sexta-feira, 13 de julho de 2012

Os aproveitadores



Os médicos fizeram greve por dois dias em defesa da sua carreira profissional, insurgindo-se contra a contratação de serviços médicos pagos à hora a empresas de trabalho temporário, como acontece igualmente com outras categorias profissionais da saúde, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas ou assistentes operacionais. Para concitar o apoio da opinião pública, as organizações corporativas dos médicos souberam muito bem colocar como principal reivindicação a salvação do SNS, que estaria a ser destruído pelo governo contra a vontade da grande maioria da classe médica: uma manobra de propaganda inteligente e que colheu.

Para aproveitar a embalagem e como a greve até teve sucesso em termos de adesão e não foi hostilizada pelo público utente, e até parece que terá obrigado o ministro a sentar-se à mesa das negociações num simulacro de recuo, o principal sindicato dos enfermeiros veio, muito oportunisticamente, propor greve conjunta de enfermeiros e médicos. Claro que a resposta foi rápida, curta e clara: jamais! A humilhação foi grande, mas para quem não tem grandes pruridos nestes assuntos e o que conta é cumprir com as directivas do partido, não terá havido problema de maior. Para se manter as fracas aparências, então convoca-se uma greve dos enfermeiros subcontratados, já que a maré é de feição.

Parece que esta gente não tem maneira de aprender e gosta de passar por vergonhas e humilhações públicas. Já se esqueceram que foram eles, dirigentes sindicais SEP, que sabotaram, acabando por a desconvocar já depois de se ter iniciado, a greve de luta contra a aprovação da miserável grelha salarial que veio ser imposta pelo anterior governo PS, em Abril de 2010, com a o argumento de cobardia e oportunismo político de que o facto estava consumado e não valia a pena lutar (?!).

Claro que, agora, qual é o/a enfermeiro/a, com o mínimo de brio e de consciência, que vai embarcar em outras iniciativas grevistas propostas pelo SEP sem ter receio de virem a ter a mesma sorte de há dois anos? Que credibilidade tem esta gente para propor o que quer que seja, para mais sujeitando-se à humilhação de colocarem-se à boleia de outros profissionais de saúde que geralmente são responsabilizados por quererem subalternizar em seu proveito a profissão de enfermagem e de, eles próprios, serem co-responsáveis pela degradação do SNS?

Os factos valem por mil palavras, e ainda não se ouviu um protesto claro contra destruição da fraca carreira de enfermagem que foi aprovada no tempo da outra senhora (ministra da saúde) e que, apesar de reles, parece que foi aprovada para não ser colocada em prática efectiva por diversas razões, entre as quais podemos citar a não realização, nem tal se vislumbra nos tempos mais próximos, de concursos para enfermeiro principal, nem pela efectivação dos enfermeiros em situação precária. Parece que a principal preocupação sindical é fazer subir o preço hora, em vez de 4 euros seja 8, dos serviços vendidos pelos modernos negreiros.

Simplesmente, humilhante!

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