segunda-feira, 2 de julho de 2012

As fraudes no SNS e os justiceiros



Não é de agora as fraudes no SNS, que geralmente montam a muitos milhões de euros, e as que são notícia mais não são que a ponta do iceberg. Claro que os intervenientes nas fraudes são os indivíduos que, devido à sua posição dentro do SNS ou com ligação privilegiada, disfrutam de mais facilidades para participarem nos cambalachos e vigarices. Razão para não constituir admiração o facto de médicos ou delegados de propaganda médica estarem frequentemente envolvidos nas ditas, contudo, são na quase totalidade dos casos figuras de segunda ordem. Os tubarões da medicina não são apanhados, nem quem, dentro do SNS, lhes dá a mão. É o que aconteceu, mais uma vez, com as fraudes de falsas receitas que terão atingido várias dezenas de milhões de euros, havendo alguns media a falar de mais de 100 milhões de euros.

Várias perguntas se poderão fazer perante o escândalo das trafulhices:
1- Por que razão as fraudes continuam?
2- Por que não se muda o sistema de comparticipação dos medicamentos? Em muitos casos ficaria mais barato ao Estado comprar os medicamentos e fornecê-los aos utentes gratuitamente, com vantagens óbvias para os dois lados!
3- Por que se continua a privilegiar a medicina curativa e não a preventiva, consumir-se-ia menos medicamentos, assim como cirurgias ou exames complementares de diagnóstico?
4- Será coincidência a divulgação das fraudes quando os médicos anunciaram uma greve para os próximos dias 11 e 12 de Julho?
5- E as outras vigarices que têm a ver com os concursos de serviços, equipamentos, meios de diagnóstico e diversos materiais de consumo e que toda a gente conhece e que nunca são descobertas? Será que haverá outros funcionários do SNS, sem ser médicos, nomeadamente da administração hospitalar e até central, envolvidos nos cambalachos?

Estamos perante uma campanha com intuito de intimidar e, por outro lado, mostrar serviço no combate ao despesismo e ao desperdício do SNS. O pagamento coercivo, agravado com a aplicação de coimas, das taxas moderadoras aos utentes mais relapsos, através das Finanças, revela uma sanha incontrolável no assalto aos bolsos dos utentes. Ao tornar mais difícil a acessibilidade aos cuidados prestados pelo SNS (1,8 milhões de portugueses deixaram de estar isentos de pagamento da taxa moderadora), empurram-se os cidadãos para os serviços privados ou para a privação de cuidados de saúde e dos tratamentos farmacológicos – houve uma diminuição de consumo de medicamentos no ano de 2011. Apesar da crise, a despesa privada por parte dos cidadãos com os cuidados de saúde aumentou, enquanto o SNS é desorçamentado.

Os médicos irão fazer greve nos dias 11 e 12 de Julho, nós enfermeiros devemos estar solidários.

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