quinta-feira, 14 de abril de 2011

Faltam medicamentos nos hospitais de gestão privada


in "Diário do Minho"

Notícia o “Diário de Notícias” que o Hospital de Cascais está a pedir aos familiares dos doentes para comprar medicamentos que diz não ter disponíveis na farmácia, assim como a pedir aos pais que comprem fraldas e leite terapêutico para os bebés enquanto estes estão internados – diz, por sua vez, o Correio da Manhã.

O Hospital de Cascais é gerido pelo grupo Hospitais Privados de Portugal (HPP), pertencente à CGD que, pela prática demonstrada, prossegue os mesmos objectivos, e pelos vistos com mais afinco, da banca privada. E foi o hospital que, segundo a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS), recebeu mais queixas, 1.220 (mil duzentas e vinte!), em 2010, dos utentes descontentes com os serviços prestados por esta parceria público-privada, que custará ao Estado (dinheiro de todos nós!) 794 milhões de euros.

Quantia semelhante ficará a parceria com o grupo Mello-Saúde, Escala Braga, que gere o Hospital de Braga que, nos últimos tempos, tem sido falado por chantagear os seus funcionários com o objectivo de os obrigar a assinar um contrato individual de trabalho, levando-os a perder o seu vínculo permanente que possuíam como funcionários públicos antes da transferência.

O Hospital de Braga, depois de uma auditoria ao serviço de urgência demonstrar que o número de equipas médicas disponíveis era inferior ao contratado, foi multado em 250 mil euros. A outra multa, no valor de 400 mil euros, está ainda em deliberação e refere-se a acusações de que o hospital terá transferido para o hospital de São João, no Porto, cerca de 700 doentes que estariam abrangidos pelo contrato e com patologias que representariam “uma despesa excessiva”. E a Entidade Reguladora da Saúde está a investigar suspeitas de restrições no fornecimento de medicamentos aos doentes com cancro, em consequência de várias queixas de doentes e de médicos do próprio hospital.

Para quem pensava que a gestão privada dos hospitais ficava mais barata ao Estado pode desenganar-se com os factos que têm vindo a lume; e os enfermeiros que tinham a ilusão de que era mais fácil encontrar emprego podem verificar que não é verdade e que as condições de trabalho e salários são bem inferiores aos da administração pública e por uma razão simples: os grupos privados visam o lucro e lucro a todo o custo, pouco importando que esteja em causa o ser humano e o seu bem mais precioso: vida/saúde. Na economia de mercado, tudo é mercadoria e a lei do lucro impera.

A ministra que está de saída (e ainda bem, ontem já era tarde!), quando se soube da notícia do Hospital de Cascais que exigia aos doentes a compra dos medicamentos, veio dizer que o problema nada tinha a ver com a situação de crise do país, o que não é verdade. São precisamente as parcerias pública-privadas, que vão ficar em mais de 50 mil milhões de euros aos cofres públicos, co-responsáveis pela grave crise financeira do Estado.

No país da bancarrota, o Estado, “cumprindo os seus compromissos militares” terá de pagar 500 milhões de euros (270 milhões destinam-se à manutenção) pela aquisição de helicópteros para as “imprescindíveis” (para não dizer inúteis) Forças Armadas. E esta, hein!

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