terça-feira, 19 de setembro de 2017

A greve que ultrapassou pela esquerda todas as direcções sindicais

 
 A greve d@s enfermeir@s que se realizou na semana passada ultrapassou todas as expectativas, as expectativas de quem a convocou, de quem a furou ou não esteve com ela, as expectativas do governo que ainda ousou intimidar a classe com eventuais faltas injustificadas e processos disciplinares, e até alguns enfermeiros desprevenidos.
A greve de 5 dias, de 11 a 15 de Setembro, acabou por apanhar muita gente desprevenida, daí a bastonária da ordem, o SE e SIPE não quererem repetir a aventura, porque o processo pode fugir-lhes do controlo; e o SEP viu-se na obrigação, ao sentir-se isolado, de convocar uma greve de 3 dias (incluindo um feriado!?), só depois das eleições autárquicas, não vá estragar os resultados dos partidos do governo ou pôr em causa o establishment.

Fica a vontade de lutar dos enfermeiros que, em esmagadora maioria, desejam levar a luta até ao fim.
A bastonária, conselheira nacional do PSD, vem agora falar só, ou quase só, dos enfermeiros especialistas, parece que já sabe o que o governo está disposto a pagar aos especialistas (o SEP fala de 150 euros até à reestruturação da carreira, o que é bem pouco para quem reivindicou 600 (!?) euros), e também parece que as restantes reivindicações que afectam toda a classe já pouco contam.

O dito "acréscimo salarial" para os enfermeiros especialistas parece ter sido o leitmotiv para a greve. Os restantes enfermeiros, quando se chegar a 1 de Janeiro de 2018, ficarão apenas com aquilo que já se sabe: reposição do valor integral das Horas de Qualidade, como era feito antes dos cortes do governo PSD/Passos Coelho/CDS/Portas. O resto - 35 horas para todos os enfermeiros e Revisão da Carreira de Enfermagem -, lá para meados ou segundo semestre de 2018.

Sobre o Descongelamentos das Progressões, prometido para início de 2018, pouco ou nada se sabe, o que nos é dito, a nós enfermeiros, é que se trata de matéria a ser discutida em sede de negociação entre as Frentes Sindicais da Administração Pública (Frente Comum) e Governo; e a próxima reunião está marcada para 21 de Setembro (quinta feira). Ou seja, nada é certo, nenhuma coisa está garantida.

No entanto, fazendo fé nas declarações do primeiro-ministro, o Costa do PS, a carreira de enfermagem será a mais beneficiada entre todas que forem descongeladas, ou nas palavras do conhecido "pai" do SNS, que está a trabalhar numa nova lei para o Serviço Nacional de Saúde e que terá como "pedra basilar" as carreiras profissionais, a carreira de enfermagem terá uma melhoria particular. Não deixamos de estar curiosos quanto ao que aí virá, sabendo que quem está a trabalhar na nova lei é um gestor... e um médico!

Pela conversa destas distintas figuras do PS, podemos ficar "descansados" porque o cozinhado já deve estar feito! O quer dizer que os sindicatos, nomeadamente o interlocutor oficioso e muito responsável SEP, já sabem a esta hora o que é que o governo está disposto a aprovar e aquilo que ele jamais consentirá, seja em nome da contenção financeira ou outra razão qualquer. Em breve iremos assistir a mais uma encenação: por um lado, o governo arma-se em bonzinho, dizendo que faz aquilo que o governo anterior nunca teria feito, pelo outro, os sindicatos virão reivindicar para si os louros do pouco que nos será devolvido, apresentando-o como uma grande vitória; uns, pela luta que despoletaram (o objectivo foi sempre criar dificuldades ao governo e em tempo de campanha eleitoral), outros, pelo sentido de "responsabilidade" e de "diálogo".

Para além da farsa, o que podemos ter a certeza é que as principais reivindicações ficarão por cumprir e que são: aumento geral do salário para todos os enfermeiros, através da reestruturação de uma carreira que seja digna e valorativa para a classe; fim da precariedade na enfermagem (reivindicação quase esquecida por todos os sindicatos, é uma questão que não afecta os dirigentes sindicais, especialmente, os aposentados); descongelamento das progressões com reposicionamento dos enfermeiros em posição em que estariam caso a carreira nunca tivesse sido congelada; e as 35 horas para todos os enfermeiros, porque mesmo esta "simples" reivindicação não está garantida (os CITs de 40 horas foram feitos com o consentimento dos sindicatos, assim como são uma ameaça à sobrevivência da própria carreira!).

Nota: o próprio "Suplemento Remuneratório" de 150 euros para os enfermeiros especialistas não se sabe se é para todos os enfermeiros detentores do título de especialista se é apenas para aqueles que eram especialistas na anterior carreira.

Estas atrás citadas são as razões para que a luta dos enfermeir@s não esteja encerrada nos próximos tempos (ou talvez nunca).

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

EUA: a crise de opióides ligada a perdas de empregos

 

O Canadá e os Estados Unidos atravessam uma crise sanitária devido a difusão dos opioides. Cerca de 1/3 dos Norte-americanos sofrem de dores crônicas levando os médicos a ter prescrito 289 milhões de vezes opióides em 2016.
 
Os medicamentos opiáceos são mais caros do que a heroína vendida no mercado negro.
Não há uma estimativa fiável do número de pacientes que se tornaram dependentes dos opiáceos.
Segundo o Departamento de Saúde, em 2015, 12,5 milhões de Norte-americanos abusavam de opióides e mais de 33 mil morreram. Nestes anos, a crise de saúde pública custou US $ 78,5 mil milhões (bilhões-br) de dólares.
 
Em 2016, o número de mortos por overdose de medicamentos opiáceos, ou de opiáceos ilegais nos Estados Unidos, foi quase aproximadamente equivalente à das mortes na estrada, e significativamente maior do que o número de vítimas de ataques terroristas em todo o mundo.
 
A 10 de Agosto de 2017, o Presidente Trump declarou a crise dos opióides como uma «emergência nacional».
 
Um estudo do Professor Alan B. Krueger, da Universidade de Princeton, lançou luz sobre o estreito vínculo entre a crise dos opiáceos e o afundamento do mercado de trabalho.
 
Uma pesquisa condado por condado, atesta que metade dos homens de 25 a 54 anos, sem emprego, que fica doente de súbito, não mais consegue ficar em estado de retomar o trabalho e é forçado a tomar opiáceos diariamente. Esta observação não se verifica com as mulheres.
 

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Enfermeiros, uma classe dividida

 

Os sindicatos da UGT resolveram convocar uma greve para esta semana, 11 a 15 de Setembro, a fim de defesa de criação da categoria de "especialista" na carreira, reestruturação da dita, atualização da tabela salarial, aumento dos vencimentos, estes últimos congelados desde 2005, pelas 35 horas para todos os enfermeiros independentemente do tipo de contrato - é bom relembrar que foram os sindicatos que ajudaram a retirar da carreira, dita "nova" a vigorar a partir de 2010, a categoria de "especialista" a troco do título de "doutor". O SEP, o maior sindicato dos enfermeiros e, pelo menos até agora, com maior poder de mobilização não assinou o pré-aviso de greve; aliás, está contra a greve.

O governo ameaçou com faltas injustificadas quem fizer greve e com processos disciplinares os enfermeiros que tenham entregue o título da especialidade, passado pela ordem, recusando a prestação de cuidados especializados e apenas disponibilizando cuidados gerais. É a guerra entre os sindicatos da UGT (SE e SIPE) e a Ordem dos Enfermeiros, controlados todos eles pelo PSD, e o governo do PS, apoiado pelo BE e PCP e, por extensão, pela CGTP, apostada na paz social a troco de umas míseras migalhas daquilo que os governo do PSD/CDS/Passos Coelho/Portas nos retiraram, a nós trabalhadores e, em particular, os enfermeiros. O governo do PS/Sócrates foi quem nos congelou a carreira e os vencimentos e prolongou o tempo e a idade para a aposentação - é bom não esquecer.

O SEP e o homólogo madeirense dão agora uma de "responsabilidade", estão em negociações com o governo e, segundo dizem, estarão em avançado estado de conclusão, embora ninguém saiba qual porque nada de concreto nos dizem. Agora, é a CGTP que fura a greve a pretexto das boas intenções do governo, fazendo lembrar os tempos do PREC de 1975 em que o apoio ao MFA e aos governos provisórios era assunto sagrado e inviolável. Agora, é a direita ressabiada, impedida de formar governo apesar do PSD ter ganho as eleições, que se aproveita do descontentamento de toda uma classe, mas de cujas razões de queixa também é responsável. Nos 4 anos e meios de governação laranja, o Azevedo e o Fernando Correia não se lembraram das reivindicações que agora tão afanosamente agitam.

É mais do que óbvio que os problemas de uma classe, tão prejudicada e explorada, estão a ser utilizados pelo PSD, que os seus caciques instalados na classe não hesitaram em usar os enfermeiros para os seus intentos, derrubar o governo, não se importando que alguns dos enfermeiros venham a ser sancionados disciplinarmente e até, eventualmente, em foro criminal, numa posição de força contra o PS e o Costa, já que a classe de enfermagem não passa para tal gente de carne para canhão. Não consta que em mais nenhuma classe sócio-profissional, no caso, maioritariamente assalariada no estado, tenha como dirigentes sindicais dois indivíduos reformados, na casa dos setenta anos, e que tenham feito a carreira toda, ou quase toda, no sindicato, bem longe dos doentes, com os quais agora também se dizem tão preocupados.

Os quatro sindicatos, putativamente representantes da classe dos enfermeiros, são, em primeira linha, os responsáveis pela divisão da classe, colocam sempre e acima de tudo as agendas dos partidos que os controlam, PSD e CDS, por um lado, e BE e PCP, pelo outro, os enfermeiros são simplesmente usados, daí estarmos na situação em que estamos. O que nos foi retirado foi graças à complacência sindical, e o pouquíssimo que nos foi restituído, sobretaxa de IRS, pagamento das horas complementares, é-nos apresentado como uma grande "vitória". O descongelamento da carreira é incerto, certeza é que não vamos ser recolocados em posição em que deveríamos estar caso a carreira nunca tivesse sido congelada; mas no próximo dia 13 de Outubro, segundo o Costa, já iremos saber que dinheiro é que o governo "tem" (eufemismo para designar o que é que sobrou dos muitos milhares de milhões que o governo tem entregue aos bancos e à clientela que vive de esmifrar o erário público) para os enfermeiros. O que nos (não) admira é que, em vésperas de preparação do próximo OE, a CGTP, como era habitual no tempo do governo anterior, não ter convocado ainda nenhuma luta, greve ou manifestação, e seja antes uma ordem profissional, que não tem poder legal para o fazer, a mobilizar um sector dos trabalhadores para o protesto.

Não há que ter ilusões em relação ao governo PS/Costa, não passa de uma versão soft do governo anterior PSD/Passos Coelho, os problemas para quem trabalha manter-se-ão, se o cinto está a ser aliviado (muito) ligeiramente se deve à boa conjuntura externa e à ajuda do BCE que se comprometeu a comprar dívida pública aos estados mais enrascados da UE até ao final do ano. O ataque aos enfermeiros sob o pretexto da "ilegalidade" da greve contrasta com a posição sobre a greve anunciada pelos juízes, esta sim ilegal na medida em que estes constituem um órgão de soberania - ainda iremos ver os ministros, ou os deputados, a fazer greve... porque estão a ser mal pagos. A partir de Janeiro de 2018, nada se sabe. O que se sabe é que os enfermeiros estão divididos e será luta que forjará a unidade tão necessária. Um sindicalismo revolucionário é cada vez mais necessário.

Quanto à greve desta semana, os enfermeiros devem fazê-la, contudo devem denunciar as manobras e as manipulações de que estão a ser vítimas.