sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Mais homofóbico que nunca: o papa mandou as crianças homossexuais ao psiquiatra



«[Tomás Máscolo] O papa Francisco recomendou neste domingo, 26, recorrer à psiquiatria quando os pais constatem uma tendência homossexual em seus filhos desde a infância, em uma roda da imprensa neste domingo no avião que o levava da Irlanda à Roma.

O Papa esteve na Irlanda onde a influência da Igreja Católica segue tendo muito peso. Em sua visitar disse ter “vergonha” pelos casos de abuso sexual dentro da Igreja. Seu discurso foi uma “vergonhosa tentativa” de evitar assumir sua responsabilidade, dizem as vítimas.

Foi no regresso dessa viagem que um jornalista lhe perguntou o que o Papa diria aos pais que detectem orientações homossexuais em seu filho. A resposta de Bergoglio não surpreende. “Quando isso se manifesta desde a infância, há muitas coisas para se fazer por meio da psiquiatria, para ver como são as coisas. Outra coisa é quando isso se manifesta depois dos 20 anos”, disse o Papa Francisco.

“Lhes diria, em primeiro lugar, que rezem, que não condenem, que dialoguem, entendam, que deem espaço ao filho ou à filha”, agregou.

Os homossexuais não têm que ir a nenhum psiquiatra. Foi no mês de junho deste ano que a Organização Mundial da Saúde finalizou a décima primeira revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11). Todas as categorias relacionadas com as pessoas trans foram eliminadas do capítulo sobre transtornos mentais e de comportamento.

Uma conquista parcial ocorreu no dia 17 de maio de 1990, quando a Organização Mundial da Saúde eliminou a homossexualidade da lista de doenças mentais, depois de décadas em que foi considerada uma perversão possível de ser tratada.

É por este tipo de declaração e comportamento que a separação da Igreja e do Estado é uma consigna necessária. Na Argentina, por exemplo, esta é uma forte luta que está sendo travada, ainda mais depois do dia 8 de agosto, quando 38 senadores decidiram não legalizar o aborto passando por cima de milhares de jovens, mulheres, trabalhadores, estudantes e ativistas que se mobilizaram nas ruas. O governo argentino historicamente segue sustentando financeiramente uma casta reacionária do clero.»

Em Esquerda Diário

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

O capitalismo corrói a saúde mental



Em IHU

«Ao examinar nosso passado evolutivo e nossa história como caçadores-coletores igualitários, cooperativos e solidários na comunidade primitiva, dissipamos a falsa ideia de que os seres humanos, por sua própria natureza, são competitivos, agressivos e individualistas. Nós, seres humanos, temos todas as aptidões psicológicas e sociais para viver de maneira diferente e a desigualdade não é inevitável.

A reportagem é de Manuel E. Yepe, publicada por America Latina en Movimiento – ALAI, 20-08-2018. A tradução é de Cepat.

É o que o manifestam os professores de epidemiologia Kate Pickett e Richard Wilkinson, nos Estados Unidos, em seu novo livro intitulado The Inner Level [O Nível Íntimo], apoiando-se em um sólido conjunto de argumentos para demonstrar que “a desigualdade devora o coração do mundo íntimo e as ansiedades sociais da grande maioria da população”.
Em The Inner Level, os autores demonstram a evidência de que o impacto da desigualdade no bem-estar mental é apenas uma parte da nova situação. Os professores Pickett e Wilkinson questionam dois mitos centrais que alguns utilizam para justificar a perpetuação e tolerância da desigualdade.

Quando abordamos a falsa ideia de que os níveis atuais de desigualdade refletem a existência de uma justificável meritocracia na qual ascendem os de maior capacidade natural e definham ao fundo os incapazes, compreendemos que, ao contrário, são as desigualdades nos resultados as que limitam a igualdade de oportunidades; as diferenças nas conquistas e as próprias conquistas são impulsionadas pela desigualdade, não suas consequências.

Pickett e Wilkinson sustentam que a desigualdade é um obstáculo importante para a criação de economias sustentáveis que sirvam para otimizar a saúde e o bem-estar tanto das pessoas como do planeta, pois o consumismo tem a ver com a melhora de si mesmo e a concorrência pelo status se intensifica com a desigualdade.

Uma pesquisa recente da Mental Health Foundation descobriu que em dado momento do ano passado 74% dos adultos no Reino Unido estavam tão estressados que se sentiam esmagados e incapazes de superar a situação. Um terço tinha inclinações suicidas e 16% haviam se automutilado em algum momento de sua vida. Estes números eram muito mais altos entre os jovens.

Nos Estados Unidos, as taxas de mortalidade crescem sem cessar, sobretudo para homens e mulheres brancos de meia idade, em razão do “desespero”, que incluem as mortes por dependência de drogas e álcool, assim como os suicídios e muitos acidentes de carros. Uma epidemia de angústia parece estar afetando algumas das nações mais ricas do mundo.
Estudos realizados em 28 países europeus mostram que a desigualdade aumenta a ansiedade pelo status em todos os grupos de ingressos, desde os 10% mais pobres até o segmento mais rico.

Outro estudo sobre como as pessoas experimentam um baixo status social, tanto nos países ricos como nos pobres, descobriu que apesar das enormes diferenças em seus níveis materiais de vida, em todo o mundo as pessoas que vivem na pobreza relativa possuem um forte sentimento de vergonha e auto-ódio. Estar na parte inferior da escala social é sentido da mesma forma tanto vivendo em um país rico, como vivendo em um muito pobre.

Embora pareça que a grande maioria da população é atingida pela desigualdade, respondemos de diferentes maneiras às preocupações que é gerada pela forma como os outros nos veem e nos julgam. Uma dessas maneiras é nos sentir agoniados e oprimidos pela desconfiança, os sentimentos de inferioridade e a autoestima deprimida, e isso conduz a altos níveis de depressão e ansiedade em sociedades mais desiguais, afirmam os autores de The Inner Level.

Os sintomas psicóticos, como os delírios de grandeza, são mais comuns nos países mais desiguais, assim como a esquizofrenia.

O narcisismo aumenta na medida em que aumenta a desigualdade de renda, segundo medições de Narcissistic Personality Inventory (NPI), a partir de amostras sucessivas na população estadunidense.

Outra muito ampla resposta à necessidade de superar o que os psicólogos chamam de “ameaça avaliativa social” é através das drogas, o álcool e o jogo, mediante a alimentação como reconfortante, ou por meio do consumo de status e o consumismo conspícuo. Aqueles que vivem em lugares mais desiguais são mais propensos a gastar dinheiro em automóveis caros e a comprar bens de status; e são mais propensos a ter altos níveis de dívida pessoal porque buscam demonstrar que não são “gente de segunda classe” ao possuir “coisas de primeira classe”.»

http://www.ihu.unisinos.br/582042-o-capitalismo-corroi-a-saude-mental