terça-feira, 31 de maio de 2016

Hospitais públicos pagaram 100 milhões aos privados para fazerem cirurgias


Nos últimos três anos, os hospitais públicos pagaram cerca de 100 milhões de euros em cirurgias e consultas feitas no privado para reduzir as listas de utentes à espera de procedimentos cirúrgicos, que poderiam ter sido feitos no sector público, caso o governo anterior não tivesse cedido aos fortíssimos lóbis da saúde privada, médicos e grupos económicos, sendo a saúde considerada já o cluster mais lucrativo do século XXI (a seguir ao tráfico e ao petróleo, claro!).

À semelhança do que acontece com o ensino, mas com certeza para pior, o Estado, através dos governos que o gerem, tem desinvestido nos serviços públicos de Saúde, congelamento das carreiras, não admissão de novos profissionais, reformas antecipadas até há algum tempo atrás, aumento do horário de trabalho (de 35 para 40 horas), corte no valor do preço hora e das horas complementares e extraordinárias, encerramento de serviços, para entregar aos tubarões da medicina privada muitos milhões para a realização de actos médicos e prestação de cuidados de saúde e exames complementares de diagnóstico que ele próprio tem competência e capacidade para realizar.

O boicote à realização de cirurgias e consultas por parte de alguns médicos, bem como a realização de exames complementares de diagnóstico, tem sido uma estratégia delineada e colocada em prática desde há muito, desde do tempo dos governos de Cavaco Silva/PSD, com a conivência activa das administrações hospitalares e que, nos últimos tempos, teve um desenvolvimento extraordinário com a abertura de clínicas privadas mesmo ao lado das instituições de saúde do estado, adoptando inclusivamente nomes muito semelhantes à daquelas, como aconteceu em Coimbra.

E também não será por acaso que se encontra em Coimbra a instituição pública que mais dinheiro tem dado a ganhar às clínicas privadas a fim de realizar aquilo que ela não pode ou não quer (vamos lá saber as razões exactas?). Foram mais de 2.500 cirurgias realizadas fora, com um custo total de 4,6 milhões de euros, e com mais de 14 mil inscritos. Coimbra lidera também as listas de espera, mais do que o Centro Hospitalar Lisboa Central que vem a seguir! Tem sido o fartar vilanagem!

Este problema facilmente seria resolvido desde que houvesse vontade política, coisa que este governo ainda não manifestou, bastava: separar o público do privado, quem trabalha no público não trabalha no privado (há médicos e até alguns enfermeiros que parecem ter o dom da ubiquidade!); rentabilizar os blocos operatórios, que estão na maior parte do tempo às moscas; responsabilizar pessoalmente os administradores hospitalares, parece que isso já existe mas só no papel; e... contratar mais profissionais de saúde, os necessários, seria até uma boa forma de combater o desemprego, e de forma indirecta subir os salários, e igualar por cima os contratos no privado, colocando-os a par dos da função pública; neste particular, os enfermeiros até agradeciam e um bom ponto de reflexão para os nossos "queridos" dirigentes sindicais!

DN: «Só em 2015, foram emitidos mais de 111 mil vales para operações no setor privado ou social, com um custo de 36 milhões de euros
Entre 2013 e 2015 os hospitais públicos gastaram cerca de cem milhões de euros em operações feitas fora do Serviço Nacional de Saúde (SNS), no setor privado ou social, através de vales-cirurgia, emitidos ao final de seis meses de o doente estar à espera. Só em 2015 foram emitidos mais de 111 mil vales que levaram à realização de 20 282 operações, com um custo de 36 milhões de euros. O ano terminou com perto de 194 mil utentes na lista de inscritos para cirurgia - mais dez mil do que 2014 - e 5972 doentes pendentes.

Os dados provisórios do Ministério da Saúde foram enviados ao Bloco de Esquerda numa resposta sobre o Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC) nos últimos três anos e a que o DN teve acesso. Uns hospitais descem, outros sobem, mas no total a fatura e o número de operações feitas fora do SNS aumentou . "Acreditamos que se pode estabelecer uma relação com a saída dos profissionais mais diferenciados e a redução de serviços. Podem estar a deixar o SNS com menos capacidade e a enviar mais doentes para o privado. Não compreendemos que aconteça, porque o SNS tem capacidade instalada e é preciso aproveitá-la. É incompreensível que hospitais de fim de linha enviem imensos doentes para o privado", diz Moisés Ferreira, deputado do BE.

O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) é o que tem a fatura mais elevada e 2560 cirurgias realizadas fora. No final do ano tinham 14 mil inscritos na lista e 237 doentes pendentes. "Apenas 25% dos doentes aceitaram ser operados fora do CHUC. O valor faturado foi de 4,6 milhões de euros. O CHUC é dos hospitais com maior produção cirúrgica. Em 2015 foram feitas 65 735 cirurgias. Temos vindo a "aumentar a capacidade interna e a reduzir a emissão de vales-ci rurgia", refere. Quanto aos doentes pendentes, "são propostas cirúrgicas que estão em fase de avaliação clínica e/ou a aguardar exames e esclarecimentos adicionais", número que não consideram elevado dada a procura. (...)»

Hospitais pagam cem milhões em cirurgias no privado

Ver também a reportagem
"Médicos sabotam SNS para obrigar doentes a ir ao privado"

segunda-feira, 30 de maio de 2016

CRISE ECONÓMICA LIGADA A 260 MIL MORTES POR CANCRO

 
A crise económica global de 2008-2010 está associada a 260 mil mortes por cancro a mais nos países da OCDE, estima um estudo publicado na revista The Lancet.

Na União Europeia, a crise está relacionada com 160 mil mortes a mais, sugere o mesmo estudo, que constitui a primeira análise global sobre os efeitos do desemprego e da redução da despesa pública em saúde na mortalidade por cancro.

Segundo os cientistas, o desemprego e a redução da despesa pública em saúde estão associados a um aumento do número de mortes por cancro, mas essa diferença desaparece quando existe cobertura universal de saúde.

"Nos países que não têm cobertura universal de saúde, o acesso aos cuidados e saúde são muitas vezes garantidos por um pacote do emprego. Sem emprego, os pacientes são diagnosticados mais tarde e o tratamento é mais fraco e tardio", explicou o coautor Rifat Atun, da Universidade de Harvard, citado num comunicado da revista.

Os investigadores, das universidades de Harvard, nos EUA, e Oxford, Imperial College London e King's College London, no Reino Unido, usaram informação do Banco Mundial e da Organização Mundial de Saúde para analisar a relação entre o desemprego, a despesa pública em saúde e a mortalidade por cancro em mais de 70 países, que representam mais de dois mil milhões de pessoas.

A análise cobriu as tendências ao longo de 20 anos, entre 1990 e 2010 e abrangeu os cancros da próstata nos homens, da mama nas mulheres, e o cancro colonrectal e do pulmão em ambos os géneros.

Os cancros foram classificados como tratáveis (com taxas de sobrevivência superiores a 50%) ou não tratáveis (com taxas de sobrevivência inferiores a 10%).

"Concluímos que o aumento do desemprego está associado a um aumento da mortalidade por cancro, mas que a cobertura universal de saúde protege contra estes efeitos. Isto é especialmente verdade no caso dos cancros tratáveis, incluindo o cancro da mama, da próstata e colonrectal", disse o autor principal do estudo, Mahiben Maruthappu do Imperial College de Londres, citado no comunicado.

O investigador acrescentou que também os gastos públicos em saúde "estão muito associados à mortalidade por cancro, o que sugere que os cortes na saúde podem custar vidas".

"Se os sistemas de saúde sofrerem restrições de financiamento, isso deve ser combinado com melhorias ao nível da eficiência para garantir que os pacientes recebem o mesmo nível de cuidados de saúde, independentemente do ambiente económico ou do seu estatuto laboral", defendeu.

O cancro provocou 8,2 milhões de mortes em 2012, e estima-se que o número de casos suba de 14 milhões em 2012 para 22 milhões em 2030.

"O cancro é uma importante causa de morte em todo o mundo, por isso é crucial entender como as mudanças económicas afetam a sobrevivência", disse Mahiben Maruthappu.

A crise económica internacional que começou em 2008 resultou num aumento substancial nas taxas de desemprego e levou muitos países a reduzirem a despesa pública na saúde.

Muitos estudos já demonstraram o impacto destas mudanças na saúde física e mental, nomeadamente no aumento do suicídio ou das doenças cardiovasculares.

Os autores ressalvam que o estudo hoje publicado apenas mostra uma associação entre a mortalidade, o desemprego e a despesa pública em saúde, e não permite provar uma relação de causa e efeito.

No entanto, dizem ter detetado uma correlação cronológica: as mudanças no desemprego foram seguidas de mudanças na mortalidade por cancro, o que dizem apontar para uma relação causal.

Dizem ainda que, como a informação de qualidade só está disponível até 2010, não foi possível analisar os efeitos de longo prazo das flutuações económicas na mortalidade por cancro.

Daqui
 

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Trabalhar por turnos afecta memória, concentração e capacidade de aprender



Estudo indica que as pessoas que trabalham por turnos podem levar até cinco anos a recuperar funções cerebrais perdidas devido ao trabalho rotativo


Um estudo da universidade de Uppsala, na Suécia, demonstrou que que as pessoas que trabalham por turnos, em comparação com aquelas que não têm horários rotativos, precisam de mais tempo para completar um teste habitualmente usado pelos médicos para determinar deficiências na função cognitiva.

A pesquisa, revela a plataforma da Science Daily, foi publicada na revista Neurobiology of Aging e contou com a participação de 7000 indivíduos. "Os nossos resultados indicam que o trabalho por turnos está ligado a piores desempenhos num teste que é frequentemente utilizado para avaliar problemas cognitivos", revelou Christian Benedict, professor no Departamento de Neurociência na universidade sueca. "Os piores desempenhos foram observados apenas em trabalhadores que trabalharam - e continuam a trabalhar - por turnos nos últimos cinco anos. Por oposição, não foi observada qualquer diferença entre os funcionários que nunca trabalham por turnos e aqueles que não o fizeram nos últimos cinco anos", acrescentou o especialista.

Na prática, os resultados indicam que apesar de o trabalho rotativo alterar, efetivamente, as funções cognitivas, tornando as pessoas mais esquecidas, desconcentradas e com maior dificuldade em tomar decisões e aprender sobre assuntos desconhecidos, os impactos dos turnos não são irreversíveis: cinco anos depois de terminarem os horários irregulares, as funções cerebrais mais relevantes são recuperadas, garantem os especialistas.

Retirado daqui

quarta-feira, 18 de maio de 2016

A história da criança com multideficiência que um colégio privado não quis e a escola pública recebeu



Criança de 13 anos com Necessidades Educativas Especiais não terá sido aceite por colégio privado e acabou "encaminhada" para escola pública. Mãe denuncia "exclusão". "Não tem fundamento" reage a instituição, que recebe quase seis milhões de euros do Estado. O que se passou?


São menos de três quilómetros a separar um episódio, no mínimo, controverso. Susana Sousa Rios, mãe de uma criança de 13 anos com Necessidades Educativas Especiais (NEE), terá sido aconselhada a procurar uma escola pública quando tentou inscrever o filho no privado. Em depoimento escrito e entrevista telefónica à VISÃO, esta progenitora, de 36 anos, acusa o Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas de ter discriminado o seu filho. "Visto que não podiam negar-me a inscrição, «convidaram-me» a inscrevê-lo na escola pública, mais precisamente na Escola de Paços de Brandão, pois aí, não sendo o ideal, teria melhores condições do que o colégio privado", sugeriram-lhe, segundo a sua versão. Chocada e "revoltada" com a "indiferença" que sentiu na reunião tida para o efeito, esta encarregada de educação acabaria mesmo por recorrer à tal instituição pública. "E em boa hora o fiz", assume, pois a criança lá continua. "O meu filho gosta da escola, de todos os profissionais, do professor ao assistente operacional. Embora as condições não sejam as ideais, fazem mais e melhor", explica, satisfeita. Susana, "mãe a tempo inteiro por força das circunstâncias", refere que o filho sofre de multideficiência, destacando a epilepsia e os problemas motores e hormonais. "Em Paços de Brandão têm sido muito abertos, têm-no acompanhado na medida das possibilidades. Se mais verbas tivessem, melhor faziam", esclarece.


O caso, segundo ela, ocorreu em meados de 2014.

Nessa altura, tentou inscrever o seu filho no Colégio de Santa Maria de Lamas, estabelecimento de ensino privado situado no concelho de Santa Maria da Feira que mantém um contrato de associação com o Estado no valor de quase seis milhões de euros anuais relativos a 74 turmas. Há dois anos, o seu filho, acabado de fazer o 4º ano, ia ingressar no 2º ciclo. Susana solicitou uma reunião à direção do colégio, uma vez que é residente na freguesia e, como tal, teria prioridade na inscrição. Diz ter abordado o assunto com a diretora Joana Vieira, sendo depois encaminhada para uma psicóloga e uma educadora especial. "Após verem os relatórios, sem margem para dúvidas, disseram-me que o colégio não tinha verbas para fazer a integração de meninos como o meu filho", relata. Foi então que, de acordo com a sua narrativa, lhe acabaram por sugerir a inscrição no agrupamento de escolas de Paços de Brandão, a pouco mais de dois quilómetros.

Artigo completo em Visão
 

terça-feira, 17 de maio de 2016

Hiperactividade ou Hiperdiagnóstico?


Por Bruno Santos (blog Aventar)

Mais de 5 milhões de doses de Metilfenidato (Ritalina) administradas a crianças em Portugal, para sossegar não o seu espírito, mas o daqueles que as querem sentadas, mudas e quietas.

Uma implacável lobotomização química e uma forma imbatível de tornar o consumo crónico, limitando definitivamente as possibilidades de desenvolvimento dessas crianças e assegurando uma renda volumosa a uma longa rede de interesses industriais, profissionais e políticos.
Talvez um dia se possa pensar em "descoisificar" a infância e legislar no sentido de tornar exemplarmente punível a violação dos direitos básicos e fundamentais estabelecidos em Declaração Universal a ela dedicada. Talvez só depois de os cães terem conquistado o direito de voto, pois se há coisa que uma sociedade decente deve ter é uma hierarquia civilizada de prioridades.

Retirado de Aventar

Ver também: Ritalina, a droga legal que ameaça o futuro

Com efeito comparável ao da cocaína, droga é receitada a crianças questionadoras e livres. Professora afirma: "podemos abortar projetos de mundo diferentes"
É uma situação comum. A criança dá trabalho, questiona muito, viaja nas suas fantasias, se desliga da realidade. Os pais se incomodam e levam ao médico, um psiquiatra talvez. Ele não hesita: o diagnóstico é déficit de atenção (ou Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade TDAH) e indica ritalina para a criança.
(...)

domingo, 15 de maio de 2016

Trabalhadores obrigados a usar fraldas para não fazerem pausas



O relatório da organização Oxfam relata as denúncias dos trabalhadores de aviários que não podem abandonar a linha de produção  

Na medida em que a competitividade aumenta, os níveis de produtividade são cada vez mais exigentes e os direitos laborais continuem a ser retirados, é perfeitamente natural que a lógica de exploração capitalista tenda a alargar tais práticas vexatórias da dignidade humana a todos as áreas de trabalho.

Os trabalhadores dos aviários nos Estados Unidos são rotineiramente privados de pausas para ir à casa de banho ao ponto de serem forçados a usar fraldas na linha de produção, denuncia um estudo da organização britânica Oxfam.

Segundo o estudo, que foi publicado na terça-feira, "a grande maioria" dos 250 mil trabalhadores do setor aviário norte-americano é ridicularizada, ignorada ou ameaçada com despedimento quando pede para ir à casa de banho, "não beneficiando de pausas adequadas" para o efeito, no que constitui uma "clara violação das leis norte-americanas de segurança no trabalho".

"Os trabalhadores lutam para se adaptar a essa negação de uma necessidade humana básica. Urinam e defecam enquanto se encontram na linha de produção, usando fraldas para trabalhar", refere o relatório divulgado pela filial da organização não-governamental (ONG) Oxfam nos Estados Unidos.

A organização cita um inquérito realizado junto de 266 trabalhadores em Alabama, por uma associação que luta contra a discriminação, em que "quase 80% afirma que não lhes é permitido fazer pausas para ir à casa de banho quando precisam"; e outro no Minnesota, que revelou que "86% dos trabalhadores disse ter menos de duas pausas para ir à casa de banho numa semana", sublinha a Oxfam.

Retirado daqui