quarta-feira, 2 de março de 2016

Queimar até à exaustão. Dois terços dos médicos e enfermeiros com sinais de burnout


Mais jovens são os mais afectados. Más condições de trabalho são o principal factor invocado para justificar o estado de exaustão a que enfermeiros e médicos chegam

Foram inquiridos 1262 enfermeiros e 466 médicos, entre 2011 e 2013, para o estudo divulgado agora

Alexandra Campos em "Público"

Quase metade dos médicos e dos enfermeiros apresentam sinais de burnout elevado e mais de 20% exibem sintomas de exaustão física e emocional moderada. São resultados preocupantes daquele que é um dos maiores estudos feitos em Portugal sobre um problema que tem sido cada vez mediatizado nos últimos anos, o burnout, síndrome que se traduz do inglês como o processo de "queimar até à exaustão".

Publicado na última edição da Acta Médica, o estudo sobre "Burnout nos profissionais de saúde em Portugal" indica que, a nível nacional, 47,8% dos médicos e enfermeiros inquiridos apresentavam níveis de burnout elevados e que 21,6% exibiam sintomas moderados desta síndrome que combina a exaustão física e emocional, a perda de realização profissional e a despersonalização (incapacidade de empatia, cinismo). É um estado de desgaste extremo, de quase colapso, que, além de atingir o próprio, afecta de forma significativa a relação médico-doente (empatia) e a qualidade dos cuidados de saúde prestados.

"A metáfora que se utiliza é a de que a pessoa fica arrasada, quase carbonizada, em cinzas, já não se consegue levantar", descreve João Marôco, do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA), o coordenador do trabalho que foi realizado em conjunto com outros especialistas, nomeadamente da Escola Nacional de Saúde Pública e do Hospital de Santa Maria.

Com uma amostra de conveniência mas muito alargada foram inquiridos 1262 enfermeiros e 466 médicos, entre 2011 e 2013 , a investigação pode ter conduzido a uma "sobrestimação" dos níveis de exaustão (porque a amostra não é aleatória e só respondeu quem estava motivado para isso), admite João Marôco, que explica ainda que o trabalho só agora foi publicado porque teve que ser validado cientificamente.

Dois quartos dos profissionais de saúde com sintomas de burnout não é exagerado? Não, responde este especialista em estatística de base, que diz não se ter surpreendido com os resultados porque são idênticos aos obtidos noutras investigações realizadas nos Estados Unidos, onde este fenómeno tem sido muito estudado. Refere mesmo o exemplo de um estudo de 2011 publicitado pela Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos, no qual 87% de mais de dois mil médicos admitiram sentir-se "severamente stressados e em burnout num dia regular de trabalho". Quanto à realidade portuguesa, acredita, não terá melhorado desde 2013.

Uma "realidade extenuante" (texto completo em Público)


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