por João Paulo
Em democracia não há territórios sagrados, apesar de
existirem algumas reservas, na sociedade não médica, à entrada na
esfera clínica. Normalmente, quem arrisca, leva com uma bateria de
batas brancas em cima que, com argumentos, quase sempre
básicos, acaba por intimidar.
Aviso, portanto o leitor, de que não é minha intenção entrar na discussão
médica sobre a Ritalina, até porque, ao ler parte da informação
oficial disponível, fiquei suficientemente assustado, para
nem tentar perceber o mecanismo da droga mais comum nas escolas, por estes
dias. O meu olhar é o de Professor.
Nas nossas escolas a quantidade de crianças medicadas é absolutamente
assustadora – quase não há turma em que dois ou três meninos não tome algum
tipo de medicação para a hiperactividade. E, diz-me o senso comum,
que não é possível que cerca de 10% das nossas crianças sejam portadoras desta
“doença”. Não é possível.
E, parece-me que há três factores que contribuem
para este manifesto exagero da Ritalina nas escolas:
a) a sociedade em geral e as famílias em particular,
que não conseguem educar. Se até há uns anos, a sociedade depositava todas as
responsabilidades formativas na escola, agora a situação tornou-se ainda pior
com a destruição total que Pedro Passos Coelho promoveu junto da unidade
nuclear da nossa sociedade – a família;
b) a escola de Nuno Crato, que, com menos currículo,
com menos diversidade, com mais exames e centrada nos conteúdos, afastou a
escola dos alunos, das aprendizagens e promoveu a indisciplina, o conflito a
instabilidade.
c) o negócio. O infarmed diz que em 2013 foram
vendidas, em Portugal, duas caixas de Ritalina. Mas, no mesmo documento onde se
refere esta barbaridade, é também apresentado um valor – sete milhões e meio de
euros é o total do negócio deste princípio activo.
Ora, perante isto, importa perguntar:
Se a Ritalina não serve às crianças,
a quem interessa drogar os nossos alunos?
Original em Aventar
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