sábado, 6 de março de 2010

Uma ministra muito amiga...


O Governo vai aumentar o preço dos medicamentos, embora de forma indirecta, com a alteração do regime de comparticipação às farmácias. Serão estas as principais beneficiadas, que verão também a reposição da sua margem de lucro nos anteriores 20%, e a dos distribuidores grossistas em 8%. Estas margens de lucro tinham sido diminuídas para 18,5% e 6,9%, respectivamente, por medida do anterior ministra da saúde, Correia de Campos. Com esta ministra, a médica Ana Jorge, os vendedores de medicamentos em Portugal esfregam as mãos de contentes.

Para disfarçar e manifestando a demagogia habitual, o Governo “socialista” veio com a história de que o novo regime de comparticipação de medicamentos vai fazer poupar aos cofres do Estado cerca de 80 milhões de euros, só que diz metade da verdade. A outra metade é a de que o novo sistema de comparticipação é vago e omisso, deixando nas mãos dos médicos a possibilidade, ou não, de prescrever o medicamento genérico mais barato, e só neste caso é que haverá poupança para o utente (doente/consumidor). Mas como grande parte dos médicos encontra-se fortemente influenciada pela propaganda médica e pelo aliciante dos congressos em paraísos turísticos e outras benesses irrecusáveis, a prática será a continuação de se receitar medicamentos de marca, e aí a conta será mais elevada.

E no caso dos utentes possuírem receita de medicamento genérico mais barato, muitas farmácias não possuem à venda os genéricos mais baratos e, naturalmente, irão querer impingir medicamentos mais caros e assim aumentar os seus lucros. O Objectivo de qualquer comerciante é enriquecer, não vai ganhar 100 se pode ganhar mil, e a prova desta ganância por parte dos proprietários das farmácias está no facto de até agora, apesar da medida ter sido aprovada há já alguns anos, nenhuma farmácia disponibilizar ainda a venda por unidose, sistema que iria evitar desperdício e poupar alguns milhões de euros ao cidadão.

Mas o engraçado desta história de alteração do regime de comparticipação dos medicamentos e do aumento da margem de lucro das farmácias (coitadinhos dos proprietários que estavam a ir à falência!) é o facto da ministra da Saúde, tão parca em reconhecer os direitos dos enfermeiros como licenciados, estar metida neste negócio de favorecimento às farmácias e laboratórios farmacêuticos – não nos esqueçamos que estas multinacionais é que estão a montante de todo o negócio do medicamento e são elas que mais lucram, bem exemplificado na história da “pandemia” da Gripe A –, num esquema de tráfico de influências, entre o presidente da ANF, João Cordeiro e Armando Vara, dirigente socialista, agora revelado através das escutas feitas aos intervenientes do caso “Face Oculta”.

Num país em que a factura do SNS com comparticipações em medicamentos ascendeu a 1586 milhões de euros, em 2009; onde, com estas medidas, as farmácias irão embolsar mais 50 milhões de euros, por ano, e os distribuidores mais 30 milhões; com um modelo biomédico de cuidados de saúde que, por sua vez, incentiva o consumo de medicamentos que, por curiosidade, até são dos mais caros da União Europeia; temos uma ministra muito amiga dos empresários do negócio das farmácias e dos grupos multinacionais farmacêuticos; mas, pelos vistos, muito pouco amiga dos trabalhadores por conta do Estado, que são os enfermeiros. E ficaram os sindicatos todos satisfeitos com a recondução desta médica no cargo de ministra; com “amigos” destes, os enfermeiros não precisam de inimigos!

1 comentário:

Anónimo disse...

Ainda acham que há falta de dinheiro neste pais??? Há falta é de pessoas honestas e capazes de exercerem os seus cargos sem se deixarem corromper!!!