terça-feira, 22 de outubro de 2013

Em 2014, vai ser mesmo a doer



A semana que findou foi uma semana para os enfermeiros reflectirem sobre os seus problemas e a forma de os resolver (hoje ainda será a continuação, 5º dia!). Foram dias não propriamente de luta – uma promoção SEP&SERAM – mas de reflexão de 4 horas por dia. Houve originalidade, temos de reconhecer. Nos plenários (pouco concorridos, diga-se de passagem, facto ao que o SEP&SERAM serão alheios) ficou-se com a sensação, isto ao ouvir-se o coordenador José Carlos Martins, de que o governo se dispuser a avançar com uns tostões, as 40 horas irão ser aceites de bom agrado e a luta ficará por aqui. Daí o pouco entusiasmo de se avançar para mais greves, daí também o pouco impacto dos dias de reflexão.

A par das reflexões e dos 153 milhões de euros que o governo irá “poupar” com a semana das 40 horas (já seguidas por outras categorias profissionais, assistentes operacionais e assistentes técnicos, grupos que foram logo à partida arredados da luta, diga-se também de passagem), o Orçamento de Estado 2014 segue os seus trâmites normais. A manifestação convocada pela CGTP para o passado sábado, dia 19, foi uma passeata pela Ponte 25 de Abril não estorvando o trânsito sequer e se não foi uma alegre passeata foi porque estava a chover. O coordenador da CGTP endossou a luta contra o OE-2014 aos juízes do TC, que doravante será o grande bastião na defesa das liberdades e direitos conquistados em Abril. Uma concentração está marcada para o dia 1 de Novembro e uma greve geral, ao que parece só para funcionários públicos, para o dia 8 de Novembro. Estas lutas da CGTP também seguem os trâmites normais.

O OE-2014 tira aos trabalhadores do estado e aos aposentados e reformados para dar aos bancos: 1645 milhões de euros para as Parcerias Publico Privadas e 7305 milhões para as amortizações e juros da dívida pública. Uma dívida que não foi contraída pelos trabalhadores, e muito menos pelos trabalhadores do estado, que aumenta sem cessar, prevendo-se para já um 2º resgate de 17 mil milhões a partir de Julho de 2014 – segundo a douta e avalizada opinião do venerável Bank of America Merrill Lynch. E quer o SEP&SERAM a abertura de concursos para enfermeiro principal?

Esta proposta reivindicativa – súbita e curiosamente levantada justamente quando se fala do prolongamento do horário na função pública para se “poupar” na despesa do estado! – não é disparatada se houvesse uma firme e inabalável disposição para a luta, coisa que não acontece se avaliarmos o passado recente quanto á reivindicação da nova tabela salarial e pelas formas de luta agora adoptadas. Em 1976 (a título de lembrete), os antigos auxiliares de enfermagem conseguiram a promoção, havendo até menos dinheiros do que agora, porque fizeram greve total, contra todos e contra tudo, tendo para isso sido obrigados a destituir a direcção do antigo Sindicato do Sul e Ilhas, curiosamente também afecta à CGTP e que não tinha “tomates” para estar à altura da luta, substituindo-a por outra mais aguerrida e corajosa e que conduziu a luta até ao fim.

Deveríamos aprender com as lições do passado, mas, ao que parece, o passado do movimento sindical é para ser calado e esquecido… contudo, a roda da história não anda para trás.

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