terça-feira, 8 de junho de 2010

A CNESE prepara a derrota dos enfermeiros


A CNESE (SEP+SERAM) suspendeu a greve nos dias 9, 11 e 14 de Junho porque, caso não o fizesse, “não haveria outra reunião e os Ministérios/Governo encerravam hoje (dia 7, 2ª feira) as negociações e o projecto de diploma seguiria para Conselho de Ministros” e “a greve assumiria APENAS um cariz de protesto (sublinhado no comunicado da CNESE)”. Ou seja, estes sindicatos (direcções) não teriam o prazer de se sentarem de novo com a ministra e bastou ela bater o pé para irem a correr. Não confiam na força da classe e entendem que as greves só têm “efeito de protesto”. Aqui se revela a impotência destes nossos sindicalistas que têm mais medo das greves que os trabalhadores que representam.

Se a ministra fecha o diálogo, problema dela, e se o faz, ou ameaça fazê-lo, é porque sabe com quem está a falar. Sabe que deste lado o interlocutor é fraco, está disposto a ceder, o SEP e o SERAM querem um “acordo” com o governo a todo o custo e não ousam atacar o Governo do PS. Estão com pressa e querem que a questão da carreira seja arrumada, antes que o Governo seja substituído, e a qualquer preço.

Por outras palavras, ao desconvocar três dias greve, que incluem dois dias de greve dos enfermeiros dos blocos, os “nossos” representantes sindicais conseguem lançar a confusão entre os enfermeiros e enfraquecer esta greve, que poderia atingir uma dimensão imprevista. É fácil de ver que uma greve 4 dias é mais fraca que uma greve de 7 (não se inclui o dia da manifestação) e mesmo a manifestação irá ter menor participação. Quem ganha com esta suspensão parcial? Fácil de ver: o Governo.

Se a classe encetar uma greve com determinação, seja por 7/8 dias, que poderá prolongar-se por 15 dias ou até, e isso é perfeitamente possível, por tempo indeterminado, com “serviços mínimos” reduzidos ao mínimo dos mínimos, podendo chegar á greve quase total nos serviços que funcionam as 24 horas, com certeza que o Governo irá ceder. Mas, ao que parece, os “nossos dirigentes” estão mais assustados que a ministra/Governo. E, por este andar, ninguém nos garante que se irá fazer greve nos restantes dias da semana que vem.

No documento, onde explica as razões da suspensão da greve, o SEP parece mais preocupado com a situação dos enfermeiros chefes e supervisores (cerca de 1700 em todos o SNS) do que propriamente com a situação da grande maioria dos mais de 35 mil enfermeiros que, se a posição da ministra/Governo prevalecer, ficarão a ganhar o mesmo na dita “nova carreira”, NÃO HAVERÁ GANHOS PARA NINGUÉM, excepto para os enfermeiros chefes e supervisores que irão todos preencher as vagas de “Enfermeiro Principal”. É isto que os sindicatos andam a preparar, uma carreira elitista, boa para as actuais chefias, mas má para a grande maioria dos enfermeiros, incluindo os que se encontram no início da carreira. Deve-se perguntar: onde se incluirão os dirigentes sindicais, qual o preço da negociata?

Os sindicalistas da CNESE, afectos à CGTP, não vêem, ou não querem ver, que a força do Governo está apenas na fraqueza dos trabalhadores. Caso estes tomem posições fortes e irredutíveis o Governo será obrigado a recuar e, inclusivamente, a demitir-se, caso a revolta social seja geral. Ora, ficou bem claro no discurso de Carvalho da Silva, na manifestação de 29 de Maio, em Lisboa, que não é propósito daquela central sindical molestar o Governo do PS/Sócrates, e muito menos contribuir para o seu derrube. Preocupam-se mais com o PS não saia do poder do que propriamente com os trabalhadores.

Pelo andar da carroça, esta luta será derrotada pela conciliação das direcções sindicais, que prezam mais o conforto do gabinete ministerial e a amena cavaqueira do que a rua da luta e do confronto. Lá teremos que passar por cima do cadáver do coordenador do SEP. Mas fiquem os senhores dirigentes sindicalistas bem cientes que se houver traição, esta não ficará impune, e que nossa luta irá continuar. Não haverá machado que corte a nossa razão.

2 comentários:

Anónimo disse...

Acho que está a fazer confusão da CGTP com a UGT, porque esses sim não queriam aderir à manifestação de 29/5 para "não derrubar o governo" (palavras do Proença).
Concordo que a nossa luta vai continuar porque não podemos esquecer que estamos discriminados em relação a outros, mas esta não é altura de fazer greves e muito menos prolongadas. Fazer lutas suicídas só no Afegnistão.

Anónimo disse...

caros colegas
sou enfermeira desde 1988 e ganho, pasmem-me 1380 euros
sinto-me desiludida, no limiar das minhas forças
sou socialista e muito me envergonho do que este governo tem feito com a classe de enfermagem
acho que a greve é das poucas armas que temos ao nosso alcance
não quero acreditar que os sindicatos só estão a negociar para beneficiar os enf. chefes (por sinal são os que não aderem ás greves)
sinto que toda a classe está unida, não sei é como nos podemos manifestar sem o apoio dos sindicatos
nunca pensei que aos 22 anos de serviço me pudesse sentir tão trite e com vergonha por ser enfermeira