quinta-feira, 9 de julho de 2015

Mais pobres continuam a sentir-se bem pior de saúde



Os mais pobres ainda se sentem bem pior da saúde do que quem tem mais dinheiro. Os portugueses mais ricos sentem-se duas vezes melhor do que os mais pobres na faixa etária dos 45 aos 65 anos. Entre os mais velhos, a diferença é ainda mais significativa. Dos 65 aos 74 anos, só 9,8% dos portugueses com rendimentos mais baixos – no chamado primeiro quintil – referiam em 2013 ter um estado de saúde bom ou muito bom. Entre os mais ricos, a prevalência é três vezes superior, já que a percentagem de pessoas no quinto quintil que se sente bem ou muito bem é de 29,8%.

Estes foram alguns dados divulgados ontem pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), num balanço inovador sobre o estado de saúde dos portugueses que cruza estatísticas sobre doenças, causas de morte e factores de risco e traça um retrato dos últimos dez anos. No caso dos rendimentos foram usados dados do Eurostat e, após consulta desses dados, conclui-se que o fosso não diminuiu em Portugal. Estamos também entre os países onde é menos comum as pessoas sentirem-se bem ou muito bem de saúde, independentemente dos rendimentos, mas pior quando se é pobre. Acima dos 75 anos, apenas 4,1% dos portugueses com menos rendimentos se sentem bem ou muito bem, contra 25,7% na UE 28. Já entre os mais abastados, 20% avaliam positivamente a sua saúde em Portugal, contra uma média europeia de 36%.

Vida saudável A necessidade de conquistar anos de vida saudável é uma das conclusões do balanço da DGS, que assinala que, em 2013, Portugal já surgia ligeiramente acima da média da UE, com os homens a poder esperar viver 9,6 anos com saúde depois dos 65 anos, e as mulheres 9,3 anos. Ainda assim, nos melhores países há uma esperança de vida saudável na casa dos 15 anos.

Uma das metas do Plano Nacional de Saúde até 2020 é, por isso, melhorar em 30% este indicador, ou seja, dar mais três anos de vida com qualidade a homens e mulheres. Os dados da DGS mostram que, sobretudo entre os mais jovens, um maior nível de educação está ligado a uma melhor percepção de saúde, algo que se esbate com a idade. Por outro lado, estar empregado e activo confere também um efeito protector. Num comentário ao estudo, o secretário de Estado Adjunto da Saúde ligou esse factor a hábitos mais saudáveis.

A par da baixa taxa de mortalidade infantil, da redução inédita de incidência de tuberculose e da elevada cobertura da vacinação, a DGS e a tutela destacaram a diminuição da mortalidade prematura e congratularam-se por não haver uma degradação dos indicadores nos últimos anos de crise. A percentagem de óbitos antes dos 70 anos no total de mortes verificadas no país baixou de 27% em 2004 para 22% em 2014, e só nos últimos cinco anos significou a perda de menos 10 mil vidas. As mortes resultantes de lesões – por exemplo, acidentes – foram as que mais baixaram, mas há também menos vítimas de enfartes ou doença respiratória. Até 2020, a meta é fixar a mortalidade prematura abaixo de 20% do total de mortes.