quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Assim vamos de saúde: Carta aberta ao ministro da Saúde


Exmo Senhor Ministro da Saúde Dr. Adalberto Campos Fernandes,

1. Na quarta-feira dia 27.12.17 dirigi-me às urgências do Hospital de Santa Maria com uma dor precordial muito forte. Uma vez que tenho pericardite recidiva ( duas em 2016 e um episódio em 2017) devidamente diagnosticada e que me mantiveram internada quer em Portugal, quer na Alemanha, conheço bem os sintomas.

Chegada à urgência não havia nem maca, nem uma cadeira de rodas para me sentar. Valeu-me o voluntarismo de um agente da PSP, que conhecendo o Hospital, me conseguiu desencantar uma cadeira.

A fila para a inscrição na urgência era extensa e nenhuma observação, monitorização ou canalização de veia foi feita porque faltava o "acto administrativo".

Não sendo eu profissional de saúde acredito que um "acto administrativo" (ou a falta do mesmo) não seja impeditivo de prática clínica. Ou vivemos numa república kafkiana?

Acrescento que uma dor precordial é sempre prioritária (como um AVC) haja ou não fila.

Foi-me atribuída uma pulseira amarela na triagem e fiquei na sala de espera, sem que nenhum tipo de medicação para a dor me fosse administrado.

Fui observada por uma médica de medicina interna que prescreveu análises sanguíneas, um ECG e um raio x ao coração. Entre a minha entrada em Santa Maria e a realização de todos os exames (entrada antes das 21 horas) passaram-se mais de cinco horas.

2. A médica, apesar de eu ter contado todo o meu historial e ter explicado que passo boa parte do ano em países em desenvolvimento e junto das populações e os mais carentes dos carentes como os refugiados, desvalorizou esse factor, e não prescreveu uma ecografia cardíaca que usualmente permite fazer o diagnóstico da pericardite quando os outros meios complementares de diagnóstico não a detectam.

Aproveito aqui para questionar porque razão os hospitais portugueses não estão ligados em rede permitindo ao clínico saber a que procedimentos o paciente já foi submetido e a sua história clínica? Em vez de eu contar, não teria sido mais fácil ver todos os exames e o meu processo no Hospital Central de Vila Real onde estive internada em Novembro de 2016?

Em resumo: com uma queixa cardíaca, não fui vista por um clínico da especialidade e fui enviada para casa com Aspergic e um "se se sentir mal volte amanhã".

(...)

Helena Ferro de Gouveia

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