quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Venda a retalho do SNS ao estrangeiro





Carlos Silva

Há muito que a ESS tratou de ter a imprensa económica como instrumento de propaganda (o que aliás não é muito difícil). Os nossos “jornalistas” económicos não precisam de muito para embarcar na balela da gestão privada em saúde. Mesmo que a maior parte deles nem sequer tenha ido aos famosos workshops na neve relatados na imprensa. Ficam babados com as vidraças, o show-off e as fantasias dos “privados” sempre (como convém) alimentados pelas rendas públicas (ADSE, SIGIC, convenções, etc).

De repente da galáxia de aldrabice do BES emergiu o cometa ESSaúde como se não tivesse nada a ver com a Rioforte, o Dr. Ricardo Salgado e companhia. Talvez por ser um grupo de saúde estará imunizado. E é ver os ditos jornalistas económicos aos saltos branqueando até o por(maior) dos donos do grupo mexicano terem andado uns dias antes de lançar a opa a comprar, aos magotes, ações da ESSaúde a baixo preço. Crime de mercado dizem uns, “ingenuidade” ou distração disse a diretora do negócios candidamente na televisão provavelmente na ânsia de não perturbar a operação.

Para o atual governo trata-se apenas de fazer de Portugal um imensa “feira da ladra” desbaratando tudo o que puder valer alguma coisa sem critério nem rigor e, garantindo, desse modo alguns empregos e negócios para a rapaziada do compromisso Portugal no final de 2015.

Os jornalistas económicos, de uma forma geral, limitam-se a papaguear aquilo que convém aos patrões embarcando, de gel na cabeça, na corrente de que a saúde só é boa se for toda privatizada.

O ministro vai dizendo umas coisas deambulando no seu errático e já incompreensível discurso. Depois dos brasileiros a vinda dos mexicanos cumpre na íntegra o seu desígnio oculto: espatifar o SNS e retraçar o sistema de saúde numa manta de retalhos estritamente comercial mas sempre a viver à custa do dinheiro público.

A presidente da APAH também vai dizendo umas coisas sempre politicamente corretas e muito alinhadas com os diferentes “poderes”. É curioso que ninguém questione a representatividade desta associação nem dos seus dirigentes provavelmente eleitos com 20 ou 30 votos num contexto em que a esmagadora maioria dos gestores hospitalares nem sequer a tal associação pertence. Para o poder esta atual direção é “crème de la crème” de tão útil que se torna.

Bem pode a Câmara de Loures clamar que ficará a falar sozinha. Os interesses são demasiado fortes.

Se isto for para a frente, o que é muito duvidoso, tendo em conta os contornos do movimento teremos em 2015 dois terços do setor privado e uma parte importante de hospitais do SNS em mãos estrangeiras de países onde a saúde é um comércio puro e onde pontificam as maiores desigualdades em saúde no acesso e na qualidade. Seria bom que o senhor ministro perdesse cinco minutos a ver os indicadores de saúde desses mesmos países onde a saúde é tão bem sucedida. Já aos ”jornalistas” económicos nem valerá a pena recomendar que façam o mesmo porque para a sua maior parte o ebidta será sempre um valor maior do que a equidade e a justiça.

Finalmente, quanto ao ar “marialva” do gestor na fotografia está em boa linha com o estilo dos co-figurantes portugueses.

Retirado daqui

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