quinta-feira, 1 de abril de 2010

Balanço de uma greve


Ao fim de 2 dias (mais 2 turnos) de greve, nós, enfermeiros, podemos fazer um pequeno e rápido balanço:

1- Há indubitavelmente um espírito de luta por parte da esmagadora maioria da classe dos enfermeiros, traduzido pela forte adesão à greve: perto de 90% (um pouco mais segundo os sindicatos, um pouco menos na opinião do Governo);

2- Ouviu-se falar muito dos 1200 euros para início da carreira (6 mil enfermeiros), mas não se ouviu nem se falou que a reivindicação é 1500 euros; e praticamente ninguém (Governo e sindicatos) falou do reposicionamento, e subsequente actualização salarial, dos restantes 33 mil enfermeiros do SNS;

3- Reivindicações, como tempo de serviço ou rácio de vagas para Enfermeiro Principal, não foram sequer ventiladas, parece que a única e principal reivindicação é o salário para início de carreira; o Governo levou a conversa para este ponto e os sindicatos foram na onda;

4- O Governo usou e abusou do argumento dos 900 euros para início de carreira para o sector privado, aceites pelo SEP, para dizer que não compreendia a intransigência dos sindicatos em não aceitarem os 1200 euros para o sector do Estado;

5- Os sindicatos não usaram de uma estratégia agressiva, nomeadamente no que toca a desmascarar os artigos saídos em alguma imprensa de referência (jornal Expresso, por exemplo) que denegriam os enfermeiros, enquadrando-se numa autêntica campanha de contra-informação, e mais perigosa já que saía de imprensa afecta ao principal partido da oposição;

6- E, finalmente, o tipo de greve, dois dias e dois turnos, dando a ideia de que eram 4 dias; depois de se ter ameaçado com greve de 15 dias nos blocos operatórios, os sindicatos deram uma imagem de fraqueza, que foi disfarçada com a vontade de lutar manifestada inequivocamente pela classe.

Concluindo e resumindo:

À saída desta greve, os sindicatos não deram uma imagem de determinação, de serem capazes de remover montanhas para verem satisfeitas as reivindicações – note-se – por eles elaboradas e apresentadas ao Governo (recorda-se mais uma vez que nem as reivindicações nem as formas de luta foram discutidas e aprovadas pelos enfermeiros em assembleias, como mandam os mais elementares princípios de democracia sindical), ficando-se com a sensação de que assistimos a uma encenação, lembrando o que aconteceu com os professores, cujo acordo final Governo/sindicatos já era conhecido dos jornais algumas horas antes de ser assinado.

Esperamos pelos próximos capítulos da luta (ou encenação) e fazemos votos que as nossas expectativas, por sinal, pessimistas, saiam goradas.

2 comentários:

António Costa disse...

Foi uma greve com grande adesão, o que demonstra que os enfermeiros estão unidos e determinados.
O governo quis passar ideias erradas para desmotivar a luta, mas não teve sucesso. Primeiro com os nº de adesão, depois com a treta do acordo com a APHP, depois a ministra veio dizer que na TVI que não é possível pagar a 6000 o mínimo que a lei estabelece, depois até veio meter os pés pelas mãos e disse que o arrastar das negociações, atrasa aumentos (qdo eles querem começar o faseamento só em 2011), por fim aquela figurinha do Pizarro Sopinha de Massa que mesmo no decorrer da greve, vem dizer e desdizer sobre a presença de enferneiros no CODU. Os dirigentes fizeram por passar a mensagem de quais são as nossas matérias que estão por resolver, mas a manipulação feita pelo governo leva a centrar a questão naquilo que eles querem, passar a ideia que os enfermeiros querem é dinheiro e que o País não pode, COITADINHO. Nos directos que fizeram na RTP, TVI e SIC passaram bem a ideia das outras matérias, mas nas repetições ´cortaram o resto e veio só a questão do dinheiro. Ver: http://www.forumenfermagem.org/forum/index.php?topic=6356.0

Rui Alexandre disse...

Enquanto não formos mais determinados nas nossas exigencias, não chegamos a lado nenhum... O governo vai adiando e recusando as nossas reenvidicações!!!
TEMOS DE PARAR O SNS... e para isso é necessário CORAGEM Srs. Sindicalistas!!!