quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

O famigerado suplemento para os enfermeiros especialistas



Depois de terem andado a encanar a perna à rã os sindicatos lá mostraram o jogo e revelaram, entre outras coisas, que o tal subsidio ou suplemento para os enfermeiros que detem o título de enfermeiro especialista é só para os que eram enfermeiros especialistas na anterior carreira. E continuam a escamotear que isso é facto consumado.

Em vez dos 600 euros serão apenas 150 euros e somente para 7 mil enfermeiros, como já tinha sido dito e orçamentado em Outubro do ano passado, perfazendo os tais 14 milhões de euros. Ora, enfermeiros detentores do título de enfermeiro especialista, CTFP e CIT, serão quase o dobro, no entanto, a situação foi iludida. E mesmo que agora, em 12 de Janeiro, com o ACT assinado pelos sindciatos, embora "parcelar e transitório", algo diferente fosse acordado, mas como não há verba orçamentada, seria só para 2019. Factos iludidos pelos sindicatos.

E quanto à reestruturação da carreira, apesar do esforço em se apresentar uma nova proposta através de foruns com gente da mesma família, já estaremos a ser esclarecidos, bem como ao caracter do presente ACT, sabendo todos nós o que verdadeiramente significa "parcelar e transitório" neste país. Em relação a este tópico da "revisão da Carreira de Enfermagem" voltaremos em breve a debruçar-nos porque irá dar que falar, ao que parece será mais uma bosta semelhante à actual carrreira. Há pressa, o governo poderá ir-se embora para o ano. Geralmente... cadelas apressadas parem os cachorros cegos.

No entanto, há dinheiro para as Parcerias Público Privadas (PPP) da área da Saúde, a despesa ficará em 2017 nos 479 milhões de euros, prevendo-se que em 2018 atinja os 471 milhões de euros, sabendo nós que o histórico dos últimos anos tem mostrado que a despesa com este tipo de gestão de hospitais do SNS acaba por se situar significativamente acima do estimado, aqueles montantes serão na realidade bem superiores.

No entanto, só para citar este exmplo quanto às PPP, em cinco anos o estado gastou mais 51,3 milhões de euros com a PPP de Cascais para contratualizar os mesmos serviços que contratualiza com os hospitais de gestão pública; e agora, em janeiro deste ano, o governo decidiu lançar um novo concurso internacional com vista... à renovação da PPP de Cascais. E esta, hein!

No entanto, o porta-voz e deputado do PS João Galamba foi claro em dizer que em 2019 dificilmente haverá dinheiro para o aumento dos salários dos funcionários públicos!

Assim vamos de saúde: Carta aberta ao ministro da Saúde


Exmo Senhor Ministro da Saúde Dr. Adalberto Campos Fernandes,

1. Na quarta-feira dia 27.12.17 dirigi-me às urgências do Hospital de Santa Maria com uma dor precordial muito forte. Uma vez que tenho pericardite recidiva ( duas em 2016 e um episódio em 2017) devidamente diagnosticada e que me mantiveram internada quer em Portugal, quer na Alemanha, conheço bem os sintomas.

Chegada à urgência não havia nem maca, nem uma cadeira de rodas para me sentar. Valeu-me o voluntarismo de um agente da PSP, que conhecendo o Hospital, me conseguiu desencantar uma cadeira.

A fila para a inscrição na urgência era extensa e nenhuma observação, monitorização ou canalização de veia foi feita porque faltava o "acto administrativo".

Não sendo eu profissional de saúde acredito que um "acto administrativo" (ou a falta do mesmo) não seja impeditivo de prática clínica. Ou vivemos numa república kafkiana?

Acrescento que uma dor precordial é sempre prioritária (como um AVC) haja ou não fila.

Foi-me atribuída uma pulseira amarela na triagem e fiquei na sala de espera, sem que nenhum tipo de medicação para a dor me fosse administrado.

Fui observada por uma médica de medicina interna que prescreveu análises sanguíneas, um ECG e um raio x ao coração. Entre a minha entrada em Santa Maria e a realização de todos os exames (entrada antes das 21 horas) passaram-se mais de cinco horas.

2. A médica, apesar de eu ter contado todo o meu historial e ter explicado que passo boa parte do ano em países em desenvolvimento e junto das populações e os mais carentes dos carentes como os refugiados, desvalorizou esse factor, e não prescreveu uma ecografia cardíaca que usualmente permite fazer o diagnóstico da pericardite quando os outros meios complementares de diagnóstico não a detectam.

Aproveito aqui para questionar porque razão os hospitais portugueses não estão ligados em rede permitindo ao clínico saber a que procedimentos o paciente já foi submetido e a sua história clínica? Em vez de eu contar, não teria sido mais fácil ver todos os exames e o meu processo no Hospital Central de Vila Real onde estive internada em Novembro de 2016?

Em resumo: com uma queixa cardíaca, não fui vista por um clínico da especialidade e fui enviada para casa com Aspergic e um "se se sentir mal volte amanhã".

(...)

Helena Ferro de Gouveia

Texto completo

Estudo sinaliza dificuldades no acesso e alerta para falta de enfermeiros

 


Estudo para a Comissão Europeia frisa que, "futuramente, o Serviço Nacional de Saúde [em Portugal] tem como desafio conseguir manter a motivação dos seus profissionais, bem como conter e inverter a sua saída".

A análise comparativa aos 28 Estados membros, encomendada pela Comissão Europeia à Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e ao Observatório Europeu de Sistemas e Políticas de Saúde, sinaliza que em Portugal há falta de enfermeiros tendo em conta a população.

De facto, de acordo com os dados divulgados, o número de enfermeiros (6,3 por 1000) no nosso país ainda é inferior à média da UE (8,4).

Já no diz respeito aos médicos, o relatório "Estado da Saúde na União Europeia Portugal: Perfil de Saúde do País 2017" divulgado na semana passada, revela que a proporção é mais alta do que na generalidade dos 28 países da UE (4,6 por mil habitantes contra 3,5), no "entanto, o número está sobrestimado em 30 % por contabilizar todas as pessoas habilitadas a exercer medicina".

A nível da proporção de enfermeiros apenas a Espanha, Itália, Eslovénia, Bulgária e Chipre apresentam números mais preocupantes.

Dificuldades no acesso à saúde

O relatório aponta como maiores obstáculos no acesso aos cuidados de saúde em Portugal "os tempos de espera e a distribuição geográfica desigual das instalações". A distribuição dos recursos varia não só entre regiões como entre municípios. Registam-se ainda disparidades significativas nos indicadores de riqueza e de saúde entre as grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e as regiões do interior.

"Muitas das pessoas que vivem nas zonas rurais estão em risco de pobreza e defrontam-se com obstáculos (em especial a distância) que dificultam o acesso a serviços de saúde de qualidade", lê-se no documento. Acresce que os profissionais de saúde concentram-se nas zonas costeiras, na Grande Lisboa e no Grande Porto.

O relatório sinaliza também as "grandes disparidades geográficas na distribuição dos profissionais de saúde do SNS por profissão, assim como na distribuição das instalações públicas de cuidados de saúde primários". Em 2015, havia ainda cerca de 1,2 milhões de utentes do SNS sem médico de família.

Os técnicos da OCDE e do Observatório Europeu de Sistemas e Políticas de Saúde alertam que "as pressões sobre os profissionais de saúde irão agravar a escassez futura de recursos humanos no SNS".
"Outro desafio diz respeito aos salários dos profissionais de saúde no setor público", acrescentam, sublinhando que "os salários mais elevados praticados no setor privado incentivam médicos e enfermeiros a sair do SNS, ou mesmo a emigrar para outros países".

"Efetivamente, tem-se assistido nos últimos anos a uma vaga emigratória de profissionais de saúde, em especial de enfermeiros. Futuramente, o SNS tem como desafio conseguir manter a motivação dos seus profissionais, bem como conter e inverter a sua saída", assinalam.

Da imprensa