segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Uma “reunião geral” para se ficar a saber o que já se sabia

Aspecto da manifestação de 29 de Setembro, Lisboa

Na segunda-feira, 1 de Outubro, o SEP fez uma “reunião geral” no CHUC (Hospital Novo) com o objectivo de, entre outras coisas, explicar as implicações das medidas de austeridade nos enfermeiros, realidade bem sentida por toda a classe sem necessidade de medidas explicativas adicionais. No fundo, a intenção era apalpar terreno sobre o estado de espírito dos enfermeiros que ficaram escaldados com o processo de “luta” seguido pelo SEP quanto a aprovação da carreira e da grelha salarial.

Quanto a adesão a possíveis greves, nomeadamente greve geral, entretanto marcada para 14 de Novembro, a opinião (de enfermeiro sindicalizado no outro sindicato) que se ouviu é que não há pachorra para mais greves, incluindo greve específica que o SEP para já não prevê. Por agora e quanto a lutas, o SEP andará a reboque das iniciativas da CGTP, não sabendo ou não querendo ultrapassar a divisão que provocou no seio dos enfermeiros pela sabotagem que fez da greve contra a tabela salarial imposta pelo governo PS/Sócrates, em 2010. A greve geral irá ter adesão por parte da massa dos enfermeiros segundo uma resposta individual contra a política de austeridade do governo e não por uma acção directa dos sindicatos.

Ficamos a saber que há intenção por parte do governo em acabar com as grelhas salariais devido à “falta de dinheiro” e à possível tentação de imitar o que acontece em alguns países da União Europeia em que não há grelhas salarias na Função Pública, mas apenas um limiar mínimo e um limiar máximo, entre os quais se negoceia individualmente o contrato de trabalho segundo as necessidades dos serviços e as características requeridas para o lugar. Por outras palavras, que o SEP não quis nem ousou dizer e que aqui já denunciamos, a intenção deste governo, bem como do anterior e do que vier a seguir se formado pelos mesmos partidos, é pura e simplesmente acabar com as carreiras na FP, à semelhança daquilo que pretende fazer no sector privado que é acabar com a contratação colectiva.

Os dirigentes do SEP acreditam que a austeridade irá acabar num belo dia, não sabendo quando nem como, talvez num belo dia em que esta crise se resolva por si, já que, na sua opinião, “as crises do capitalismo são cíclicas” e quando “os povos se revoltarem”. Só que há uns óbices em relação a estas expectativas pela maneira como são encaradas: um, a presente crise já não é cíclica, mas estrutural e dura desde os meados da década de setenta do século passado, limitando a aumentar ou diminuir durante este tempo; o outro, se for à custa das lutas encetadas e dirigidas por uma CGTP, os povos jamais se revoltarão pela razão de que os dirigentes sindicais têm mais medo do povo, nomeadamente dos trabalhadores sindicalizados (menos 20%) e não sindicalizados, do que a próprias elites, seja a económica ou a política. Pela luta sindical (em particular, por esta) o capitalismo acabará de podre, ou seja, o trabalho será destruído pela própria dinâmica e natureza da acumulação capitalista.

Mais concretamente e voltando aos pontos da agenda da RG. Aos cerca de 20 enfermeiros presentes na “reunião geral”, dos quais meia dúzia afecta aos corpos dirigentes do SEP, foi dada informação sobre a abertura de 20% de postos de trabalho para a categoria de Enfermeiro Principal, mas como as carreiras, as progressões e as revalorizações salariais estão congeladas para o ano e para 2014, e depois será para continuar enquanto o país estiver em crise, não haverá concurso para ninguém. Coisa que também não era novidade. Em relação aos restante pontos agendados: actualização salarial dos enfermeiros em CIT, pagamento das horas complementares em débito e reestruturação global do CHUC.EPE nada digno de nota ou de novo.

Na assembleia a que nos temos estado a referir, houve alguém que, armando-se da oposição embora sendo da cor, questionou a forma como foi convocada a reunião atendendo à fraca participação dos dois mil e tal enfermeiros de todo o CHUC.EPE, tendo ouvido como resposta que “não está quem não quer”. Melhor explicando, sem fazer desenho: não foi de interesse, nem nunca foi, por parte do SEP que as assembleias fossem ampla e largamente participadas porque, caso isso acontecesse, mais facilmente a sua política oportunista seria desmascarada e eventualmente desalojados da zona de conforto sindical. A fraca participação, como a fraca mobilização para as greves e algumas manifestações de rua, é naturalmente intencional.

Pela força das políticas destes governos traidores e vende-pátrias o povo irá necessariamente revoltar-se, quando isso acontecer, e talvez aconteça mais cedo do que se possa pensar, as elites e as aristocracias locais serão inapelavelmente lançadas pela borda fora!

1 comentário:

Anónimo disse...

E o PCTP/MRPP sempre a falar alto e com bom som. E o partidinho que há cerca de uma década V. Exª queria fazer? Não está nem aí? Frustração completa ou simples revolta? O melhor é arranjar umas pistolas de água e começar ao tiro. Si cuida marmanjo!