segunda-feira, 14 de novembro de 2011

É fartar vilanagem!



O antigo Hospital de Cascais está desactivado desde final de Fevereiro de 2010, após ter sido substituído por um novo, mas continua a ter um conselho de administração, composto por dois elementos, que auferem em conjunto seis mil euros ilíquidos, e mais 16 médicos e técnicos de diagnóstico e terapêutica, que o grupo privado que o substituiu não quis, e que continuaram a ser remunerados sem exercerem funções. Refere-se que os administradores têm estado a tratar da liquidação do que resta do património da unidade integrada no Centro Hospitalar de Cascais, entidade que ainda existe, apesar de não ter doentes há muito.

Mas a tarefa de fechar e extinguir ou vender aos privados (Hospital Ortopédico Dr. José de Almeida, em Carcavelos, também fechado e que foi vendido a uma empresa privada do sector) não fica por aqui. Os cortes na saúde com encerramento de centros de saúde ou diminuição da sua actividade levou dezenas de utentes a protestar com a invasão de da sede da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo porque… só na capital há um milhão de cidadãos sem médico de família.

Enquanto, por um lado, se encerra hospitais e se paga a funcionários para nada fazerem ou se malbaratam milhares de euros em horas extraordinárias (caso do neurologista do H. Santa Maria embolsou cerca de meio milhão de euros por se considerar "imprescindível"!), pelo outro, os enfermeiros continuam a ser despedidos ou então obrigados a emigrar, seguindo as palavras provocatórias e reles do secretário de estado da Juventude e Desportos. O Estado, os cidadãos investem milhões na formação de técnicos para que estes depois vendam o seu saber no estrangeiro, contribuindo para o empobrecimento do país. É a lógica de empobrecer o povo português para enriquecer o “país” (os banqueiros e outros ditos “grandes empresários”), como também bem refere o primeiro-ministro de Portugal (ou da troika?).

«Cem enfermeiros do Hospital S. João, Porto, estão a perder o emprego por não verem renovados os seus contratos, denunciou esta terça-feira o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, mas a administração da unidade só confirma nove» - é a notícia. Pergunta-se o que fizeram os sindicatos, não apenas o SEP, no tempo da senhora-doutora-que-até-ouvia-os-enfermeiros no sentido de empregar todos os enfermeiros e acabar com a precariedade? Nada! Agora muito menos por razões que não deviam ser óbvias.

As administrações hospitalares estão muitíssimo pouco interessadas em saber se com a diminuição do número de enfermeiros a taxa de infecção suba ou a qualidade global dos cuidados prestados desça. O que lhes interessa é, como a comissão liquidatária constituída pelos dois administradores do Centro Hospitalar de Cascais, é liquidar e manter o que sobrar a custos baixos. O que está em causa é, como diz a fonte sindical, é o despacho 12.083/2011, de 15 de Setembro, dos ministérios das Finanças e da Saúde, que obriga os hospitais a enviarem às administrações regionais de saúde e esta ao Ministério da Saúde "informação detalhada e casuística" que demonstre a imprescindibilidade de contratação ou renovação de contratos.

E para o que o governo pretende parece que até há enfermeiros a mais no SNS, porque a seguir virão as extinções, as fusões, ou seja, a diminuição da oferta pelo Estado para abrir ainda mais mercado às empresas privadas que operam ou venham a operar neste campo de actividade: a saúde (ou doença, conforme a perspectiva); negócio que já foi apontado como o negócio do século neste jardim á beira-mar plantado. O desemprego pressiona a descida dos salários, ou seja, os custos de trabalho, nem é preciso ser economista ou dirigente sindical para saber isso e perceber os intuitos ocultos deste governo.

Com o roubo de 5% em média dos nossos salários e parte substancial do 13º mês, este ano, e dos mesmos 5% e mais os 13º e 14º meses para o ano, o que levará a uma diminuição de mais de 25% do nosso rendimento, adicionado ao desemprego e precariedade na profissão, são razões mais que suficientes para se provocar uma enorme convulsão social. Mas os nossos queridos sindicatos e mais amados dirigentes, que se vão anti-democraticamente perpetuando no poder (tacho sindical) até ultrapassar a idade da reforma, deveriam dirigir a revolta, contudo, e para manter a tradição, não desejam o fim do “eldorado” dos governos da troika e da dívida soberana e… do tacho sindical (daí a sua “admirável” sobrevivência). Nós enfermeiros teremos que os sustentar a todos, é uma sina! Até quando?...

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