisboa, por “aumentos salariais dignos que reponham o poder de
compra”, repudiando o aumento oferecido pelo governo de 0,3%, o
que equivalerá a uns miseráveis 2 euros por mês em média, e
reafirma: “Progressão/descongelamento para todos os enfermeiros
independentemente do vínculo” e a passagem de “ todos os
enfermeiros detentores do título de Enfermeiro Especialista até 31
de Maio de 2019
devem transitar para a categoria de especialista” - o SEP só
agora se lembrou que foi, e continua a ser, uma rematada
filhadaputice a retroactividade para 01 de Janeiro de 2018 da titularidade
dos especialistas estabelecida por um decreto que só fora publicado
em Maio de 2019, para apanhar em falta os enfermeiros já especialistas de
carreira mas que não tinham regularizado, nem dando tempo para tal, a sua situação na Ordem.
Concluindo:
o SEP que sozinho já não consegue mobilizar os enfermeiros para
manifestação que se veja, vem agora correr atrás do prejuízo. Em
relação a este sindicato, e mesmo à actuação dos demais, os
enfermeiros devem retirar as devidas ilações. Contudo, nós
apelamos
à participação em massa na greve e na manifestação de amanhã,
dia 31, de todos os enfermeiros e trabalhadores da função pública, em defesa
das suas mais que justas reivindicações e, especialmente, contra
um governo falsamente de esquerda e socialista!