quarta-feira, 23 de junho de 2010

Para os polícias já há dinheiro!


Antes da manifestação de 29 de Maio, um dos dirigentes sindicais da PSP (Paulo Rodrigues da ASPP) ameaçou o governo com o descontentamento e falta de motivação dos polícias caso as suas reivindicações não fossem satisfeitas. O Governo logo se esqueceu da “crise” e da “contenção das despesas públicas” e disponibilizou de imediato as verbas.

Enquanto o Governo vai gastar 6 milhões de euros em 3 anos para actualizar o início da carreira porque “não há dinheiro”, já tem uma verba bem superior a esta para gastar de imediato com as promoções dos polícias e com a abertura de novos concursos; decisão que foi tomada de um momento para o outro, bastou aos polícias bater o pé!

Em promoção dos oficiais da PSP, o governo vai gastar, para já, 2,5 milhões de euros, alguns deles vão ter um aumento mensal de cerca de 1000 (mil) euros, e parece que não há problemas em desapertar os cordões à bolsa com a promoção para 831 vagas para agentes principais e de 107 para chefes. Quanto aos enfermeiros não há dinheiro para a transição para uma grelha salarial que compense, ao menos, o que foi perdido em cerca de 8 anos de congelamento salarial.

O governo PS/Sócrates usa dois pesos e duas medidas: considera que é mais prescindível um competente e motivado profissional de enfermagem do que um polícia, pela simples razão de que se preocupa mais com a sua segurança do que com o bem-estar do povo português. Os governantes portugueses e a classe a que servem preferem que as suas costas fiquem bem protegidas do que haja um moderno e eficiente SNS para o povo que trabalha; este é, em última análise, quem paga sempre impostos e sustenta governantes e outros ditos poderosos.

Mas os nossos representantes sindicais, nomeadamente os da CNESE (CGTP), preferem as lutas virtuais, vão conciliando e não denunciam estas situações, possivelmente para não beliscar as susceptibilidades das organizações sindicais das polícias que orbitam na esfera daquela central sindical.

E estas lutas de faz de conta ficaram, mais uma vez, bem patentes na “manifestação nacional”, realizada e convocada pelo SEP, no passada sexta-feira, dia 18 de Junho, onde estiverem presentes pouco mais de 100 (cem) enfermeiros, e que desfilaram entre o Campo Pequeno e o edifício do ministério da Saúde. E a adesão à greve ficou-se pelos 65%, enquanto as greves anteriores andaram pelos 90%. È fácil agora aos dirigentes sindicais virem dizer que a classe se encontra cansada e dêem a luta por definitivamente encerrada. Era precisamente o que pretendiam.

É possível que alguns enfermeiros, menos avisados quanto ao modus operandi dos sindicatos afectos à CGTP, tenham ficado desiludidos com a fraca adesão. Mas devemos dizer que esta fraca mobilização foi intencional, não havia a intenção de realizar uma manifestação igual ou parecida com a de Janeiro, ou greve com forte adesão, pela simples razão de que o que o SEP pretendia está conseguido: a actual carreira serve aos dirigentes sindicais, não serve é à grande maioria dos enfermeiros.

Os sindicatos da FENSE desligaram-se da luta, greve e manifestação, porque há que respeitar o “acordo de regime” entre o partido a que estão ligados e o Governo e porque – e esta será a principal razão – não se pode esperar muito de dois dirigentes sindicais já reformados, para mais de um deles que deixou de trabalhar em 1976. Esperamos que a grande maioria dos colegas abram os olhos com a experiência desta luta, frustrada por interesses que nada têm a ver com a classe de enfermagem, e saibam retirar as devidas ilações. Outras estratégias e outros dirigentes sindicais são necessários e… a curto prazo, bem como outro Governo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Governo comprou a paz social


Quando a Fenprof assinou o acordo, no dia 9 de Abril, com o Governo/ministra da Cultura, esta não escondeu o seu regozijo porque representava “um passo muito importante para a tranquilidade nas escolas”, para além de constituir “uma solução equilibrada para os professores…”, solução que nada resolveu de fundamental, daí o descontentamento e a luta dos professores continuarem. No entanto, a tão almejada (pelo Governo) tranquilidade (leia-se: paz social) foi restabelecida.

Com este acordo com os sindicatos dos enfermeiros (que não é acordo, segundo as palavras do coordenador do SEP, porque não foi assinado pelo dito e pelo SERAM, ambos formando a CNESE), o Governo compra, mais uma vez a paz social num sector do estado problemático e sensível, que é a Saúde. Pena que é que estes sindicatos, afectos à CGTP/Intersindical e ao PCP, a vendam tão barato. E é só nesta, e não em outra perspectiva, se pode compreender a desconvocação de uma greve de mais de uma semana (nunca uma greve tão prolongada tinha sido convocada nestes governos do PS/Sócrates!), ficando-se apenas por uma greve de 1 (um) dia, para se poder realizar a dita manifestação. Está mais do que visto, e até pela maneira como foi desconvocada, a prestações (facto também inédito no sindicalismo português!), que esta greve não era para se fazer.

Devemos recordar que, quando o PS ganhou as eleições em 2005, logo o PCP (e o BE) se congratularam publicamente porque tinha sido um partido de “esquerda” que tinha ganho e que a “direita” tinha sido derrotada; mas o tempo veio demonstrar, infelizmente, que o PS a governar é pior que a direita mais empedernida. Devemos lembrar mais uma vez – parece que não é demais – que, quando a actual ministra foi reconduzida no cargo, o SEP congratulou-se em público pelo facto, já que dava garantia de “continuidade do processo”; razão pela qual os sindicatos tinham assinado, ainda antes das eleições legislativas de Setembro, a Carreira de Enfermagem. E é aqui que o acordo está feito, não vale a pena o SEP dizer o contrário, porque o resto são pormenores. Este foi o grande erro.

Estas considerações, refrescantes da memória, vêm a propósito para desmistificar a questão de “em vez de se atacar o Governo, atacam-se os sindicatos”. Foram os sindicatos que vieram dizer que esta ministra era a melhor interlocutora para as negociações com os enfermeiros. Como em tudo, no fim é que se deve fazer o balanço, aferindo pelos factos, e estes mostram que tanto o PS, como a ministra Ana Jorge, são inimigos do povo português e, em particular, dos enfermeiros. Os factos mostram que quem concilia com os nossos inimigos não pode ser nosso amigo, mesmo que não faça isso de forma deliberada; mas o que conta são os resultados e não as intenções, porque de boas intenções está o inferno cheio.

Assim se compreende facilmente que os sindicatos de enfermagem, e em particular o SEP (dirigentes), porque é o maior e se diz de esquerda, não esteve na barricada certa e a sua estratégia esteve errada desde o início, nem que seja pelo simples facto de que considerou amigo quem era visceralmente inimigo dos enfermeiros. E quanto à estratégia, é fácil de ver que esteve, e está, errada, e não há pior cego do que aquele que não quer ver.

Quando começaram a sair os primeiros enfermeiros licenciados das escolas, havendo já algumas centenas deles pela força dos CESE’s, o problema da grelha salarial deveria ter sido logo resolvido, as outras questões poderiam vir depois, mas como o problema não afectava os senhores dirigentes sindicais, que nem o complemento possuíam, deixaram correr o tempo. A altura até era boa, não havia crise nem desculpas do défice excessivo das contas públicas. Mas não houve visão das coisas nem vontade política, outros valores se levantavam.

Quando este governo de “esquerda” PS/Sócrates congelou as carreiras da Função Pública, não se assistiu a nenhum “levantamento popular” dos trabalhadores do Estado, fomentado e liderado pelos sindicatos do sector da CGTP, maioritários, nem sequer a uma simples Greve Geral Nacional, também estendida ao sector privado, condição sine qua non para a eficácia da luta dos trabalhadores do Estado. E muito menos se assistiu à revolta dos sindicatos da enfermagem. E, quando as carreiras foram descongeladas, não se vislumbrou nenhum esforço por parte dos “nossos” sindicatos” para a subida de escalão na velha carreira, bem pelo contrário, foi o silêncio e a cumplicidade, próprios de chico-espertos, com o objectivo de “vamos ceder aqui” para depois sermos compensados na “nova” carreira. Só que a ministra (a tal parceira “amiga”) e o Governo foram mais espertos e acabamos por não subir (valorização salarial mais que justa já que estamos há 8 anos na mesma) nem na velha nem na nova carreira.

Em Janeiro passado, os enfermeiros fizeram uma greve e uma manifestação que surpreenderam os próprios dirigentes sindicais, jamais se tinha feito alguma coisa parecida depois de 1976. Logo as direcções sindicais trataram de convocar uma outra greve, e outra coisa não poderiam fazer perante a irredutibilidade do governo, mas já com menos dias e em vez de uma manifestação ficaram-se por uma “concentração de jovens enfermeiros” frente ao ministério da Saúde: andou-se para trás. Agora, os dirigentes sindicais encheram o peito de ar, e para não serem acusados de conivência com o Governo, marcaram uma greve salteada de cerca de 2 semanas (espremidas davam 8 dias) e uma manifestação nacional, mas mal a ministra ameaçou com o “encerramento” das negociações, partindo do princípio que terá havido alguma vez diálogo a dois, os nossos destemidos dirigentes e representantes, apressadamente e respirando de alívio, desconvocaram a greve, e a prestações, para não levantar suspeitas.

Ao suspender a greve, a CNESE coloca-se, a ela própria, em posição de fraqueza, mostrando que o desejo principal é mais frequentar o gabinete ministerial do que resolver os problemas da classe de enfermagem. Esta greve era para ser levada até ao fim, mas o SEP entendeu o contrário, justificando-se com uma argumentação falaciosa. Dizer que era “uma perda de dias de vencimento” e o “governo encerrava as negociações” ainda mais cedo, então não se compreende que se tenha feito greves, nomeadamente em Janeiro e em Março, e se faça agora 1 dia greve, porque será tudo uma inutilidade – na opinião do SEP, note-se! Para expressar o protesto dos enfermeiros, não será necessário fazer uma manifestação, basta mais uma concentração à frente do ministério ou uma conferência de imprensa.

Mas nós sabemos por que é que a greve foi suspensa e por que é que as greves deste ano foram feitas, simplesmente por duas ordens de razões:

Uma, a CGTP e os seus sindicatos querem que este governo do PS/Sócrates se mantenha o mais tempo possível e que o PSD não vá tão depressa para o poder governativo. Porque toda a gente sabe que a demissão deste governo é tudo uma questão de tempo: ou será demitido por Cavaco Silva, ainda antes das próximas eleições de Fevereiro, ou logo depois caso seja este a ganhar. E enquanto o PS (des)governa, a paz social deverá manter-se a fim de se poder salvar a "economia nacional".

A outra ordem de razões é a de que, embora não pareça, o essencial das questões relacionadas com a nova carreira já está aprovado: uma carreira discriminatória, em que só cerca de 20%, ou nem isso, de enfermeiros é que atingirá o topo da carreira; os chefes e supervisores que não queiram ir para enfermeiro principal terão a valorização garantida, com aumentos de 200 e 300 euros respectivamente, mais do que os enfermeiros em início de carreira (os sindicatos da CGTP sempre defenderam o alargamento do leque salarial), e será uma questão de tempo ver TODOS os actuais dirigentes e delegados sindicais a ficar bem classificados nos concursos para enfermeiro principal e chegarem dentro de pouco tempo ao topo da carreira – esta carreira foi feita à medida dos burocratas sindicais, muitos deles no último escalão de graduados ou chefes.

E uma outra razão se pode ainda apontar, enquadrando-se nesta última ordem: continuar com greves, não se sabendo bem onde e como acabariam, corria-se o forte risco dos actuais sindicatos e direcções sindicais perderem o controlo do processo reivindicativo: outros sindicatos poderão nascer, outros movimentos se constituirão e lá se irá por água abaixo o protagonismo e o tacho sindical de muitos enfermeiros que preferem antes o conforto do sofá dos gabinetes e o prazer dos passeios sindicais ao trabalho rotineiro de enfermaria, já esquecido por muitos deles.

Assim se compreende como o Governo comprou a paz social e os sindicatos a tenham vendido (bem como os interesses da classe) por um preço tão baixo!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Será que estamos perante mais uma farsa negocial?


Estamos a lembrar-nos das negociações entre os sindicatos dos professores e a ministra da Educação de onde saiu o acordo, agora em vigor e do qual muitos professores discordaram, que duraram até depois da meia-noite, mas os jornais, por exemplo o Diário de Notícias, já possuíam o texto final do acordo às 22 horas do dia anterior, hora a que fecham as edições. Ora, estas negociações entre a CNESE e a FENSE e a ministra da Saúde fazem-nos lembrar a farsa das negociações finais dos sindicatos dos professores.

Para quem não saiba, a suspensão da greve desta semana, dias 15, 16 e 17, já estava no sítio do SERAM, este fim-de-semana (ontem consultamos o sítio e a informação já lá estava, mas ficamos com a sensação que não tinha sido posta naquele momento, mas bem antes), ou seja, antes da reunião de hoje, que começou às 10 horas da manhã e que ainda não acabou, estando a FENSE ainda em reunião com a ministra, à hora que escrevemos este post! Já estava decidido a suspensão da greve antes desta reunião de segunda-feira, como tínhamos alertado no post anterior. O boicote da greve era já um facto consumado!

Só se compreenderia a suspensão de 7 dias, dos 8 dias de greve inicialmente previstos, em situação de aprovação de 90% ou mais dos pontos propostos pelos sindicatos. Ora, pela informação veiculada pela imprensa (“JN”, por exemplo) questões importantes, como a grelha salarial para a transição dos enfermeiros, estão muito longe do consenso; só questões secundárias, como a avaliação de desempenho ou a duração e organização do tempo de trabalho, é que terão obtido alguma aproximação entre as duas partes. Assim, também não se compreende que se mantenha ainda um dia de greve, dia 18, 6ª feira, ficando-se sem se saber se é com ou sem manifestação nacional. Ou há acordo ou não há acordo, não pode haver meias-tintas!

E acordo entende-se uma aproximação das propostas do governo/ministérios da Saúde e Finanças às propostas dos sindicatos quanto a questões essenciais; e essenciais, entendemos: contagem do tempo de serviço para a transição; uma transição que tenha em conta o tempo em que a grande maioria dos enfermeiros teve a sua posição remuneratória congelada; compensação adequada para os enfermeiros especialistas; e início de carreira nos 1510 euros, não sendo este o ponto principal, entenda-se!

Quanto a estes 4 pontos, os sindicatos, nas suas contrapropostas, recuaram em toda a linha: o aumento de 490 euros para todos os enfermeiros, já abriram mão. O mesmo para os especialistas e para o início de carreira. Fica a avaliação de desempenho, que o governo irá fazer os possíveis para torpedear. E o rácio para “Enfermeiro Principal” irá ficar longe da posição sindical (inicialmente 40%, mais tarde 35%, agora não se sabe quanto). Como se pode ler na notícia do “JN”, com esta carreira, só com 50 anos de carreira é que um enfermeiro poderá chegar ao topo, ou seja, NINGUÉM e NUNCA. Com esta “nova carreira”, ficaremos bem pior do que estávamos na anterior. E é bom lembrar que estivemos 8/9 anos sem subir de escalão e este tempo foi ao ar, e às direcções sindicais o podemos agradecer!

A luta não terminará. Estamos numa situação muito semelhante à dos professores: uma luta traída, que seguirá… dentro de momentos! Com outras direcções sindicais ou, se necessário, com outros sindicatos!

terça-feira, 8 de junho de 2010

A CNESE prepara a derrota dos enfermeiros


A CNESE (SEP+SERAM) suspendeu a greve nos dias 9, 11 e 14 de Junho porque, caso não o fizesse, “não haveria outra reunião e os Ministérios/Governo encerravam hoje (dia 7, 2ª feira) as negociações e o projecto de diploma seguiria para Conselho de Ministros” e “a greve assumiria APENAS um cariz de protesto (sublinhado no comunicado da CNESE)”. Ou seja, estes sindicatos (direcções) não teriam o prazer de se sentarem de novo com a ministra e bastou ela bater o pé para irem a correr. Não confiam na força da classe e entendem que as greves só têm “efeito de protesto”. Aqui se revela a impotência destes nossos sindicalistas que têm mais medo das greves que os trabalhadores que representam.

Se a ministra fecha o diálogo, problema dela, e se o faz, ou ameaça fazê-lo, é porque sabe com quem está a falar. Sabe que deste lado o interlocutor é fraco, está disposto a ceder, o SEP e o SERAM querem um “acordo” com o governo a todo o custo e não ousam atacar o Governo do PS. Estão com pressa e querem que a questão da carreira seja arrumada, antes que o Governo seja substituído, e a qualquer preço.

Por outras palavras, ao desconvocar três dias greve, que incluem dois dias de greve dos enfermeiros dos blocos, os “nossos” representantes sindicais conseguem lançar a confusão entre os enfermeiros e enfraquecer esta greve, que poderia atingir uma dimensão imprevista. É fácil de ver que uma greve 4 dias é mais fraca que uma greve de 7 (não se inclui o dia da manifestação) e mesmo a manifestação irá ter menor participação. Quem ganha com esta suspensão parcial? Fácil de ver: o Governo.

Se a classe encetar uma greve com determinação, seja por 7/8 dias, que poderá prolongar-se por 15 dias ou até, e isso é perfeitamente possível, por tempo indeterminado, com “serviços mínimos” reduzidos ao mínimo dos mínimos, podendo chegar á greve quase total nos serviços que funcionam as 24 horas, com certeza que o Governo irá ceder. Mas, ao que parece, os “nossos dirigentes” estão mais assustados que a ministra/Governo. E, por este andar, ninguém nos garante que se irá fazer greve nos restantes dias da semana que vem.

No documento, onde explica as razões da suspensão da greve, o SEP parece mais preocupado com a situação dos enfermeiros chefes e supervisores (cerca de 1700 em todos o SNS) do que propriamente com a situação da grande maioria dos mais de 35 mil enfermeiros que, se a posição da ministra/Governo prevalecer, ficarão a ganhar o mesmo na dita “nova carreira”, NÃO HAVERÁ GANHOS PARA NINGUÉM, excepto para os enfermeiros chefes e supervisores que irão todos preencher as vagas de “Enfermeiro Principal”. É isto que os sindicatos andam a preparar, uma carreira elitista, boa para as actuais chefias, mas má para a grande maioria dos enfermeiros, incluindo os que se encontram no início da carreira. Deve-se perguntar: onde se incluirão os dirigentes sindicais, qual o preço da negociata?

Os sindicalistas da CNESE, afectos à CGTP, não vêem, ou não querem ver, que a força do Governo está apenas na fraqueza dos trabalhadores. Caso estes tomem posições fortes e irredutíveis o Governo será obrigado a recuar e, inclusivamente, a demitir-se, caso a revolta social seja geral. Ora, ficou bem claro no discurso de Carvalho da Silva, na manifestação de 29 de Maio, em Lisboa, que não é propósito daquela central sindical molestar o Governo do PS/Sócrates, e muito menos contribuir para o seu derrube. Preocupam-se mais com o PS não saia do poder do que propriamente com os trabalhadores.

Pelo andar da carroça, esta luta será derrotada pela conciliação das direcções sindicais, que prezam mais o conforto do gabinete ministerial e a amena cavaqueira do que a rua da luta e do confronto. Lá teremos que passar por cima do cadáver do coordenador do SEP. Mas fiquem os senhores dirigentes sindicalistas bem cientes que se houver traição, esta não ficará impune, e que nossa luta irá continuar. Não haverá machado que corte a nossa razão.

sábado, 5 de junho de 2010

O que se entende por serviços mínimos na enfermagem?



O Código de Trabalho (CT) é claro no seu artigo 598º, ponto 1: “Nas empresas ou estabelecimentos que se destinem à satisfação de necessidades sociais impreteríveis ficam as associações sindicais e os trabalhadores obrigados a assegurar, durante a greve, a prestação dos serviços mínimos indispensáveis para ocorrer à satisfação daquelas necessidades.” No ponto 2 e no mesmo artigo, pode ler-se: “Para efeitos do disposto no número anterior, consideram-se empresas ou estabelecimentos que se destinam à satisfação de necessidades sociais impreteríveis os que se integram, nomeadamente, em alguns dos seguintes sectores: … b) Serviços médicos, hospitalares e medicamentosos.” Mais: “Os serviços mínimos previstos nos n.ºs 1 e 3 do artigo anterior (artigo 599.º - Definição dos serviços mínimos) devem ser definidos por instrumento de regulamentação colectiva de trabalho ou por acordo com os representantes dos trabalhadores.”

Ora, é exactamente neste ponto que os sindicatos falham, nunca os serviços mínimos na enfermagem foram definidos, sempre foram deixados, pelos sindicatos (saliente-se), ao critério de cada enfermeiro grevista. Daí não nos admirarmos que uma Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) venha “discordar da definição dos serviços mínimos proposta pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses” (Documento dirigido ao Director-Geral de Emprego e das Relações de Trabalho, em 26/05/2010, assinado por J. Matos Mota, vogal do Conselho Directivo).

As razões da preocupação do sr. J. Matos Mota são fáceis de descortinar, é que, com o prolongamento da luta e da determinação demonstrada pelos enfermeiros, não se sabe bem aonde é que poderá ir este processo reivindicativo, então há que colocar trancas na porta. Se, por ventura, o governo estabelecer, uniteralmente, como permite o próprio CT, um alargamento dos já ambíguos cuidados mínimos na enfermagem, devemos agradecê-lo aos nossos sindicatos.

Devemos relembrar – e nunca será demais já que não é primeira vez que o fazemos – que foi pelo facto de não respeitarem cuidados mínimos que os antigos auxiliares de enfermagem conseguiram impor a sua reivindicação de promoção a enfermeiro diplomado. Quando se iniciou a recusa ao trabalho considerado de “urgência hospitalar” é que o governo da altura (o 6º Provisório do dito “Almirante Sem Medo”, se a memória não nos falha) recuou e foi obrigado sentar-se à mesa. E voltamos a dizer: em 1976, havia menos dinheiro do que agora e nem crédito havia, estávamos numa situação bem pior do que esta de “crise global”.

Com a actual definição de “serviço mínimo”, ao critério de cada enfermeiro (e estamos a falar dos colegas que trabalham em serviços de internamento ou de urgência, que funcionam as 24 horas) e em função das características de cada serviço, permite-se (os sindicatos permitem) que a greve seja “furada”, porque acaba-se por se fazer quase tudo, e com vantagem para o patrão-estado, já que gasta menos dinheiro e poderá dizer que até há enfermeiros a mais!

Os sindicatos ao não quererem definir “serviços mínimos” estão a dar mais um tiro no pé, do qual, mais tarde, irão arrepender-se (partindo do princípio de que as actuais direcções sindicais têm sentido crítico para a sua actividade no interesse da classe que representam), porque os serviços mínimos, quer queiram quer não, irão ser definidos, como, aliás manda a lei (CT, artº 599º, pontos 2 e 3).

Na referido documento da ACSS, salienta-se que “A dotação prevista para o turno da noite, em cada serviço, consoante os estabelecimentos e actividades a assegurar, poderá ser insuficiente para garantir a qualidade/segurança dos actos de enfermagem a praticar” (ponto 2). E vai mais longe: “Não cabe à equipa de enfermagem a designação dos enfermeiros que assegurarão os cuidados mínimos a prestar” (ponto 5). Isto quer dizer que, por vontade da ACSS, o número de enfermeiros a assegurar os cuidados mínimos deve ser estabelecido a belo prazer pelas administrações dos diversos estabelecimentos do SNS.

O estabelecimento da obrigatoriedade de “serviços mínimos, nas empresas ou estabelecimentos que se destinem à satisfação de “necessidades sociais impreteríveis”, tem como intenção dar à entidade empregadora o poder de punir o funcionário, que se enquadra num objectivo global de restrição do direito à greve. Os nossos sindicalistas parecem que se esquecem disto, andam muito distraídos em relação a questões importantes. E devemos relembrar – mais uma vez! – que houve serviços nos HUC e no Hospital de Santa Maria, nas greves anteriores, em que os enfermeiros chefes (e dizem-se enfermeiros!) obrigaram que o número de enfermeiros a prestar cuidados mínimos, no turno da manhã, fosse superior ao do da noite, perante o silêncio, aparentemente cúmplice, dos sindicatos.

A greve não pode ser limitada sob o pretexto de que há algum prejuízo dos direitos fundamentais dos cidadãos, pois isso seria o fim da eficácia das greves. Em face destas tentativas de intimidação e da inépcia, ao que parece, dos dirigentes e delegados sindicais quanto a esta questão, nós, classe de enfermagem, devemos intensificar a luta e restringir ainda mais o que entendemos por “cuidados mínimos”. Desistir é morrer e nós não desistimos! Esta greve irá ainda ter mais adesão e as greves e as manifestações dos enfermeiros não ficarão por aqui. Elas irão engrossar a luta mais vasta dos trabalhadores portugueses contra um governo que fez profissão de fé lançar o povo português na miséria jamais vista.