sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Reunião sindicatos-ministra da saúde: o que sairá?


Hoje é o dia D da negociação da grelha salarial/carreira profissional, transições, rácio para Enfermeiro Principal, etc. É a primeira reunião negocial depois da greve de 3 dias e da manifestação que juntou perto de 20 mil enfermeiros, é natural que a expectativa seja grande. O que daí sairá? O princípio de alguma coisa boa para a classe dos enfermeiros ou mais um empatar de tempo?

Tem sido timbre do Governo e desta ministra ir entretendo, com o objectivo de ganhar tempo: primeiro, ainda antes das eleições, foi levar os sindicatos a assinar à pressa uma carreira, que poderá ser desastrosa para nós; depois e agora, ir adiando para, logo que aprovado o Orçamento, apresentar como facto consumado a não inclusão de dinheiro para pagar o “aumento” salarial dos enfermeiros – justificação que não deixará de ser uma falácia.

Esperamos que a pressa não dê de novo em asneira e os sindicatos não assinem de cruz um acordo que, parecendo menos mau, pode vir a revelar-se um colete-de-forças para o desenvolvimento da profissão a curto prazo, não consagrando em termos salariais a realidade uma profissão cada vez mais valorizada em termos científicos, humanos e sociais.

E uma carreira profissional “colete-de-forças” é, no nosso entender, uma carreira em que deixa para trás 80 ou 90% dos técnicos que integra, remunerados como profissionais de segunda categoria, enquanto que para os restantes 10 ou 20% a carreira até será boa, quer em termos de progressão quer em índices remuneratórios. Atenção que é uma carreira deste tipo que o Governo prepara, só nos falta saber até que ponto as direcções sindicais irão na cantiga.

Temos indícios mais que suficientes no sentido de que os sindicatos irão ceder não só no índice remuneratório de início de carreira, mas, mais grave ainda, no tempo desde que os enfermeiros não subiram de escalão, incluindo o tempo (2 anos e 4 meses) em que carreira esteve congelada. A proposta apresentada pela CNESE aponta para uma subida de 490 euros para todos os enfermeiros licenciados, ora é bom salientar que essa quantia é exactamente o que alguns enfermeiros perderam devido ao congelamento da sua subida na carreira ainda em vigor. Tudo o que seja menos desses 490 euros é prejuízo.

É na base deste aumento, igual para todos os enfermeiros, que seremos reposicionados, e não na base do tempo de carreira, ou de serviço para os enfermeiros em contrato a tempo certo. Ora, por que é que os sindicatos não querem que o reposicionamento seja feito nesta base do tempo de serviço? Pela simples razão de que ficaria mais caro para o Orçamento, na generalidade dos casos o aumento seria o dobro dos 490 euros; assim, os sindicatos esperam que a sua proposta, sendo mais baixa àquilo a que temos direito, mais facilmente seja aprovada pela ministra. Só que poderão ter uma surpresa, porque quem pede pouco, geralmente nada leva.

A outra razão, segunda a lógica sindical, é que seria injusto para alguns enfermeiros, se a reposição fosse feita em base do tempo de carreira, porque corriam o risco de ficarem a receber menos. E quem são esses enfermeiros? São os “chicos espertos” da enfermagem que, por diversas habilidades, conseguiram subir mais depressa, chegando facilmente a chefes ou ao topo da carreira (ou categoria). Colegas, geralmente apontados a dedo na instituição onde são conhecidos, de se terem aproveitado de cargos sindicais para subirem na profissão (e na vida), cargos que abandonam quando atingem os seus objectivos. Mal de um sindicalismo em que isto acontece, e na enfermagem os casos não são tão pouco como isso!

Em outros termos, corremos sério risco de vir a ter uma carreira boa para os carreiristas, que existem em todas as profissões, diga-se de passagem; situação facilitada pelo tipo de avaliação que, em breve, será aprovada, à semelhança do resto da Administração Pública, a tal que recompensa o “mérito”. Poderemos estar em véspera de ver aprovada uma carreira feita à medida dos actuais chefes e de alguns dirigentes sindicais, não sendo fortuito o facto de a CNESE ter apresentado na sua proposta de grelha salarial um suplemento de 40 e 50% sobre o índice 21 (1510 euros), respectivamente, para chefes e supervisores que sejam nomeados para coordenar as equipas. Para além do vencimento elevado que já auferem devido ao cargo, receberão mais 490 euros e ainda levam 600 ou 755 euros consoante os casos.

É compreensível que o Governo esteja mais propenso a dar um aumento um pouco mais substancial às actuais chefias do que um aumento razoável, e mais do que justo, à grande maioria dos 38 mil enfermeiros que trabalham para o Estado – uma boa e já conhecida maneira de comprar consciências. Porque devemos também lembrar que o leque salarial na carreira de enfermagem tem vindo a alargar-se, geralmente por proposta ou com o aval dos sindicatos, ao longo dos tempos; assim como os maiores aumentos são feitos entre os últimos escalões em vez de ser nos primeiros, altura em que qualquer enfermeiro mais precisa de dinheiro a fim de orientar a sua vida. O mesmo tem sucedido em toda a Administração Pública, diga-se em abono da verdade, o que é de lamentar.

Somos contra uma carreira para alguns. Reivindicamos uma carreira que permita que todos os enfermeiros possam chegar ao topo, em tempo útil; que o reposicionamento não nos afaste do terminus, como tem acontecido com os professores. Vamos lá ver se a montanha não pare um rato e os sindicatos não sirvam de parteiros ao nado-morto!

3 comentários:

Cogitare em Saúde disse...

Obrigado pela visita , desconheciamos o blog , mas já foi para os nossos links.

Espero que continuem, a escrever artigos interessantes como este. Abraço e sempre que precisarem digam .

Vera e Sérgio Cogitare em Saúde

Cogitare em Saúde disse...

Pediamos para que nos linkassem também ao vosso pois facilita-nos saber os tracknews

Anónimo disse...

Há muito tempo que venho com grande paciencia verificando a incapacidade da CNESE de por um basta nestas palhaçadas apelidadas de negociações. Após a força que os enfermeiros deram nesta ultima manifestação pensei que os nossos sindicatos optassem por firmeza, por lealdade a todos nós que lutamos para que se faça justiça.Já ouço muitos enfermeiros a falarem sobre uma semana de greve e não vejo outra alternativa. Paula