terça-feira, 31 de julho de 2012

Para quando a aplicação da nova carreira?

Imagem retirada do blog "Doutor Enfermeiro"

Pode ser uma pergunta a despropósito já que a nova carreira de enfermagem já entrou em vigor, só que os enfermeiros estagnaram e estagnaram a um nível inferior ao que possuíam na antiga carreira. E numa altura em que os sindicatos prometem greves, será altura de tratar do essencial.

O SEP prometeu greve para pressionar o Ministério da Saúde a resolver a questão dos enfermeiros subcontratados a 4 euros à hora, e depois de ver repudiada a sua proposta de greve conjunta com os médicos pelos dirigentes sindicais destes últimos. Quando o ministro da Saúde prometeu a entrada de 750 enfermeiros para os quadros do SNS, o SEP emudeceu, mas depois de saber que os concursos para a subcontratação dos enfermeiros a ganhar menos que as mulheres a dias (e sem desconsideração para as mesmas) se mantêm por legais, a promessa da contestação voltou aos écrans das televisões.

Mas, aproveitando a boleia e partindo do princípio que os nossos dirigentes sindicais (todos eles e não apenas os do SEP)são pessoas bem informadas, gostaríamos de saber o que pensam fazer, e se pensam fazer alguma coisa, perante um relatório da OCDE que diz que «o Governo português deve fazer um “alinhamento de salários com o sector privado”, aumentar o ordenado dos funcionários mais qualificados...» (da agência Lusa)?

Então quando é que nós enfermeiros vamos ter salários de “funcionários mais qualificados”, como aconselha a OCDE?

Quando é que a dita “nova carreira” vai funcionar na prática com a abertura de concursos para Enfermeiro Principal?

Ou será que esta tão maravilhosa carreira irá ser substituída um dia destes, quando a grande massa dos enfermeiros resolver meter de novo mãos à obra, mesmo que para isso tenha de caminhar a arrepio dos sindicatos, sem que tenha funcionada na prática, ou seja, sem que alguma vez tenha havido progressão dentro dela?

Ou será que os sindicalistas ainda não acordaram do “choque" de que "os enfermeiros estão a receber menos que o salário mínimo nacional para cuidar dos portugueses"? Será que os sindicalistas ainda não sabem que enfermeiros desempregados e a trabalhar por subcontratação e a 4 euros à hora é a política cujo objectivo é destruir qualquer espécie de carreira de enfermagem?

Não sabem que este governo fascistóide, no prosseguimento do anterior, visa a destruição da contratação colectiva no sector privado e das carreiras profissionais no sector público?

E do Código do Trabalho que irá vigorar a partir de amanhã, 1 de Agosto, irá baixar o custo do trabalho em 5% e retirar uma série de direitos aos trabalhadores, com o a finalidade última de transformar o nosso país na China da Europa?

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Falemos de corrupção e da Reforma das Urgências



Parte 1:

1) A TROIKA sugere no "memorandum" a VENDA do Negócio da SAÚDE da CGD;

2) O Governo nomeia António Borges para CONSULTOR para as VENDAS dos negócios Públicos;

3) A Jerónimo Martins (Grupo Soares dos Santos) CONTRATA o mesmo António Borges para Administrador (mantendo as suas funções de VENDEDOR dos negócios públicos);

4) O Grupo Soares dos Santos (Jerónimo Martins) anuncia a criação de um novo negócio: a SAÚDE (no início DESTA SEMANA);

5) A TROIKA exige a VENDA URGENTE do negócio da SAÚDE da CGD já este mês (notícia de HOJE).

Vamos ver então a quem será "vendido" o negócio da saúde da CGD. Está nas mãos do Governo provar que o bispo poderá não ter razão... (in http://arrastao.org/2586746.html)

Parte 2:

«Os deputados João Semedo (BE) e Bernardino Soares (PCP) questionaram ontem o ministro da Saúde sobre a escolha do economista Mendes Ribeiro para a liderança do grupo técnico que em Dezembro apresentou um estudo sobre reforma hospitalar, por considerarem que haverá “incompatibilidade de actividades e funções”. Mendes Ribeiro “participa na instalação e criação das clínicas Pingo Doce”, notou Semedo, enquanto Bernardino Soares lembrou que o economista tem “um grande historial de passagem de actividades públicas para privadas”.

Ribeiro “não exerce quaisquer funções em simultâneo”, e, depois de entregar o relatório da reforma hospitalar “desligou-se”, respondeu Paulo Macedo.

Mendes Ribeiro, que administra a Walk’in Clinics, clínicas de conveniência situadas junto a espaços comerciais do grupo Jerónimo Martins, esclarece que não tem “nenhuma função pública”. “Só fiz um trabalho técnico, sem qualquer remuneração”. » (JP 26.07.12)

Parte3:

Walk’in Clinics - Certamente motivado pela agenda de transformação estrutural deste governo, a Sociedade Francisco Manuel dos Santos (Jerónimo Martins) decidiu diversificar a sua actividade e aventurar-se no negócio das clínicas privadas. link Confirma-se que a política de saúde deste governo é uma óptima oportunidade de negócio. (in http://saudesa.blogspot.pt/)

«Soares dos Santos, da cadeia Pingo Doce, é o homem mais rico de Portugal, a sua fortuna cresceu este ano oito por cento, para 2,1 mil milhões de euros, ultrapassando Américo Amorim. O empresário tinha passado do quarto lugar em 2010 para segundo em 2011, depois de ter registado uma fortuna de 330 milhões de euros quando o ranking da revista surgiu, em 2004.

Como se vê há gente para quem a crise sabe a doce e a cada dificuldade que cada português sofre são mais uns euros que mete ao bolso. Desejou a chegada da ajuda europeia, defende a austeridade mas coloca a sua residência fiscal na Holanda para que os seus lucros não sejam tocados nem contribuam para ajudar o país. Aliás o país nada mais é que um mercado e ele o merceeiro para quem o lucro é o único objectivo. Desde o dia 1º Maio que não coloco os pés em nenhum estabelecimento deste individuo e não vai ser com o meu dinheiro que vai enriquecer mais». (in http://wehavekaosinthegarden.blogspot.pt/2012/07/o-merceeiro-mais-rico-de-portugal.html)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Os aproveitadores



Os médicos fizeram greve por dois dias em defesa da sua carreira profissional, insurgindo-se contra a contratação de serviços médicos pagos à hora a empresas de trabalho temporário, como acontece igualmente com outras categorias profissionais da saúde, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas ou assistentes operacionais. Para concitar o apoio da opinião pública, as organizações corporativas dos médicos souberam muito bem colocar como principal reivindicação a salvação do SNS, que estaria a ser destruído pelo governo contra a vontade da grande maioria da classe médica: uma manobra de propaganda inteligente e que colheu.

Para aproveitar a embalagem e como a greve até teve sucesso em termos de adesão e não foi hostilizada pelo público utente, e até parece que terá obrigado o ministro a sentar-se à mesa das negociações num simulacro de recuo, o principal sindicato dos enfermeiros veio, muito oportunisticamente, propor greve conjunta de enfermeiros e médicos. Claro que a resposta foi rápida, curta e clara: jamais! A humilhação foi grande, mas para quem não tem grandes pruridos nestes assuntos e o que conta é cumprir com as directivas do partido, não terá havido problema de maior. Para se manter as fracas aparências, então convoca-se uma greve dos enfermeiros subcontratados, já que a maré é de feição.

Parece que esta gente não tem maneira de aprender e gosta de passar por vergonhas e humilhações públicas. Já se esqueceram que foram eles, dirigentes sindicais SEP, que sabotaram, acabando por a desconvocar já depois de se ter iniciado, a greve de luta contra a aprovação da miserável grelha salarial que veio ser imposta pelo anterior governo PS, em Abril de 2010, com a o argumento de cobardia e oportunismo político de que o facto estava consumado e não valia a pena lutar (?!).

Claro que, agora, qual é o/a enfermeiro/a, com o mínimo de brio e de consciência, que vai embarcar em outras iniciativas grevistas propostas pelo SEP sem ter receio de virem a ter a mesma sorte de há dois anos? Que credibilidade tem esta gente para propor o que quer que seja, para mais sujeitando-se à humilhação de colocarem-se à boleia de outros profissionais de saúde que geralmente são responsabilizados por quererem subalternizar em seu proveito a profissão de enfermagem e de, eles próprios, serem co-responsáveis pela degradação do SNS?

Os factos valem por mil palavras, e ainda não se ouviu um protesto claro contra destruição da fraca carreira de enfermagem que foi aprovada no tempo da outra senhora (ministra da saúde) e que, apesar de reles, parece que foi aprovada para não ser colocada em prática efectiva por diversas razões, entre as quais podemos citar a não realização, nem tal se vislumbra nos tempos mais próximos, de concursos para enfermeiro principal, nem pela efectivação dos enfermeiros em situação precária. Parece que a principal preocupação sindical é fazer subir o preço hora, em vez de 4 euros seja 8, dos serviços vendidos pelos modernos negreiros.

Simplesmente, humilhante!

terça-feira, 3 de julho de 2012

Enfermeiros a preço de saldo na China da Europa

in Henricartoon

3,96 euros à hora - este é o valor que será pago aos enfermeiros contratados a partir de hoje (dia 2 de julho) por empresas de prestação de serviços para trabalharem nos centros de saúde da região de Lisboa e Vale do Tejo, segundo o "Diário de Notícias". Não é inédito, no Rovisco Pais, Tocha-Coimbra, o salário miserável existe, embora tenha havido um recuo por parte da administração, e vão ser pagos a 500 euros/mês os enfermeiros contratos pelo novo Hospital Privado de Gondomar. Não contando com o/as colegas que trabalham à borla, em verdadeiro sistema esclavagista.

É a concretização, na área da saúde, da “China da Europa”!

Foram os Sindicatos dos Enfermeiros a denunciar o caso: feitos os descontos, e se os enfermeiros trabalharem sete horas por dia não receberão mais de 300 euros por mês. A MedicSearch, empresa ligada à multinacional norte-americana Fly2doc, é uma das empresas que venceu alguns dos concursos lançados pela Administração de Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, que se justifica com: "os preços desceram 45 por cento em relação ao caderno de encargos do concurso anterior". Mas mais grave é afirmação do presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo que garantiu desconhecer os valores pagos, acrescentando: "Nós não contratamos enfermeiros, mas serviços de enfermagem."

Ora, se os serviços de enfermagem ficam mais baratos aos cofres do Estado, não ficam mais baratos aos bolsos do contribuinte, porque estes pagam cada vez mais impostos e vêem cada mais degrada a qualidade de uns serviços que já são pagos a montante. Contratar “serviços de enfermagem” e não enfermeiros como se fazia até há algum tempo tem outras vantagens: as empresas negreiras ficam com a diferença entre o que contratualizam e o que na realidade pagam aos enfermeiros, uma margem de intermediação que não é nada pequena, ao caso será o diferencial entre os 3,96 e os 5 euros à hora, mas que pode chegar aos 50%; e para quem faz os concursos, pelo lado do Estado, correm geralmente luvas por baixo da mesa. Mas nestes casos o ministro é cego e não chama a PJ.

Quando aconteceu a Grande Depressão nos anos 30 do século passado, nos EUA, os sindicatos defenderam a redução da duração do dia de trabalho para aumentar os postos de trabalho e assim combater o desemprego galopante. Nos tempos de hoje, que serão em breve bem piores do que há 80 anos, não se ouve os sindicatos a defender o fim da acumulação de emprego por parte de muitos enfermeiros que, a exemplo de muitos médicos, acumulam público com privado e por vezes público com público, porque seria uma maneira de disponibilizar postos de trabalho e combater o desemprego. E seria também uma maneira de tornar a classe mais reivindicativa já que muitos enfermeiros com emprego efectivo no SNS deixariam de ter almofadas protectoras. Mas não. Pela simples razão de que muitos dirigentes sindicais são de igual modo tachistas, acumulando diversos empregos incluindo o de funcionário sindical.

A situação de desemprego ou/e de exploração miserável de muitos enfermeiros é, sem dúvida, da responsabilidade deste governo PSD/PP e do anterior PS, mas os sindicatos, que agora piam tarde e baixinho, não deixam de ter a sua quota-parte já que não acautelaram a situação a tempo e a horas com aprovação de uma carreira digna no tempo certo, que era quando saiu da escola o primeiro enfermeiro licenciado. Andaram mais de 10 anos a dormir na forma, tempo em que nunca se preocuparam com a política dos governos para a saúde, basta deitar uma vista de olhos à imprensa sindical dessa época. O que se passa agora com enfermeiros a ganhar menos que o salário mínimo é a destruição de uma carreira profissional mal parida.

A diminuição brutal dos salários nominais, seja na Função Pública seja no sector privado, irá continuar. Se não nos revoltarmos será o trabalho escravo. Temos de mudar de política e de governo. Urge derrubar o governo fascista PSD/PP!

Ler mais: aqui e aqui

segunda-feira, 2 de julho de 2012

As fraudes no SNS e os justiceiros



Não é de agora as fraudes no SNS, que geralmente montam a muitos milhões de euros, e as que são notícia mais não são que a ponta do iceberg. Claro que os intervenientes nas fraudes são os indivíduos que, devido à sua posição dentro do SNS ou com ligação privilegiada, disfrutam de mais facilidades para participarem nos cambalachos e vigarices. Razão para não constituir admiração o facto de médicos ou delegados de propaganda médica estarem frequentemente envolvidos nas ditas, contudo, são na quase totalidade dos casos figuras de segunda ordem. Os tubarões da medicina não são apanhados, nem quem, dentro do SNS, lhes dá a mão. É o que aconteceu, mais uma vez, com as fraudes de falsas receitas que terão atingido várias dezenas de milhões de euros, havendo alguns media a falar de mais de 100 milhões de euros.

Várias perguntas se poderão fazer perante o escândalo das trafulhices:
1- Por que razão as fraudes continuam?
2- Por que não se muda o sistema de comparticipação dos medicamentos? Em muitos casos ficaria mais barato ao Estado comprar os medicamentos e fornecê-los aos utentes gratuitamente, com vantagens óbvias para os dois lados!
3- Por que se continua a privilegiar a medicina curativa e não a preventiva, consumir-se-ia menos medicamentos, assim como cirurgias ou exames complementares de diagnóstico?
4- Será coincidência a divulgação das fraudes quando os médicos anunciaram uma greve para os próximos dias 11 e 12 de Julho?
5- E as outras vigarices que têm a ver com os concursos de serviços, equipamentos, meios de diagnóstico e diversos materiais de consumo e que toda a gente conhece e que nunca são descobertas? Será que haverá outros funcionários do SNS, sem ser médicos, nomeadamente da administração hospitalar e até central, envolvidos nos cambalachos?

Estamos perante uma campanha com intuito de intimidar e, por outro lado, mostrar serviço no combate ao despesismo e ao desperdício do SNS. O pagamento coercivo, agravado com a aplicação de coimas, das taxas moderadoras aos utentes mais relapsos, através das Finanças, revela uma sanha incontrolável no assalto aos bolsos dos utentes. Ao tornar mais difícil a acessibilidade aos cuidados prestados pelo SNS (1,8 milhões de portugueses deixaram de estar isentos de pagamento da taxa moderadora), empurram-se os cidadãos para os serviços privados ou para a privação de cuidados de saúde e dos tratamentos farmacológicos – houve uma diminuição de consumo de medicamentos no ano de 2011. Apesar da crise, a despesa privada por parte dos cidadãos com os cuidados de saúde aumentou, enquanto o SNS é desorçamentado.

Os médicos irão fazer greve nos dias 11 e 12 de Julho, nós enfermeiros devemos estar solidários.