quinta-feira, 15 de maio de 2014

A entrada dos americanos no sector da Saúde em Portugal



Foi o administrador dos Hospitais Privados de Portugal (HPP) – empresa da Caixa Geral de Depósitos (CGD) no sector, que tem vendido as participações e empresas em áreas não financeiras por imposição da troika – que confirmou a compra daquela empresa pelo grupo brasileiro Amil por um valor baixo, 85,6 milhões de euros, inferior ao seu real valor no mercado.

É convicção daquele administrador, José Carlos Magalhães, que mantém o cargo à frente da empresa – agora denominada Lusíadas Saúde, composta por cinco hospitais (Lisboa, Porto, Albufeira, Faro e Lagos) e duas clínicas de proximidade no Fórum Algarve e no Parque das Nações – que “essa tal de crise criou oportunidades para fazer bons negócios”. E que o sector privado vai crescer na saúde “porque hoje as pessoas têm dificuldade de acesso no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.

Com o aumento desmesurado das taxas moderadoras, com a criação de extensas listas de espera para consultas e cirurgias, bem como para muitos exames complementares de diagnóstico, que são requisitados em abundância, muitas das vezes sem necessidade real para os doentes, assim como o encerramento de muitas valências e unidades hospitalares, este governo PSD/CDS, tal como o que lhe antecedeu, criou as condições ideiais para abrir mercado para os negociantes da saúde.

Não são só os grupos económicos privados nacionais que estão em campo, são agora os grandes grupos internacionais que competem com os grupos de capital inteiramente português, no caso público através do banco do estado. É a entrada em força do grande capital estrangeiro que, rapidamente, irá provocar alguns prejuízos aos grupos que foram de início beneficiados pelos governos PSD e PS. É que o grupo Amil, apesar de ser “a maior empresa do sector da saúde privada do Brasil”, mais não passa de uma subsidiária do grupo norte-americano Unitedhealth Group, que atende mais de 85 milhões de pessoas no mundo, ou seja, estende-se para além da terra do tio Sam.

Fica-se a saber com perfeita clareza em que áreas irá actuar, naquelas em que não exigem grandes investimentos e os lucros são à partida garantidos, e é o dito administrador que esclarece: o SNS funciona bem se as pessoas estão muito doentes, mas demora a responder se não estiverem muito doentes. E mais: “o negócio da saúde vai mudar” e que “a participação do privado vai crescer” porque “a inflação da saúde cresce a uma velocidade tal que o orçamento do Estado não consegue acompanhar”.

Não consegue acompanhar pela razão, que não é dita, de que parte desse investimento público será dirigido precisamente para os tubarões da medicina privada, porque sem ele a medicina privada não será nem rentável e muito menos com os lucros garantidos à partida. Para que a garantia seja certa, contarão também com mão-de-obra barata, ao preço da China, especialmente a dos enfermeiros.

Piores cuidados de saúde, maior participação por parte do bolso do cidadão, técnicos de saúde miseravelmente remunerados e… mais encargos para os cofres do estado, ao contrário da propaganda governamental que esconde o destino dos dinheiros retirados ao SNS, cerca de 1,5 mil milhões de euros, com a despesa no sector a cair 15%, desde 2010 – o próprio FMI o diz na sua 11ª avaliação. É o fartar vilanagem!

Sem comentários: