quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Retrato social

Manuel Raposo

Vinhais, Fevereiro 2013: uma professora desempregada mata um filho de 12 anos e suicida-se depois. Porto, Janeiro 2013: uma imigrante com 25 anos, natural do Bangladesh, tenta atirar-se da ponte D. Luís com dois filhos de 1 ano e de 1 mês. Oeiras, Janeiro 2013: uma mãe divorciada mata os dois filhos, de 12 e 13 anos, e põe termo à vida. Alenquer, Dezembro 2012: uma imigrante brasileira de 32 anos pega fogo à casa e mata os dois filhos de 1 e 3 anos. Castro Marim, Agosto de 2012: uma dentista brasileira de 42 anos mata-se e aos dois filhos de 11 e 13 anos, regando a casa com gasolina e pegando-lhe fogo. Vila Pouca de Aguiar, Dezembro 2011: uma mulher de 34 anos suicida-se ao atirar-se de um viaduto com uma filha de 20 meses ao colo.

Em cada um dos casos foram assinalados: ou estados depressivos, ou dificuldades económicas, ou desemprego, ou desavenças familiares, ou violência conjugal, ou tudo junto.

Em declarações ao jornal "i" (29 Janeiro deste ano), o psicólogo Carlos Poiares afirma que está a haver um aumento destes casos, assim como dos homicídios conjugais e dos suicídios, e relaciona o facto com a crise económica e social, que classifica de “gravíssima”. O homicídio dos filhos, acrescenta, ocorre em situações em que as mães “não conseguem ver luz ao fundo do túnel”, actuando a crise como um rastilho do desespero.

Também o psiquiatra Pedro Afonso, em declarações ao Público feitas em Setembro do ano passado, a propósito do aumento do consumo de antidepressivos, não teve dúvidas em afirmar que há hoje “muito mais casos” de depressão decorrentes da crise económica. Com efeito, soube-se recentemente que o consumo de antidepressivos aumentou 7,6% em 2012, mais do que qualquer outro medicamento. Anteriormente, também um relatório do Infarmed de 2010 dava conta de que, nos dez anos anteriores, o consumo de antidepressivos crescera para mais do dobro.

O sofrimento pessoal, o desconchavo familiar, a morte como solução são sinais do colapso social que está em marcha. A crise com efeito, não se resume às finanças e à economia, como o poder quer dar a entender. É a própria civilização capitalista – cada vez mais iníqua, assente num sistema produtivo senil, incapaz de proporcionar bem estar à maioria da população – que está em causa.

Retirado de http://www.jornalmudardevida.net/

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