sexta-feira, 22 de julho de 2011

Corrupção na Saúde


Diz o bastonário da Ordem dos Médicos que é raro um médico ser acusado de corrupção ou ser expulso da profissão e que, para além do eventual procedimento criminal, a Ordem está atenta e actua disciplinarmente quando necessário. Ora, a prática não corrobora as palavras do senhor bastonário e quando algum dos praticantes da arte de Hipócrates é apanhado com a mão na massa que é de nós todos, ou seja, nos dinheiros públicos, geralmente vigora a impunidade. Com a fina ironia da escrita escorreita e breve com que nos tem habituado o Prémio Camões de 2011, o poeta-cronista Manuel António Pina, reproduz-se (passe a liberdade) duas recentes crónicas publicadas no “JN” que bem dizem da corrupção endémica existente no seio do SNS.

Adepto sofre

Noticia hoje o JN que três médicos de Centros de Saúde de Viseu são acusados pelo MP de terem prescrito aos seus doentes diversos medicamentos (para o reumatismo, a diabetes e doenças cardiovasculares) de um determinado laboratório a troco de bilhetes para jogos do Benfica.

Isto além, ainda, de "playstations" (provavelmente para jogarem a fazer de treinadores do "glorioso" ), fins-de-semana em estâncias turísticas (pois os adeptos também precisam de entrar em estágio antes dos grandes jogos) e dinheiro vivo (para os cachorros e os amendoins ao intervalo).

Os médicos do SNS ganham mal e ser adepto, mesmo adepto de sofá, sai caro. Mas passar receitas para doenças cardiovasculares a troco de bilhetes para ir à Luz não parece particularmente apropriado. A não ser que as receitas tivessem sido passadas a outros adeptos do Benfica, mas tendo o "negócio" decorrido entre 2005 e 2007, anos em que o Benfica, após ter, em 2005, ganho o campeonato ao Sporting com o celerado empurrão de Luisão a Ricardo (e à bola) para dentro da baliza, não ganhou nada, justificar-se-iam talvez antes receitas de ansiolíticos e antidepressivos.

Os acusados poderão sempre invocar em sua defesa estado de necessidade. O adepto é um "junkie" e não há metadona para a carência de títulos. Eu que o diga que, um dia destes, fiz algo se calhar ainda mais insensato que passar umas receitas: comprei obrigações do Sporting

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Obrigado,sr. ministro

Noticiou o DN que 150 automóveis, alguns "desviados" das equipas de investigação criminal (talvez seja esse o "desvio colossal" de que fala Passos Coelho), se encontram ao serviço exclusivo de 150 chefes da PSP, muitos com um agente para lhes servir de motorista, tudo - automóveis e agentes - pagos (por quem havia de ser?) pelos contribuintes. Segundo o DN, "a Direcção da PSP acha que está tudo bem".
Informa, por sua vez, o "i" - e também deve estar "tudo bem" - que o IPO de Lisboa comprou, em 2004, dois aparelhos de radioterapia por 4 milhões de euros e tem um deles ainda cuidadosamente (espera-se...) armazenado, mandando os doentes para o privado e tendo pago por isso, só entre 2007 e 2009, 10 milhões de euros (por redondo, o preço de mais 5 aparelhos).

Notícias destas surgem todos os dias nos jornais e, do mesmo modo que surgem, desaparecem e não volta a ouvir falar-se delas. Nem delas nem dos inquéritos, investigações & coisas do género a que darão origem.

E é justamente nestas alturas que o meu patriotismo fiscal vem ao de cima e percebo porque é que o pobre ministro das Finanças tem que me ficar com metade do subsídio de Natal. Mais: se pensar ainda, além de nos carros dos chefes da PSP, nos dos chefes da GNR e da PJ e, além de no IPO de Lisboa, em outros hospitais do país, tenho é que estar grato a Vítor Gaspar e ao Governo por não me terem (para já) ficado com o subsídio inteiro.

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