sábado, 29 de dezembro de 2012

Pela nossa saúde exigimos trabalho com direitos - resposta ao Secretário de Estado da Saúde



O secretário de Estado da Saúde considera que os portugueses têm a obrigação de contribuir para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), prevenindo doenças e recorrendo menos aos serviços. Antes de mais, que fique claro que aquilo com que os trabalhadores contribuem é mais do que suficiente para manter o Serviço Nacional de Saúde. Se essas contribuições são desviadas para manter as parcerias público-privadas (como os Hospitais do grupo Mello - CUF), juros da dívida e recapitalização do BPN – isso é outra coisa.

Quanto à prevenção de doenças, agradecemos ao Sr. Fernando Leal da Costa; tivéssemos nós dinheiro e saberíamos muito bem tratar da nossa saúde. Os vegetais e as frutas seriam variados e biológicos. Sopa da época todos os dias. A carne também seria biológica. Nada de frango ou perú alimentados de milho transgénico. Evitaríamos as carnes vermelhas, como a de porco (a mais barata a seguir ao frango de aviário). Acompanharíamos sempre com uma salada de cenoura, beterraba, alface, tomate e alguns frutos secos e por vezes legumes grelhados (courgettes, beringelas, cogumelos, ou espargos) salteados em azeite e alho. Ao pequeno-almoço comeríamos uma manga ou uma papaia e um iogurte natural com flocos de quinoa. Ao longo do dia iríamos petiscando alguns frutos secos (nozes, avelãs, castanhas-do-pará, cajus) -intervalados com bagas-goji e cranberries. O fiambre seria todo de aves de criação ao ar livre e as salsichas viriam das produções biológicas alemãs. Sumos, só de fruta natural. Pão, só de vários cereais e várias sementes. Chocolate, só de 70% de cacau e os doces apenas caseiros – de farinhas e ovos biológicos. Açúcar mascavado e fritos só em azeite virgem. Peixe do atlântico e grelhado. Hidratos de carbono – poucos, mas sempre diferentes (millet, boulgour, quinoa, couscous, arroz). Massas e batatas raramente. Aqueles que ainda trabalham, não tivessem de o fazer durante 14 horas, não precisariam de tomar 5 cafés por dia. Tabaco? Querem mesmo falar dos impostos pagos pelos fumadores?

Tivéssemos nós uma vida digna, trabalho com direitos, a ver se o consumo de álcool e antidepressivos não diminuía. Tivéssemos nós salários decentes e passaríamos os fins-de-semana a passear, a relaxar, a fazer exercício e caminhadas. Tivéssemos nós outra condição social e iríamos, pelo menos, uma vez por semana ao massagista. Tivéssemos nós dinheiro e iríamos duas vezes por ano ao dentista e nunca chegaríamos a ter cáries. Tivéssemos nós casas em condições de salubridade e muitas das nossas crianças não teriam problemas alérgicos e respiratórios.

O MSE considera as afirmações do Secretário de Estado da Saúde verdadeiramente insultuosas para quem não tem mais do que enlatados em casa. Não aceitamos que nos culpabilizem mais, muito menos pelas nossas doenças. Exigimos trabalho com direitos para termos uma vida saudável. Não queremos que nos engordem como porcos (à base de hidratos de carbono rascas e baratos) para conseguirmos produzir 10 horas por dia. Os que ainda têm trabalho.

Site do MSE

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Professores da Bahia decidem manter greve, que completa 105 dias

Aconteceu há algum tempo, vale pelo exemplo de determinação, de coragem e de luta. E pela justeza das reivindicações que, só por isso, teve o apoio de largo sector da opinião pública. Quando estas lutas se vão abaixo são mais por acção dos seus lideres, geralmente comprometidos com outras agendas e interesses, do que pela força de vontade da massa dos protagonistas. Se bem dirigidas saem sempre vitoriosas. Exemplo e razão para uma reflexão mais aprofundada no final de um ano que foi de sacrifícios e em entrada de um outro que irá ser mais bem difícil. Nada é dado, tudo é conquistado!

Os professores da rede estadual de ensino da Bahia decidiram nesta terça-feira (24) manter a greve que completa 105 dias. Após a decisão, um grupo de docentes saiu em passeata pelas ruas do centro de Salvador. A próxima assembleia acontece na sexta-feira (27).

O coordenador da APLB (sindicato dos trabalhadores em educação), Rui Oliveira, afirmou que ao longo da semana acontecem reuniões com grupos de professores de diferentes regiões, além de um bazar para arrecadar dinheiro e ajudar docentes que estão com salários suspensos desde o início do movimento.

(...) Em nota divulgada ontem, a Secretária de Educação garante que a greve atualmente está concentrada nas escolas de Salvador. Das 1.411 unidades da rede estadual, 1.184 estão em funcionamento, o que representa 84%.

Das 227 escolas paralisadas, 167 estão na capital baiana, segundo a secretaria. Cerca de 810 mil estudantes estão com aulas normais em todo o Estado, diz o governo.

A categoria pedia reajuste de 22,22%. Agora, propõe que o governo conceda aumento de 14,26% neste ano. O acréscimo pode ser dividido em duas parcelas, de 7,26% e 7%. Os docentes pedem a manutenção dos 6,5% de reajuste dado no início do ano aos servidores do Estado, a recontratação de professores demitidos ao longo da greve e o pagamento dos salários e benefícios suspensos.

Retirado daqui

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A 1ª manifestação dos funcionários públicos após 25 de Abril

Foto in "Diário de Lisboa", 09. Julho. 1974


Em 8 de Julho de 1974, os funcionários públicos fizeram a primeira manifestação depois do 25 de Abril. Foi para exigir a revisão do decreto (aprovado pelo governo, mas ainda não promulgado) que estabelecia o aumento dos salários segundo uma percentagem que fixava maiores aumentos para os salários mais altos e aumentos menores para os salários mais baixos, fazendo com que o leque salarial alargasse ainda mais, por exemplo, a diferença entre o 1º e o 3º oficial passava de 2.300$00 para 2.800$00; atribuição do subsídio de férias, igual para todos os trabalhadores independentemente do escalão; e pela revogação do Estatuto do Funcionalismo Público, o estatuto fascista ainda vigor.

A greve foi desencadeada logo que se soube do teor do decreto, com os funcionários a desencadear greves de zelo em alguns sectores centrais do Estado, o governo foi apanhado de surpresa – segundo as palavras do ministro de Coordenação Económica, Vasco Vieira de Almeida –, sem pré-aviso de greve, houve mobilizações de funcionários de Aveiro, Porto e Coimbra. Foram mais de 10 mil funcionários concentrados junto ao palácio de S. Bento, na maioria mulheres, muitos dos manifestantes passaram a noite de 8 para 9 na rua, contando com a solidariedade dos moradores da zona que apoiaram com cobertores, comida e bebidas. Foi uma manifestação espontânea – segundo a imprensa da época, todos os jornais diários de 9 de Julho de 1974 destacam a manifestação – que desmobilizou após o governo satisfazer as reivindicações. As palavras de ordem que se liam nos cartazes eram: “O Governo não pode dizer que não tem dinheiro: deu muito a quem tinha muito e pouco a quem tem pouco”, “A injustiça continua – abaixo as percentagens”, “Igualdade com o sector privado”, “Trabalhadores do Estado em luta pelo Pão”, “Queremos pão para os nossos filhos”, entre outras semelhantes.

A luta foi liderada por uma Comissão Pró-Sindicato. O Secretariado da Intersindical apoiou a luta porque visava a revogação do chamado Estatuto do Funcionalismo Público e… pelo direito que assistia aos trabalhadores da Função Pública de criar as suas organizações de classe.

Passados mais de 38 anos, parece que ninguém se lembra que os aumentos salariais – que os trabalhadores exigiram que fossem inversamente proporcionais aos salários, ficando os salários mais elevados sem aumentos – e atribuição do subsídio de férias foram conquistas dos próprios trabalhadores que não olharam a sacrifícios, a organização sindical ainda embrionária foi a reboque, e não se arredou pé de S. Bento até que as exigências fossem satisfeitas. Durante o tempo que medeia entre esta luta heróica, e por isso também vitoriosa, e o tempo presente, as direcções sindicais passaram a fazer o contrário em questão de aumentos salariais, com percentagens constantes para todos os escalões e categorias, alargando o fosso salarial e económico entre trabalhadores.

Esta política sindical explica, pelo menos em parte, que, em Portugal,os trabalhadores sejam levados para manifestações e desfiles para entregar abaixo-assinados dirigidos aos bons sentimentos dos altos dignatários do regime, em vez de enveredarem pela greve prolongada ou greve por tempo indeterminado a fim de ver resolvidas as suas reivindicações, como acontece em outros países. Por estas e por outras que os funcionários públicos, após 38 anos de deleitosa e encantadora democracia burguesa, vão ficar, em média, sem 25% dos seus rendimentos líquidos, situação muito parecida à que tinham no dia 24 de Abril!

Sindicatos e democracia serão necessários? Claro que sim, mas outros e com outras políticas!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

MANIFESTAÇÕES: MUDANÇA DE POLITICA - PORTO e LISBOA

Sindicato dos Enfermeiros Portugueses

Sábado, manifestação em Lisboa e Porto contra o austeritário Orçamento de Estado 2013. O SEP organiza transporte para a manifestação do Porto.

Dia 15, em outro Sábado, nova manifestação em Lisboa, partindo o desfile do Largo de Alcântara para o Palácio de Belém, onde reside o cidadão reformado Cavaco Silva, a quem será entregue abaixo-assinado para que não promulgue o OE-2013 e o envie, presumivelmente, para o Tribunal Constitucional.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Greve por tempo indeterminado em defesa do Serviço de Saúde Público

Foto EFE


Governo PP da Comunidade de Madrid pretende levar a cabo um ambicioso 'programa de reformas da Saúde, ou seja:

1. privatizar inteiramente seis hospitais públicos (cerca de 1.250 camas) envolvendo cerca de 5.500 profissionais de saúde; 2. Externalizar os serviços não clínicos de todos os hospitais públicos (serviços que não pertencem ao “core business” hospitalar) como lavandarias, restauração, serviços de higiene e limpeza, assistência técnica, envolvendo a extinção de cerca de 1.500 postos de trabalho públicos; 3. Encerrar/reconverter antigos hospitais públicos: Instituto de Cardiologia (despromovido, à última da hora, a unidade de apoio sem população de referência), Hospital de La Princesa (hospital escolar) transformado em asilo, Hospital Carlos III, reduzido a hospital de retaguarda; 4.Privatizar 40 centro de saúde dos 400 existentes na região.

A reacção dos profissionais de saúde a este programa de reformas tem sido muito forte, com manifestações, ocupação de edificios do governo e, coisa que os nossos dirigentes sindicais fogem como o diabo foge da cruz, greve por tempo indeterminado.

Los sindicatos afirman que el 90% secunda los paros frente a un 19,89% según Sanidad. Médicos en huelga irrumpen en las jornadas de puertas abiertas del Senado. ("El País")

Un grupo de trabajadores de la sanidad ha protagonizado el inicio de las XV jornadas de Puertas Abiertas del Senado. Se han sentado en los escaños con batas y después se las han quitado para seguir con normalidad la visita. (EFE)

Todo el sector sanitario público (75.000 trabajadores) está llamado a una huelga que ha logrado, por primer vez, poner de acuerdo a los seis sindicatos de la mesa sectorial, tanto los de clase (CC OO, UGT, CSIT-UP) como los profesionales (Satse, de enfermería; Amyts, de médicos, y Usae, de auxiliares de enfermería). Los servicios mínimos equivalen a los de un domingo o festivo, aunque unidades como diálisis, oncología, paliativos, urgencias o trasplantes funcionan al completo. Sanidad subraya que, en lo que va de jornada, se están cumpliendo los servicios mínimos. La segunda semana de movilización en el sector comenzó ayer con el primer día de huelga indefinida convocada por la Asociación de Facultativos Especialistas de Madrid (Afem), que continúa hoy y hasta el jueves, como la semana pasada. "El País"

Ler também Marea blanca en defensa de la sanidad pública

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Santa Catarina: greve dos trabalhadores da saúde



Em Santa Cantarina, Brasil, os trabalhadores da saúde estão em greve há mais de um mês, uma das razões da luta foi a retirada do pagamento das horas nocturnas. Um bom exemplo de luta onde os enfermeiros portugueses (e, já agora, os nossos representantes sindicais, alguns dos quais não devem lembrar-se o que é trabalhar durante a noite, ou o dia) devem pôr os olhos e seguir, logo que o entendam. É que sem luta, e luta determinada e, muitas das vezes, prolongada, nada se consegue.

As mulheres falavam alto, porque, afinal, o ônibus é espaço pedagógico. Discutiam a greve dos trabalhadores da saúde que, em Santa Catarina, já passa dos 30 dias. No dia anterior trabalhadores do transporte público e os bancários haviam feito uma paralisação em apoio aos grevistas, provocando horas de filas e ansiedade, tendo o apoio de estudantes, sindicalistas e militantes sociais. E, no dia seguinte, a imprensa catarinense tocava o pau em todo mundo, alegando que o "pobre" governador Raimundo Colombo, não tinha como dar o aumento "absurdo" que os trabalhadores pediam. Não bastasse isso, ainda vinham os "baderneiros" dos motoristas e cobradores fazer confusão.

O tema era esse. As mulheres discutiam a eterna capacidade da imprensa de distorcer os fatos. Ao longo da greve, passa para a população a ideia de que o "absurdo" é os trabalhadores quererem aumento, e não o fato de um governo deixar a população sem atendimento de saúde simplesmente porque não quer se render à luta. Algumas pessoas viravam o rosto com um olhar fulminante até as mulheres, numa clara atitude de discordância. Certamente acreditavam na imprensa e nas inverdades que cria.

Mas, no banco da frente, uma outra mulher espiava com o rabo do olho, até que não se conteve. "As pessoas não sabem o que a gente passa". Explicou que era trabalhadora da saúde, aposentada há alguns anos. "O que faz os trabalhadores entrarem em greve agora é que foi tirada do salário a hora-plantão, E é isso que dá alguma dignidade ao que a gente ganha. Sem isso, o meu salário, por exemplo, fica 800 reais. Como é que uma família vai se sustentar assim?".

Então, enquanto partilhavam o trajeto, as mulheres foram ouvindo aquela cuidadora de gente. Ela contou que a maioria dos trabalhadores da saúde é obrigada a ter dois e até três empregos para garantir um salário digno. E que isso se reflete no trabalho. "Imagine a gente passar duas, três noites sem dormir, nos plantões. Quanto erros não são cometidos? O perigo que isso é? Não porque a gente seja incompetente, é o cansaço. Fico pensando porque as pessoas não se indignam com isso. Amanhã ou depois elas vão parar num hospital e vão ser cuidadas por nós, trabalhadores esgotados, cansados, aturdidos. Isso sim deveria ser discutido". (...)

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