segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A visita do ministro e o suicídio do funcionário



Quando o ministro da Saúde visitava o Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), uma funcionária, assistente operacional do mesmo hospital, suicidava-se. O ministro “ponderou a suspensão da visita”, comunicou o gabinete do dito, mas considerou que o programa (da visita) devia prosseguir tal como estava planeado. O PCP criticou "insensibilidade" do ministro por não ter interrompido a visita. O BE, pela voz do seu deputado João Semedo, disse estar "desagradavelmente surpreendido" pelo mesmo facto. O suicídio à hora da visita do ministro não deixa de ser simbólico atendendo às condições de trabalho dos trabalhadores da saúde, nomeadamente desta classe pior remunerada. As “razões familiares” invocadas pela administração do hospital para justificar o suicídio são falaciosas.

Um trabalhador que se suicida por enforcamento no local de trabalho fá-lo por razões que têm a ver com o trabalho, com as condições em que é obrigado a exercer a sua actividade, a remuneração e outras formas pelas quais esse seu trabalho (não) é reconhecido. Quando as razões são única e exclusivamente familiares o trabalhador, nem teria lógica, suicida-se longe do sítio onde trabalha. Neste caso as diversas razões ter-se-ão potenciado, ninguém consegue isolar os problemas profissionais dos pessoais em compartimentos estanques, eles interagem e o stress foi maior do que a capacidade de resistência desta trabalhadora. O que é que o Hospital do Espírito Santo, até para fazer jus ao nome, faz para prevenir ou aliviar o stress dos seus trabalhadores? Nada.

Seja o patrão-estado ou patrão-privado ou o patrão-igreja católica-misericórdias a política em relação aos trabalhadores é sempre a mesma: sobrecarregar os trabalhadores com tarefas, muitas das quais nem sequer são da sua competência – como acontece frequentemente com as assistentes operacionais que, depois da reestruturação das carreiras da Função Pública (Lei nº 12-A/2008 e Lei nº 59/2008), passaram de “auxiliares da acção médica” a "pau-para-toda-a-colher", diga-se de passagem, com a conivência dos sindicatos; e tratá-los como descartáveis.

A saúde física ou mental dos trabalhadores pouco importa às administrações hospitalares e respectivas entidades patronais que, paradoxalmente, tratam do negócio da prestação dos cuidados de saúde aos cidadãos. E é aí que se encontra o cerne da questão, porque para esta gente o que interessa é o lucro; se não cuidam da saúde dos seus trabalhadores de molde a que estejam aptos e em perfeitas condições de saúde para, por sua vez, prestar bons cuidados de saúde, como é que tais instituições de saúde podem oferecer um serviço de saúde de qualidade?

O suicídio por enforcamento desta trabalhadora simboliza bem o que é e ainda vai ser a política deste ministro e deste governo de direita PSD/ PP /CDS. O que aconteceu a esta trabalhadora acontecerá em breve a este governo (falamos em sentido figurado, claro!).

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