quinta-feira, 20 de setembro de 2018

A greve em massa dos enfermeiros


Inicia-se hoje mais uma greve dos enfermeiros, será por dois dias, 20 e 21 de Setembro, e será para defender algumas reivindicações a saber: uma nova carreira que igualize todos os enfermeiros CTFP e CIT, consagre a categoria de enfermeiro gestor, valorize o enfermeiro especialista, aumente o início e o topo da grelha salarial, inclua medidas compensatórias de penosidade e consagre os 35 anos de serviço e 57 anos de idade para a aposentação.

Sabemos que o governo do PS, chefiado por Costa e beneficiando do apoio parlamentar do BE e do PCP, tem gasto com o sector privado da saúde cerca de 3 mil milhões de euros por ano, seja pelas PPP's, convenções, ADSE e IPSS, etc., e em 2017 perdeu negligentemente 1100 milhões de euros em erros, infracções financeiras e comparticipações irregulares”, como indica o relatório da Inspecção-geral de Finanças, no entanto, perante as reivindicações dos professores para contagem de todo o tempo em que a carreira esteve congelada, diz que não há dinheiro, seria no máximo uns 600 milhões de euros, para os enfermeiros, que será uma quantia menor, a resposta é a mesma.

Não entrando em linha de conta com os muitos milhões de euros que se pagam para umas PPP´s que à luz da Constituição até são ilegais, para as rodoviárias são no total 18 mil milhões de euros, ou para a despesa e juros da dívida pública, cerca de 9 mil milhões de euros todos os anos, o problema nem estará na falsa questão da falta de dinheiro, o busílis é político, há que pagar pouco aos funcionários públicos, colocá-los em situação precária, daí a introdução dos CIT's, levá-los a uma competição entre si pelo baixo salário, e fazer que cada um trabalhe por dois, que é o que se vê em todos os serviços e instituições do SNS com falta gritante de enfermeiros, médicos e auxiliares. É esta a forma de oferecer mão-de-obra barata ao sector privado, porque os salários no público são sempre uma referência para o privado e havendo um grande exército de mão-de-obra de reserva a pressão para o abaixamento dos salários será constante.

Não se percebe bem, após quase 10 anos da aprovação e entrada em vigor da dita “nova carreira” que instituiu o enfermeiro-doutor, na altura incensada por todos os sindicatos como a melhor do mundo, uma espécie Cristiano Ronaldo, os mesmos sindicatos venham propor uma “nova” já que esta, na verdade, nunca funcionou porque acarreta uma maior despesa e … porque os sindicatos também nada fizeram para que funcionasse e que seria, para começar, a abertura de vagas para enfermeiro principal. Virem agora com uma outra “nova carreira” é para se dizer que a coisa traz água no bico.

E a “água” é, atentando-se à natureza das “reivindicações”, fazer aprovar uma carreira para os chefes. Há 10 anos, os dirigentes sindicais louvaram a ideia dos responsáveis serem nomeados pelas administrações, ou seja, comissão de serviço e não cargo vitalício, agora vêm com a história do “valorize o exercício das funções na área de gestão”, sabendo-se que o cargo é um prolongamento da administração e da direcção do serviço, ou seja e para sermos claros, grande parte dos enfermeiros chefes, agora denominados eufemisticamente de “gestores”, mais não é que os moleques dos directores dos serviços e capatazes ao serviço das administrações e até, a sua maioria, nem fazem greve. Envolver esta reivindicação, que nos aprece ser a principal, com outras de camadas mais amplas dos enfermeiros e algumas delas inviáveis neste momento, como é o caso do tempo e da idade da reforma, quando na altura em que foi retirado os sindicatos assobiaram para o lado, é uma maneira matreira, mas simultaneamente tosca, de levar a grande massa dos enfermeiros a lutarem por uma causa que pertence a uma minoria.

Esta greve, como as anteriores, independentemente de ser convocada pelos sindicatos afectos à UGT ou à CGTP (esta é da iniciativa destes últimos), será semelhante às anteriores, será considerada uma “grande vitória” devido ao elevado índice de adesão, o que é sempre inevitável atendendo aos moldes em que é feita, assegura-se mínimos que nos serviços de internamento acabam por ser máximos e não se perde o dia de salário, e será na realidade uma tremenda derrota porque das principais reivindicações nada é satisfeito, algumas das vezes nem reivindicações colaterais são respondidas pelos governo, como aconteceu agora com o já famigerado suplemento remuneratório que foi pago a menos de dois terços dos enfermeiros especialistas porque as administrações, instruídas pelo governo (que só publicou a lei em Abril deste ano, em vez de o fazer no ano passado para dar tempo para reclamação, já que o pagamento seria a partir de Janeiro) só o fizeram aos enfermeiros que tinham a inscrição actualizada na ordem, ficando de fora alguns milhares de enfermeiros especialistas de carreira e em efectivo exercício do seu conteúdo funcional, como ora se diz, sem que os sindicatos tenham feito ainda alguma coisa para corrigir a trafulhice.

Existem algumas principais reivindicações pelas quais todos nós enfermeiros devemos lutar, e não andar a fazer o frete aos enfermeiros chefes, que são:
  • descongelamento da actual carreira com a progressão do número de escalões que teríamos direito caso a carreira nunca tivesse sido congelada, ou seja, contagem de todo o tempo à semelhança dos professores;
  • progressão na carreira tanto para enfermeiros em CTFP e CIT e acabar de vez com o CIT (este foi introduzido exactamente para liquidar com a carreira, coisa que os sindicatos nunca denunciaram nem combateram);
  • abertura de imediato de vagas e realização de concurso para a categoria de enfermeiro principal de forma a abarcar todos os enfermeiros especialistas (o suplemento remuneratório mais não é que um engodo para esconder que categoria de especialista e respectiva valorização salarial jamais!);
  • greve nacional de enfermeiros por tempo indefinido reduzindo o âmbito de serviços mínimos (lembremo-nos que a greve de 1975 foi também às urgências!) até que as nossas reivindicações sejam inteiramente satisfeitas, caso contrário, estas greves são um folclore e até incompreensíveis já que PCP e BE na rua promovem greves contra o governo e na Assembleia da República andam com ele ao colo.

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